Música do mundo ao som de canas rachadas
Grupo de Azambuja embarcou em projecto alternativo
Som de guitarra portuguesa, laivos de acordeão e um toque de canas rachadas. Em Azambuja nasceu um projecto de música do mundo. Vocalista feminina procura-se: para dar voz a uma coisa completamente diferente.
Tudo começou com um acorde trauteado para um gravador digital. E aquilo que deveria ser um projecto de fado convencional transformou-se numa coisa completamente diferente. Um projecto de música do mundo com laivos de guitarra portuguesa, acordeão e um toque alternativo de canas rachadas – um instrumento conhecido por dar ritmo às músicas dos grupos etnográficos. É em Azambuja que o grupo “Azetni – Canas Rachadas” se reúne. À noite depois do trabalho mergulham num projecto experimental. O último ensaio decorreu no espaço da poisada do campino. As canas rachadas guardadas sobre as cadeiras de madeira. Ao lado da viola baixo de Pedro Teixeira, um músico de pop, rock e funk. Em noite de ensaio Gil Faria é substituído na percussão por João Custódio. Hélder Lopes na viola. O acordeão de Gustavo Edgar é o último a chegar para dar o toque final ao grupo embalado já por laivos da guitarra portuguesa de António Dias. O jovem que domina a guitarra tem 22 anos e é gestor de seguros. Por um fio tem a conclusão do conservatório de música, mas enquanto a oportunidade e acabar não chega dedica-se à música. Não fosse a mãe a fadista Fátima Regateiro.Miguel Ouro é o pai do projecto “Azetni” que nasceu em 2008. Já embarcou em vários grupos de música portuguesa, mas sempre acreditou que poderia construir um projecto com sonoridade diferente baseada no tradicional. Depois de ajudar a dar corpo a grupos como “Barba de Milho”, “Canto de Azambuja”, “Pilha Galinhas” e “Ronda da Vila”.No grupo está o melhor tocador de cana rachado do mundo. “Tenho a certeza porque não encontrámos outro que tocasse com os joelhos”, garante com humor Miguel Ouro. A cana de João Mota, 36 anos, motorista de matérias perigosas, veio da Índia e tem uma consistência mais forte do que as simples canas da ribeira. O instrumento tem 21 anos e foi concebido pelo homem que ensinou João Mota tocar - João Amendoeira. A sua pauta é uma cábula que nenhum músico profissional conseguiria ter como guia. Nas canas rachadas João Mota é acompanhado por Jorge Santos e Miguel Ouro que também dá voz.Vocalista feminina procura-se para o grupo de oito músicos embalados num projecto de música étnica. “Queremos alguém responsável e de preferência que cante bem”, apela o impulsionador da formação. Em palco vestem branco, preto e azul, chapéus e gravatas. Ao estilo dos anos 20, 30 e 40.Miguel Ouro, animador cultural de profissão, é o autor das músicas e de quase todas as letras. Em duas canções tem o toque de duas amigas – Judite Álvares e Inês Ramos. É para o gravador digital que vai trauteando músicas e letras que dão corpo ao projecto. : “Circo Espanhol”, “Fado Russo”, “Na curva do Tempo”, “Vovó Chica morena”.Ao som do sapateado – influências que beberam do folclore - ensaiam um fandango jazzístico do sertão e improvisam com canas rachadas. Na hora de subir ao palco, para mais um ensaio, as diferenças entre os amantes (amadores) da música e os profissionais desvanecem para num fado negro da cor: “Pela rua quero ir e sei de cor quem vou encontrar/ desta velha de roupa incolor ao puto a cantar/ à Maria que olha com desdém/ à saia da mãe. Da noite ao dia/ da dor à alegria/ ao sonho que quer vencer. É momento, é rima, poesia da letra que o compõe. É o fado que faz viver”.
Mais Notícias
A carregar...