Sede da Cercipóvoa foi “salto maior que a perna”, mas falta gestão mais rigorosa
O MIRANTE foi saber a opinião de utentes e vizinhos da instituição
A construção da nova sede da Cercipóvoa foi um salto maior que a perna, mas a falta de uma gestão rigorosa também não está a ajudar a instituição, que apoia pessoas com deficiência, a sair de uma crise financeira que atingiu já um milhão e 850 mil euros. A empresa que construiu o edifício já avançou com o processo de penhora por falta de pagamento. A população nota que há quase tantos funcionários como utentes e pede mudanças para que a casa não feche portas. Estado e autarquias têm a obrigação de ajudar, defendem os populares.
Luís MonteiroPara Luís Monteiro, comerciante, saber que a Cercipóvoa atravessa dificuldades financeiras é uma má notícia. “Tenho uma grande estima pela associação, conheço pessoas que frequentam a CerciPóvoa e entristece-me saber que as coisas financeiramente não andam bem por lá. Eles prestam uma acção muito vasta e têm um trabalho meritório, trazendo crianças de vários concelhos, Loures incluído”. O comerciante considera que o problema está no excesso de funcionários. “São quase tantos os utentes como os funcionários. Não sei se são todos indispensáveis, mas provavelmente era necessária uma maior atenção da gerência para esse problema. Acho que toda a gente pensa que a CerciPóvoa é uma mais valia da freguesia e que por isso é necessário mantê-la”, remata. Frederico PiresFrederico Pires é vizinho da Cercipóvoa, mas desconhecia as dificuldades financeiras que a instituição atravessa. “Não me espanta dada a crise que por aí anda. Está em todo o lado e as instituições têm de fazer uma gestão cuidada dos seus valores. No Natal fez-se aqui na rua uma recolha de brinquedos e roupas para dar à CerciPóvoa e creio que a maioria ajudou com o melhor que pôde”. Se a situação financeira da instituição não permitir que continue aberta é “mau”, sentencia, quer para a Póvoa de Santa Iria como para as pessoas que lá trabalham e frequentam o espaço. “Devia haver um apoio estatal ou camarário para estes casos porque o trabalho que desenvolvem é verdadeiramente meritório. Ainda para mais se ela não tem capacidade para se manter a funcionar”. Judite OliveiraJudite Oliveira, comerciante, acredita que o trabalho que a CerciPóvoa está a desenvolver é meritório e justifica a ajuda de todos. “Muitas das suas funcionárias são minhas clientes e elas desabafam comigo a realidade negra que as assola neste momento”, opina. “Se a CerciPóvoa fechar portas vai ser o caos. Vamos ter mais umas dezenas de pessoas a mendigar pelas ruas, para não falar dos serviços de apoio que se perdem e os empregos que também desaparecem”. A comerciante já lá organizou uma festa de aniversário e espera que a instituição consiga ultrapassar a crise. “O Governo ou a câmara deveriam ajudar a CerciPóvoa sem qualquer hesitação”, apela.Leonilde PereiraPara Leonilde Pereira, moradora na Póvoa de Santa Iria, a construção das novas instalações foi um salto muito grande para a Cercipóvoa que deveria ter ido com mais calma. “A gestão parece estar a falhar. Há qualquer coisa que não está a funcionar bem porque não se sabe para onde vai o dinheiro e quem fica com ele. Parece-me que a câmara municipal podia ajudar mais do que aquilo que ajuda actualmente. Quanto ao estado, acho que era obrigação dele não apenas ajudar como suportar completamente este tipo de instituições, que têm um trabalho muito meritório”. Se a CerciPóvoa fechar isso será uma ferida aberta aqui na Póvoa de Santa Iria, prevê.Conceição VideiraConceição Videira, vizinha da Cercipóvoa, considera que a situação da instituição é dramática e será uma tragédia para aquelas crianças se fechar portas. “Fala-se em dificuldades financeiras, mas não se fala na má gestão. Para mim algo se passa ali que está a contribuir para um agravar da situação. Também pode ser o reflexo de terem tido mais olhos que barriga na construção das novas instalações. Foram demasiado ambiciosos. Coitadinhas das crianças é que não merecem o que se está a passar e são dignas de toda a nossa ajuda”. A cidadã lembra que CerciPóvoa tem muitos empregados e considera que seria pertinente adaptar a situação à realidade. “Espero que a instituição recupere e tenho a certeza que a população se disponibilizará para ajudar”. Mário MedeirosMário Medeiros mora nas imediações da Cercipóvoa e considera que a resolução do problema da instituição passa por uma gestão mais rigorosa. “Acho que a CerciPóvoa enfrenta tantas dificuldades porque também não está a ser capaz de gerir correctamente as suas contas e a sua imagem. Aquele edifício está mal explorado, para não dizer que foi uma obra grande demais para a capacidade financeira da instituição”. Mário Mederes defende que os dois refeitórios e a piscina poderiam ser melhor aproveitados. “O meu filho frequentou a CerciPóvoa durante vários meses, nomeadamente a piscina, e a mensalidade não era alta, era bastante acessível”. A junta de freguesia devia apoiar mais a instituição, propõe. A venda de parte das instalações ou até a permuta é uma das propostas. “Se perdermos a CerciPóvoa isso será muito mau para toda a população”.Ângelo RaposoÂngelo Raposo vive na Póvoa de Santa Iria há 30 anos e confessa que nunca viu a CerciPóvoa como está agora. “Se fechar vai ser um desastre. Não só porque emprega muita gente aqui da freguesia como também dá guarida e comida aos meninos com deficiência. Eu próprio tenho familiares que tinham lá os filhos e nunca se queixaram da qualidade dos técnicos nem das infra-estruturas”. O morador admite que alguns critiquem a construção megalómana do novo edifício, mas discorda dessa postura. “Acho que fizeram bem ter construído, mesmo com dificuldades, porque o que fizeram foi inovar e fazer um espaço que serve melhor os utentes. Contudo, existe ainda muita falta de publicidade e divulgação da instituição. Muita gente da Póvoa não se lembra da Cerci. A câmara e o Estado podiam ajudar mais”.Felismina MataFelismina Mata, utilizadora dos equipamentos da CerciPóvoa, teme que a instituição corra o risco de fechar portas por causa das dificuldades financeiras. “Uso a piscina porque tenho um problema na coluna. Pago a quota de um euro e mais 27 euros por mês. Não custava nada ao Estado ou às autarquias locais subsidiarem a instituição. Eu optei pela CerciPóvoa porque têm excelentes condições, quer ao nível do pessoal quer das instalações. As empregadas são excepcionais e dão muito amor e carinho a pessoas que até já perderam as suas famílias”. Felismina Mata defende que é urgente ajudar a instituição. “Se ela fechar para onde vão aquelas crianças?”, pergunta. Considera que o novo edifício foi um “salto maior que a perna” mas pensa que se justifica porque tem excelentes condições. “O facto de eu já lá estar a usar a piscina e a pagar todos os meses já é uma pequena contribuição”. Ana MarquesSe a CerciPóvoa fechar portas a situação vai originar consequências graves na Póvoa de Santa Iria. Quem o diz é Ana Marques, moradora na zona, que considera que a instituição tem uma história comprovada de trabalho meritório que deve ser valorizado e apoiado por quem de direito, nomeadamente os governantes. “Estas instituições precisam sempre de muitas ajudas. Não seria má ideia realizar eventos de solidariedade, como recolhas de fundos ou concertos. Especialmente os moradores da Póvoa deviam unir-se para auxiliar a CerciPóvoa. Sei que as coisas por lá não andam bem, fizeram uma sede ambiciosa demais e agora estão encurralados”. A crise agrava os problemas porque as famílias também não têm dinheiro e não pagam o que devem à instituição. “Torna-se uma bola de neve”, sentencia.Guida CunhaGuida Cunha, comerciante, já ouviu dizer na rua que a instituição está a atravessar graves dificuldades financeiras. “A verdade é que podiam fazer uma gestão mais eficiente do espaço e dos recursos humanos. Se a CerciPóvoa fechar isso significará graves dificuldades para a freguesia e sobretudo para as crianças. Aquela associação é a família que muitos deles não têm. As pessoas da Póvoa têm obrigação de ajudar, embora os preços praticados pelos serviços sejam um pouco altos para a maioria das carteiras, sobretudo em tempos de crise”. A comerciante diz que chegou a ser utilizadora do espaço da CerciPóvoa durante alguns meses, mas acabou por desistir por falta de tempo. “As instalações são boas mas se calhar podiam ter ido com mais calma na dimensão do projecto”.
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