uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Instalação da câmara no Vila Franca Centro pode ser salvação do espaço

Comerciantes acreditam que podem ganhar clientes, mas há quem duvide do negócio

Lojas a fechar e clientes que se contam pelos dedos. É este o cenário do Vila Franca Centro que há 14 anos fez furor com bowling e salas de cinema. A população aponta o dedo à má gestão do espaço. A câmara quer arrendar o espaço para concentrar ali os serviços da autarquia (ver texto nesta edição). A maioria admite que a ideia é benéfica para os cidadãos e pode trazer mais comerciantes ao espaço. Mas há quem duvide do negócio tendo em conta que os valores da renda a pagar pelo município não são conhecidos.

Ana Saldanha45 anos, comerciante, Vila Franca de XiraAna Saldanha, 45 anos, é funcionária de uma loja de relógios no Vila Franca Centro. Na sua opinião a abertura de outros espaços comerciais, como o Campera ou o Vasco da Gama, e a falta de mais lojas de marca explicam o afastamento da clientela. “São as marcas que chamam as pessoas ao centro comercial e aqui só existem duas ou três e não são aquelas que as pessoas procuram. Conhecia pessoas de Alenquer e da Castanheira do Ribatejo que vinham, mas que já não vêm porque aqui não há a oferta”, justifica. Defende a instalação de um supermercado de uma marca de referência e a criação de uma área comercial com lojas de renome para atrair mais pessoas. Concorda com a possível ida dos serviços camarários para o centro. “Pelo menos aproveitavam o espaço. Seria uma forma de potencializar o comércio daqui. É preferível do que estar a maior parte das lojas fechada”.Luís Fernandes54 anos, comerciante, Vila Franca de XiraAs pessoas não têm dinheiro e a pouca oferta de lojas também não ajuda o Vilafranca Centro. Quem o diz é Luís Fernandes, 54 anos, natural de Loulé a residir há mais de trinta anos na cidade. O funcionário de uma loja de artigos desportivos diz a cidade perdeu mercado. “Num raio de 20 quilómetros vinha tudo comprar aqui. Este centro quando abriu, há 14 anos, tinha um movimento que era uma loucura. Depois veio o centro comercial Vasco da Gama, o Freeport de Alcochete, o Campera e a mudança para o euro. Tudo piorou”, justifica. O comerciante lamenta que a administração não tente que as coisas mudem. “Há um jogo de interesses. Houve algumas lojas de franchising que quiseram vir para aqui e não deixaram. Depois fecharam o cinema e foi o golpe de misericórdia”, revela. Já ouviu dizer que a câmara vai ocupar parte do centro e acha que será um bom negócio. Décio Santos43 anos, recepcionista, Vila Franca de Xira “Este centro tinha todas as condições para ter muita clientela mas não tem. Investiu-se aqui tanto dinheiro e os cinemas acabaram. É uma pena.” Quem o diz é Décio Santos. O vilafranquense, 43 anos, recepcionista, admite que a administração falhou ao não colocar lojas de marca para chamar os clientes. “Este centro não acompanhou a evolução dos tempos com novas ofertas e parou”, diz o recepcionista. Considera que os grandes centros comerciais, como o Vasco da Gama ou o Campera, são também responsáveis pela “morte” dos pequenos centros comerciais. A construção de um supermercado de renome no rés-do-chão e não no primeiro andar, como já aconteceu, seria uma forma de chamar mais clientes para outras compras, defende. Não sabe se será um bom negócio para a câmara adquirir o edifício pois considera que existem “números bastante elevados em jogo”. Para os munícipes seria bom centralizar os serviços num local. Ana Ferreira37 anos, empresária, Alverca do RibatejoAna Ferreira, 37 anos, empresária lisboeta, mas a morar em Alverca do Ribatejo há quatro anos, considera que o problema não está no shopping mas sim na cidade. “ Vila Franca de Xira neste momento é uma cidade comercialmente morta”, afirma. A empresária refere que as apostas feitas falharam e por isso as pessoas não procuram a cidade como um núcleo comercial. No que diz respeito ao Vilafranca Centro tem uma opinião bem clara. “Se vamos a um centro comercial onde porta sim porta não há lojas fechadas acabamos por não voltar lá uma segunda vez. Neste momento não há nada que chame as pessoas”, refere. Sugere a instalação de lojas de interesse geral como um supermercado de referência ou uma farmácia como forma de potenciar o espaço. Quanto à possibilidade da câmara adquirir parte do edifício e centralizar lá os serviços municipalizados tem dúvidas que seja um bom negócio para a autarquia pois não tem certezas. Tudo depende dos valores envolvidos. Para os comerciantes seria bom.José Leal 51 anos, empresário, Vila Franca de Xira“Faltam motivos de atracção. Cada vez há mais lojas a fechar e as pessoas não vêm cá. O espaço está mesmo retrógrado e não evolui. Está completamente degradado”. O desabafo é de José Leal, 51 anos, proprietário de um restaurante no Vilafranca Centro. “Será que querem que as pessoas fiquem saturadas e que vendam as lojas por um preço menor para depois fazerem um negócio mais lucrativo?”, questiona. Defende que a administração deve comprar todas as lojas, fazer as obras que nunca foram feitas, transformar o espaço numa galeria comercial e depois alugar os espaços com regras e um estatuto, como têm outros centros comerciais. Concorda que a câmara centralize os serviços municipais no centro. “É bom para a câmara e para a população porque vai a um sítio e resolve os problemas. E em parte também era bom para os lojistas apesar da entrada e da saída ser pelo exterior”, assegura. Adérito Ribeiro66 anos, reformado, Vila Franca de XiraAdérito Ribeiro, 66 anos, ainda se recorda de quando o centro abriu. Por ser novidade atraiu muitos visitantes. Mas hoje o Vila Franca Centro vive um dos seus piores momentos. Para Adérito Ribeiro as razões são claras. “As dificuldades de estacionamento, a insegurança que se começa a sentir em Vila Franca de Xira e a abertura do parque das nações. “Quando lá vou vejo muita gente daqui a passear”, conta o reformado da CP. Não acredita que a administração tenha procedido erradamente ao não incluir lojas de marca no espaço. “Será que Vila Franca de Xira tem uma praça capaz para esse tipo de lojas?”, questiona. Já ouviu dizer que a câmara se quer instalar em parte do edifício e aplaude a iniciativa. “Em vez de andarem de um lado para o outro as pessoas tratam de tudo no mesmo sítio. Quanto ao negócio propriamente dito adianta que “compete à câmara avaliar os prós e contras” em termos económicos.Nara silva23 anos, estudante, Vila Franca de XiraNara Silva, 23 anos, estudante, trabalhou durante muito tempo no Vilafranca Centro e sabe o “quanto é mau não ter ninguém”. Não tem dúvidas em nomear os motivos do insucesso. “Aqui não há lojas de marca que cativem as pessoas como uma Zara. São os jovens que mais compram e se aqui não há preferem ir ao Vasco da Gama”, refere. Considera que o cinema era uma mais valia e que levava ao shopping muita clientela. A administração também é culpada no entender da estudante. “Não investe o suficiente, não colocou lojas de marca e deixou que o centro se fosse desactualizando ao longo dos anos. E isso era trabalho deles”, salienta. Para salvar o espaço a jovem defende que se façam contratos com as marcas de referência e que se instale um supermercado. A câmara faria um bom negócio em adquirir parte do recinto para centralizar os serviços. Os munícipes também ficavam a ganhar porque não tinham de andar de um lado para o outro e para os comerciantes seria uma forma de terem mais clientes, defende.Dalila Gana18 anos, estudante, AlhandraDalila Gana, 18 anos, é natural de Alhandra e de vez em quando frequenta o Vilafranca Centro. “Não tem todas as lojas a que as pessoas gostam de ir. Muitas fecharam e há outras alternativas como o Vasco da Gama que não fica assim tão longe”, refere. Defende a reabertura das salas de cinema e recorda que muitos jovens de Alhandra, Alverca, Carregado e de outros locais procuravam o espaço pelo shopping. Quando fechou “foi o descalabro” e perderam-se muitos clientes. Considera que a administração podia ter feito um pouco mais. As rendas são demasiado elevadas muitos empresários preferem instalar-se noutros espaços comerciais. A estudante não sabe ao certo se será um bom negócio para a câmara adquirir parte do espaço para ali instalar os serviços municipalizados. Considera, no entanto, que seria uma forma de dar movimento ao centro. Ângela Leal 45 anos, empresária, Vila Franca de XiraÂngela Leal, 45 anos, proprietária de uma clínica de estética e perfumaria no Vilafranca Centro, acredita que as lojas do espaço comercial de Vila Franca de Xira foram fechando portas porque a crise chega a todos e as rendas estão caras. O incumprimento de horários e o mau atendimento que algumas lojas fazem levam a que o espaço não tenha mais procura. Defende uma mudança na administração que deveria ter inovado e actualizado o centro com lojas de prestígio logo desde o início. “Não o fizeram, não o estão a fazer e não percebo o porquê”, diz indignada. Um supermercado, uma farmácia e as lojas “âncora” poderiam ajudar a rentabilizar e dinamizar o centro. Concorda que a câmara se instale no local. “Mesmo que a porta seja fora pode ser que o cidadão aproveite para dar uma volta no centro e fazer uma compra”, atira. Pedro Mourisco24 anos, estudante universitário, Vila Franca de XiraPara o estudante de economia, Pedro Mourisco, 24 anos, a forma como o centro comercial está concebido não favorece o negócio. “O desenho e a inovação foram esquecidos ao longo dos tempos. O centro não evoluiu”, assegura. Considera que a administração perdeu boas oportunidades para dinamizar o espaço quando descurou a instalação de “lojas âncora” e defende o regresso do cinema, mas com salas decentes. Sugere que o parque de estacionamento seja transformado em zona de restauração já que tem uma bela vista sobre o rio Tejo. Transformar a zona do bowling e do bingo em lojas de material electrónico, um supermercado de referência ou um parque de divertimento, são ideias que deixa como forma de dinamizar o espaço. “Não seria um bom negócio para a câmara. Não se justifica que a autarquia vá utilizar um espaço quando ela própria o pode construir”, garante o jovem. Acrescenta que isso só irá trazer mais complicações ao nível do estacionamento os serviços centralizados na cidade.

Mais Notícias

    A carregar...