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Um lisboeta com alma de ribatejano

Um lisboeta com alma de ribatejano

Alberto da Ponte, administrador da Sagres, passa os fins-de-semana em Casével, gosta da festa brava e elogia a “genuinidade” ribatejana

Aparece na televisão a pagar uma rodada de Sagres para celebrar a liderança da marca no mercado nacional. Alberto da Ponte, o 'patrão' da fábrica de Vialonga, está empenhado em manter a massa crítica da empresa para manter os mil postos de trabalho em 2009. Todos os fins-de-semana o presidente da Sagres foge da capital e procura a paisagem bucólica do Ribatejo.

O administrador da Central de Cervejas, Alberto da Ponte, bebe Sagres ou prefere o vinho do Ribatejo?Bebo as duas coisas. Confesso-me um grande apreciador de vinho. Com o meu amigo Veiga Maltez [presidente da Câmara Municipal da Golegã] aprendi a gostar do vinho do Ribatejo e tenho algum na minha garrafeira. O branco da Adega Cooperativa de Tomar, por exemplo. As únicas bebidas alcoólicas que bebo são vinho e cerveja. Não consigo beber fora da refeição. Sou um bebedor moderado. O que faço é tentar alternar. Quando está mais calor apetece uma cerveja…Vinho de Tomar oferecido provavelmente pelo tio, Manuel Bento Baptista...Não. O meu tio - tio da minha mulher, mas que considero grande amigo – não oferece nada a ninguém (risos)…Mas o senhor oferece as águas ao Congresso da Sopa… Exactamente. Mas em nome da empresa. E o meu tio já não tem marca para vender. A marca dele está bem instalada em Tomar porque fez muito pela cidade. Acho delicioso vê-lo com uma saúde e pujança maravilhosas. É uma pessoa que aprecio porque sempre foi exemplo de perseverança e empreendedorismo. Hoje está reformado, mas não está quieto.Qual o melhor prato para ser regado com Sagres?Qualquer marisco, típico das nossas costas. Aí peço meças ao vinho branco. Não há melhor do que uma Sagres fresquinha. Há pratos de carne, como ensopado de borrego, que ficam extraordinários com uma Boémia. Outros requerem de facto um vinho tinto de extrema qualidade. Refugia-se no Ribatejo todos os fins-de-semana?Só não vou quando não posso. Isso aconteceu no fim-de-semana do Carnaval. Fui ao Algarve. Curiosamente tenho uma casa em Sagres. Sítio para onde eu e a minha mulher vamos há cerca de 20 anos. Muito antes de sonhar que iria estar associado à marca...Tem casa no concelho de Santarém, mas identifica-se mais com a Golegã.Sim. Por razões óbvias. Por questões de distância. Estou no Casal das Carvalhas, a três quilómetros da estação de Mato Miranda, em Casével. Fica a sete quilómetros da Golegã e a 26 de Santarém. E na Golegã ainda temos família da minha mulher. Isto sem qualquer animosidade para com o presidente Moita Flores [presidente da Câmara Municipal de Santarém] com quem me dou muito bem e com quem temos protocolo. O centro da cidade foi decorado pela Sagres. Temos 14 estabelecimentos. Percorri um por um com o presidente Moita Flores em homenagem a um investimento razoável que fizemos para harmonizar as esplanadas de Santarém. Muito por iniciativa e dinamismo do presidente. De Santarém também tenho grandes recordações. Era para lá que ia namorar com a minha mulher quando estudava no colégio Andaluz, em 1973. Como se conheceram?Na praia da Nazaré. Eu tinha 16 anos. Ela tinha 15. Namorámos durante cinco anos e estamos casados há 35 anos. E onde namoravam?Onde era possível. De preferência em sítios onde não estivesse o meu sogro (risos). Eram tempos diferentes. O que o fascina no Ribatejo?A genuinidade. Mantém uma traça arquitectónica bastante própria. Depois gosto do temperamento das pessoas. Adoram o ar livre. É frequente ver as pessoas sentadas à porta no Verão. Têm uma alegria de viver contagiante. Na minha quinta estou rodeado de verde. À noite vejo as estrelas e o luar. Tenho ao pé da minha quinta o ‘Manuel dos Calções’. Falamos de futebol e cerveja. Sinto-me em casa.E bebe-se Sagres no ‘Manuel dos Calções’? O ‘Manuel dos Calções’ é um grande vendedor de Sagres. Não faz mais do que a sua obrigação (risos). Foi na Golegã que se aproximou da festa brava?Já tinha alguma proximidade com a festa. Um dos meus amigos no tempo de liceu era toureiro amador. Ensinou-me a gostar dos toiros. Curiosamente, quando comecei a namorar com a minha mulher, influenciado pela família, aprendi a gostar do toureio a cavalo. Sempre que posso vou ver uma tourada. Por conveniência vou ao Campo Pequeno [Lisboa]. Não tanto quanto desejaria. Mas com o futebol acontece o mesmo. Temos que escolher. Para ver futebol teria que dispensar o meu fim-de-semana na quinta e isso é uma coisa que não gosto de fazer.Vive em Lisboa, mas trabalha em Vialonga. É uma zona que o choca em termos urbanísticos?Não necessariamente. Não quer dizer que não gostasse de ver melhorias. Trabalhar em Vialonga tem duas vantagens: não oferece muita dificuldade porque estou no sentido contrário ao movimento do trânsito. Depois acho muito bem que uma empresa de produtos de grande consumo tenha os escritórios principais junto a uma das fábricas. O ‘patrão’ da fábrica de Vialonga Aos dois anos já era adepto do Sporting. Aos 56 anos mantém-se fiel e a empresa que gere é patrocinadora da selecção nacional e da liga de futebol profissional e não profissional. O presidente da comissão executiva da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, Alberto da Ponte, vive na avenida Marconi, junto à praça de Londres, em Lisboa, com Fátima Falcão da Ponte. A mulher que conheceu na praia da Nazaré aos 16 anos e com quem está casado há 35 anos. De lá só saem para a quinta do Ribatejo ou para a casa de Sagres, no Algarve. Não têm filhos. Os três sobrinhos completam os dias de um casal que vive feliz.O gestor da fábrica de Vialonga estudou no actual ISEG entre 1969 e 1974 e tirou um curso de gestão em Harvard. O pai, açoriano, era funcionário no Banco de Portugal, em Lisboa. A mãe, professora de Românicas, tem 90 anos e é natural da zona de Cantanhede.É desde Maio de 2004 presidente da comissão executiva da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas. Já tinha trabalhado entre 1991 e 1995 como administrador delegado da Schweppes em Portugal. É em Lisboa que o presidente da Associação Portuguesa dos Produtores de Cervejeira passa a semana. Viaja por mês duas a três vezes entre Amesterdão e Bruxelas - onde já viveu. Madrid, Malásia e Inglaterra também o acolheram entre 1977 e 1996. O 25 de Abril surpreendeu-o nos Açores durante a lua-de-mel. “O meu pai acordou-me às seis da manhã, oito horas no continente, a dizer que tinha havido um golpe de Estado, mas que ficasse tranquilo porque parecia que estava tudo pacífico”, recorda. A viagem às ilhas ficou gorada porque os aeroportos ficaram fechados. Chegou a Lisboa a tempo da manifestação de 1 de Maio. Foi militante da JSD e continua ligado aos ideais do partido tal como foi concebido por Francisco Sá Carneiro. Gosta de ler e ver futebol na televisão enquanto a mulher pinta. “Tenho muita pena que o dia tenha 24 horas e que tenha que dormir pelo menos seis horas. É uma pena não se aproveitar todo o tempo do mundo”, diz o homem que deu voz ao anúncio: “Joaquim, a próxima rodada é por conta da Sagres!”.A rodada do presidente da SagresNão é todos os dias que o administrador de uma empresa como a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas aparece num anúncio de televisão a dar a cara por um produto. Foi o que fez Alberto da Ponte para celebrar a liderança da Sagres no mercado nacional. Para aparecer no pequeno ecrã - a pagar uma rodada a um grupo de jovens - o administrador não precisou de cursos de representação. E a filmagem ficou bem à segunda rodada - para espanto da equipa de realização. Durante a campanha Alberto da Ponte encabeçou uma autêntica operação de charme em alguns estabelecimentos e fez mais do que aparecer na televisão. A experiência correu de tal forma que o administrador diz a brincar que não põe de lado a hipótese de vir a regressar às luzes da ribalta. “É preciso vencer a crise e o pessimismo tradicional português”Presidente da Sagres, Alberto da Ponte, quer manter a força de trabalho intacta na empresaDefiniu como meta para este ano a manutenção dos mil postos de trabalho. A empresa não foi beliscada pela crise ou é a vertente social aqui reflectida?O mercado das cervejas, das águas e refrigerantes está a ser afectado pela crise. Infelizmente as estatísticas dos últimos seis meses demonstram um decréscimo de 4,5 por cento em relação ao ano passado. Esta preocupação é também reflexo de uma preocupação social. Temos que manter a massa crítica para preservar os postos de trabalho. Esta é uma empresa de capital intensivo. Se não se conseguir manter o volume rapidamente se pode entrar em área perigosa. É preciso continuar a vender muitas garrafinhas.O que não é fácil em época de crise.Isso pode ser feito de duas maneiras: continuando a ganhar a preferência dos portugueses, o que tem acontecido nos últimos tempos, e explorando os mercados internacionais mais e melhor do que até agora. Ninguém pode dizer neste momento qual é a intensidade ou a duração da crise. Todos os dias vamos sabendo notícias. Temos que ser melhores que os nossos concorrentes durante a crise. E estar preparados para entrar em força quando sairmos da crise. Se isso acontecer penso que conseguiremos manter a força de trabalho intacta. Não significa que não tenha que vir a pedir sacrifícios aos trabalhadores por exemplo ao nível de aumentos salariais. Já pode revelar o volume de negócios da empresa?O número mais impressionante é que crescemos 9,9 por cento em vendas, o que foi muito bom. Apesar de termos tido um Verão muito mau. A partir de Setembro e Outubro começaram a sentir-se os primeiros sintomas da crise. E o problema mais grave da crise - a falta de confiança do consumidor. Tanto nos Estados Unidos como na Europa se o consumo privado não aumentar a crise não passa. E os portugueses estão em penúltimo na lista dos mais pessimistas. Pior que nós só os norte-coreanos. Temos que vencer não só a crise, mas um pessimismo tradicional do português que é traduzido no nosso querido fado, mas que tem também os aspectos desagradáveis. A crise também já chegou à casa de quem trabalha. Já lhe chegaram pedidos de ajuda?Não tanto como em outras empresas. Não tenho conhecimento de casos graves que me tenham sido trazidos por trabalhadores. Entendo também que o facto da empresa pagar acima da média nacional também pode ajudar. Nas suas intervenções públicas critica a publicidade que é feita à crise. A crise está a afectar uma pequena parte da população portuguesa muito rica que investiu mal e que agora está a sofrer pesadas menos valias. É consequência de ser empresário. E está a afectar também uma parte significativa da população que está a cair no desemprego. Esses sofrem mais. Quem tem a sorte de manter o emprego tem já a gasolina mais barata e a possibilidade de se ver reduzida a mensalidade do empréstimo à habitação. Se houver confiança pode voltar a retomar-se o consumo. O problema é que o consumidor está assustado. Ao ver televisão e ler jornais fico deprimido, mas tenho que puxar pelo meu optimismo. A empresa é um bom exemplo neste cenário mais cinzento porque tem a intenção de investir em Angola.Aumentámos 70 por cento a nossa exportação para Angola no ano passado. Neste momento prosseguem conversações a um nível muito confidencial para avaliar a oportunidade do grupo Heineken numa unidade fabril em Angola. Há interesse em adquirir as instalações da Cervejas Cintra em Santarém?Não estamos interessados nas instalações. Actualmente o volume está a decrescer e é mais viável fazer investimentos em Vialonga. Só faço votos de que os accionistas da Cintra, com alternativas que não podem passar por nós, consigam aguentar a fábrica e os postos de trabalho. Uma coisa é sagrada: a Sagres é sempre feita aqui [Vialonga]. É aqui que está concentrado todo o segredo da feitura da cerveja. Uma espécie de poção mágica. A empresa tem apostado na responsabilidade social. Faz ainda mais sentido tendo em conta a realidade do meio?Em qualquer comunidade local teríamos esta preocupação. No sector das cervejas há de um modo geral uma preocupação social. É um exemplo a nível europeu porque é o único sector de bebidas alcoólicas que dá exemplos claros de compromissos de auto-regulação. Como se concilia a prevenção rodoviária com um produto associado à sinistralidade?Quando o plano nacional para a redução dos problemas ligados ao álcool foi posto à discussão pública dissemos que não era preciso mexer na lei no que diz respeito ao limite da taxa de alcoolemia. Se for respeitado não há problema. O problema é que o limite não é respeitado. Há duas maneiras de resolver o assunto: com a educação e depois com a repressão. E fiscalização. É uma questão de educação?Em Portugal existem dois problemas diferentes: a condução sob efeito do álcool, embora tenha vindo a diminuir, e a ingestão de bebidas por menores. A lei é clara. Quem quer repercutir uma espécie de lei seca nos vários países da Europa é porque não percebe nada do assunto e está a passar completamente ao lado da realidade. A nossa obrigação é chamar a atenção para isso.Os homens preferem as ‘loiras’Os homens preferem as ‘loiras’. Pelo menos as Sagres no que à cerveja diz respeito. Quem o garante é o presidente da comissão executiva da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, Alberto da Ponte, o administrador da empresa que confirmou nos últimos dois meses do ano passado a liderança no sector.A esmagadora maioria dos consumidores de cerveja, cerca de 80 por cento, são homens, mas a marca vai ser responsável por ter mais mulheres portuguesas a consumir o produto. A diferenciação de produtos tem sido uma estratégia. Cinquenta por cento dos bebedores de “Boémia” são do sexo feminino, uma bebida com um sabor mais adocicado criada para substituir o vinho às refeições. A bebida de Verão Sagres Lima também foi lançada a pensar nas mulheres. No que diz respeito à famosa ‘Mini’, corporizada por uma jovem loura no anúncio da televisão, a palavra concorrência não existe. O segmento é totalmente liderado pela Sagres com uma quota de mercado na ordem dos 80 por cento. “A Mini é desde sempre da Sagres. Desde 1973. Desde os anúncios a preto e branco. Tem sido um sucesso. Já alguém disse ‘Nesta garrafa cabe Portugal’. Está a tornar-se um fenómeno”, confessa Alberto da Ponte.Central de Cervejas vai ajudar famílias carenciadas A Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, com sede em Vialonga, vai ajudar as famílias do concelho de Vila Franca de Xira disponibilizando uma verba de 130 mil euros que será gerida pela câmara municipal. “Este ano, por causa da crise, sugerimos à câmara municipal a canalização da nossa verba anual para apoio a famílias em situação crítica”, referiu Alberto da Ponte. Em anos anteriores a empresa tem disponibilizado o mesmo valor para apoiar projectos de associações do concelho no âmbito de um protocolo de responsabilidade social “O Nosso Compromisso”.O administrador considera que faz sentido ser a autarquia a estabelecer prioridades tendo em conta que conhece melhor as necessidades do meio. “Não podemos canalizar mais fundos, mas os fundos que já temos não os retiremos e punhamos ao serviço de causas que sejam socialmente mais urgentes do que outras”, rematou. Entre os vários projectos e associações que a empresa já apoiou está a Orquestra dos Violinos de Vialonga. “Gostaria muito de um dia ter a notícia de um deles ter integrado numa grande orquestra ou outra coisa parecida. Seria uma satisfação moral muito grande. Teria valido a pena”.
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