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Estudantes estrangeiros transformam Mação numa vila cosmopolita

Estudantes estrangeiros transformam Mação numa vila cosmopolita

Vêm dos quatro pontos do planeta para estudarem arqueologia numa terra pacata do interior

Alugam casas, comem em restaurantes e fazem compras no comércio local. O Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo contribuiu para a “movida” da vila de Mação.

Tentam passar discretas junto à entrada do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, localizado em Mação. Encontram-se a assistir ao segundo dia do programa das IV Jornadas de Arqueologia Iberoamericana, na tarde de sexta-feira, 6 de Março, momentos depois de ter sido inaugurada uma exposição de percurso táctil com réplicas de objectos e manifestações artísticas que torna acessível aos invisuais o acesso a este conhecimento arqueológico. A morena Milene Reis, 29 anos, e a loura Elisa Correia, 27, já conhecem bem a vila. Alunas do mestrado de Arqueologia e Arte Rupestre, são ambas do Brasil e estão a viver em Mação há 6 meses, hospedadas na residência de estudantes localizada no centro da vila. “A adaptação foi fácil, as pessoas foram muito receptivas. A única coisa que estranhei foi o clima porque sou de uma região muito quente e cheguei a Portugal no Inverno que foi considerado o mais frio dos últimos anos”, refere Milene Reis. Na mesma tarde, mas na parte exterior do Museu, Maria da Saudade, 62 anos, estava atenta à confusão instalada com a chegada do autocarro com os participantes destas Jornadas. A habitante de Mação reconhece que a vila ganhou outra vida desde que o museu foi reinaugurado há dois anos. “Às vezes vestem-se assim um bocado para o diferente mas os doutores são todos muito simpáticos” frisa a camponesa. De dois em dois ou de três em três anos, a vila de Mação recebe cerca de 20 novos habitantes. Vêm, por exemplo, do Brasil, de Itália, de Marrocos, da Tunísia, da Índia, da Turquia, da Colômbia ou Espanha por causa dos cursos promovidos pelo Centro de Investigação Internacional criado no Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, responsável em Portugal pelos cursos de mestrado de Arqueologia e Arte Rupestre e de doutoramento em Quaternário, Materiais e Culturas. A vida pacata que se desenrola em Mação é anualmente uma miscelânia de culturas trazidas por gente que não vem para trabalhar nem à procura de melhores condições de vida mas sim para estudar, contribuindo para o ânimo do comércio local. Milene Reis diz que conviver com estudantes de outros países “é um processo de aprendizagem diária”. Mas os estudantes que “invadem” Mação também tentam comungar das tradições da terra. Assistem a espectáculos de teatro e a outras iniciativas culturais. Vão aos cafés e restaurantes. Fazem compras no supermercado ou no mercado semanal. “Isto é muito calmo. Mas é bom porque temos sempre muitas matérias para estudar. Mas também saímos para descontrair um pouco”, ressalva Elisa Correia. Os cursos que estes alunos frequentam inserem-se no programa Erasmus Mundus, destinado a alunos de países em desenvolvimento, e desenvolvidos em Portugal ao abrigo de uma parceria entre o Instituto Politécnico de Tomar e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Envolve as Universidades de Ferrara (Itália) e Tarragona (Espanha) e o Instituto de Paleontologia Humana de Paris (França), por onde os alunos fazem passagens de três meses durante os dois anos de curso, no caso dos mestrados, e três, nos doutoramentos.O presidente da Câmara de Mação, Saldanha Rocha, realça a importância do projecto para uma vila que tem vindo a perder população. Não só pela permanência dos investigadores mas também pela vinda de especialistas europeus para ministrarem os diferentes cursos e cuja passagem por Mação tem vindo a ter reflexos no fluxo turístico.O Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo é dirigido por Luís Oosterbeek, coordenador do Centro de Pré-História do IPT e também ele docente dos cursos de doutoramento e mestrado. “Este é muito mais do que um museu de arqueologia. É um centro de investigação com mais de uma centena de investigadores de três continentes. Não é um projecto fechado sobre si mesmo”, realça o coordenador. Regis Barbosa, 27 anos, Brasil“Tento estar o máximo de tempo em Mação por causa das oficinas e das aulas que são muito interessantes. Estou alojado numa casa que aluguei com outros estudantes. Costumo participar da vida da vila e frequento os cafés e restaurantes. Mação tem o melhor projecto de arqueologia em Portugal. É um refúgio para os arqueólogos mas ao mesmo tempo acaba por se viver um ambiente cosmopolita num espírito de aldeia” Carlos Rodriguez, 36 anos, Colômbia“Estou em Mação desde Outubro. Vivo numa casa alugada com mais quatro estudantes nas proximidades do Museu. Para além de estar a estudar tento estabelecer uma boa relação com as pessoas da vila. Venho de uma cidade com dois milhões de habitantes. Aqui não preciso de carro ou transportes públicos para me deslocar. A comida é muito saborosa, especialmente quando combinam sabores de terra com os de mar. Aqui há tempo para desfrutar as coisas. Para caminhar lentamente e conhecer as pessoas que estão ao virar da esquina. Em Mação há tempo para reflectir e desenvolver o nosso raciocínio”.
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