Nasceu em solo britânico mas aprendeu a consertar sapatos à portuguesa. Richard Furtado mantém-se adepto da cosedura do calçado com uma costura interna, que fica coberta pela sola do sapato, invisível, mesmo para os mais desatentos. O “sapateiro do boneco” - como ficou conhecido ao fim de 23 anos a dirigir uma loja em Vila Franca de Xira. que tem um sapateiro mecânico na montra - reconhece na técnica portuguesa uma “forma superior de consertar o calçado”. A loja, para a qual durante anos “os filhos desviavam os pais para ver o boneco mecânico” continua a marcar a paisagem comercial da cidade. Licenciado em Linguística, o sapateiro veio viver para Portugal depois de conhecer a esposa, Isabel, e optar por uma nova profissão. O jovem licenciado trabalhara em organizações não-governamentais e decidira que “não ia criar os filhos em Londres”. A aprendizagem do trabalho de sapateiro, com o pai da esposa, permitiu-lhe perceber que “todas as profissões têm uma certa poesia”. Richard Furtado garante que no seu trabalho “todos os dias surge algo diferente”. No dia anterior foram os “patins” dos técnicos de manutenção de postes de alta tensão, utilizados para subir até perto dos cabos eléctricos. Desta vez, são capas de sapato de senhora e poupa-solas para sapatos de homem. Richard Furtado diz ser capaz de reconhecer o trabalho que fez sem grande dificuldade. “Nas meias solas, noto logo”. Trabalhar com a esposa no mesmo espaço foi uma opção para quem precisava de seguir com um negócio em que o atendimento ao público é importante. “Já não sabemos estar separados”, conclui o sapateiro. Ricardo Leal Lemos