Simão Vitorino
47 anos, chefe de serviço de Finanças
Acabei o liceu em Montemor-o-Novo. Estava a tirar o propedêutico quando fui convidado para participar num concurso para ingressar nas Finanças. Avancei e fui seleccionado. O meu primeiro serviço foi em Coruche, onde regressei mais tarde depois de ter feito o serviço militar. Gosto do que faço, apesar de haver dias mais complicados.Ao longo da minha carreira passei por vários serviços de Finanças. Coruche, Machico (Madeira), onde estive um ano, Salvaterra de Magos e Azambuja. Sempre me adaptei e gosto de estar aqui em Salvaterra porque vivo na zona e é um ambiente calmo com campo à volta como eu gosto. Sempre estive relacionado com o campo e gosto da floresta e da agricultura. Salvaterra de Magos é uma terra simpática com qualidade de vida e um ambiente equilibrado. Não tenho muito convívio social aqui na terra mas já fui presidente do conselho fiscal dos bombeiros e foi uma experiência interessante, apesar de haver alguns problemas na associação na altura. Fiz parte da associação de pais da escola. Não me envolvo mais por falta de tempo e por desempenhar estas funções que exigem alguma discrição.A proximidade com os contribuintes, empresários e associações cria algum embaraço. Procuro ser um bom profissional. Ajudo as pessoas a resolver os problemas com os funcionários do serviço, mas procuro cumprir escrupulosamente a lei. Muitas vezes lidamos com situações muito delicadas que nos causam sofrimento por conhecer as pessoas, mas não podemos fazer nada por elas, a não ser explicar a melhor solução.Há pessoas que já viveram bem e hoje até têm a casa e parte dos salários penhorados. Alguns deixaram andar as situa-ções até ao limite e as dívidas têm um efeito de bola de neve e chegam a um ponto em que já não há solução. Por vezes emociono-me com histórias de vida muito complicadas. Quem está nestes lugares tem de ser profissional e manter o afastamento possível.Nos meus tempos livres gosto do contacto com o campo. De caminhar e andar de bicicleta para manter a forma física. Procurar ar puro é o meu passatempo preferido, mas também gosto muito de comer e faço parte de um grupo que está a organizar a Confraria da Enguia em Salvaterra de Magos. É uma forma de nos juntarmos, de conviver e de dar a conhecer os pratos de enguia.Nunca tive nenhuma situação de falta de respeito no serviço. Por vezes alguns contribuintes levantam a voz, mas depois acalmam-se. Os serviços de Finanças são um dos locais onde as pessoas descarregam a sua revolta porque sentem que são obrigados a vir aqui, quase sempre, para tratar de assuntos que mexem com a sua vida. Os funcionários estão preparados para lidar com isso e procuram ter uma relação cordial com os contribuintes.Ninguém gosta de pagar impostos, mas é um dever cívico. O problema é que muitas vezes os contribuintes dizem que não observam o retorno do dinheiro dos seus impostos porque têm dificuldades no acesso à saúde, à educação e à justiça. As pessoas devem pensar que se todos pagarem impostos, pagamos muito menos e há mais justiça fiscal. A economia paralela ainda tem muito peso em Portugal. As associações e os clubes têm de cumprir as suas obrigações fiscais como qualquer contribuinte. Para evitar comprometer o seu futuro. Deve haver uma formação dos dirigentes e talvez um regime especial para as associações sem fins lucrativos. Temos sensibilizado os dirigentes que não podem ter actividade sem cumprir a lei. Nelson Silva Lopes
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