O cantoneiro que cuida da terra onde nasceu
Paulo Santos zela pelas bermas e sumidouros de Vila Franca de Xira
Começou a trabalhar como cantoneiro de enxada na mão, mas fez da roçadora eléctrica ferramenta de trabalho. Diz conhecer todos os caminhos da freguesia em que nasceu.
Levanta-se cedo todos os dias e pelas 08h30 já veste a roupa de trabalho nas oficinas da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Paulo Santos, 41 anos, cantoneiro, garante que “gosta de fazer tudo” na manutenção das ruas e valetas da freguesia onde nasceu e não esconde o orgulho na melhoria das suas condições de trabalho ao longo dos últimos 20 anos. “Quando vim para aqui, trabalhávamos com enxadas. Há quatro anos, passámos a utilizar roçadoras eléctricas para cortar o mato e também usamos equipamentos de protecção. Agora são obrigatórios, mas antes não eram e as coisas andavam à balda. A viseira é muito importante, por causa das pedras que estão no terreno e podem ferir a vista”, recorda. De avental, luvas e capacete com viseira e protecções auriculares, Paulo Santos desbarata as silvas que crescem nas bermas da rua General Humberto Delgado, no topo da cidade. “A cana e a silva são plantas bravas. Nunca se consegue cortar tudo e só desaparecem se lhes queimarmos a raiz com um produto próprio”, explica Paulo Santos. Com as contas em baixo, as autarquias evitam o investimento em produtos químicos e o trabalho dos cantoneiros é feito com roçadoras. Paulo Santos substitui periodicamente os fios de metal cobertos de plástico que são colocados na roçadora para cortar as ervas daninhas. Quando chegar a vez das canas, será o disco laminado a entrar em acção. “Tem de se cortar o mato enquanto está ainda pequeno, se não é muito mais difícil e demora mais”, relata o cantoneiro. Paulo Santos diz conhecer todas as ruas e estradas de Vila Franca de Xira e, mesmo depois da hora de saída, o cantoneiro não perde a oportunidade de ver como estão os caminhos da cidade onde cresceu. Nascido no bairro da Pedra Furada, Paulo Santos já trabalhara para a junta, ao longo de dois anos, uma hora por dia, na limpeza dos sanitários do seu bairro, quando foi contactado para integrar a equipa de cantoneiros da autarquia. “Tinha saído de um trabalho de vigilante numa empresa em Lisboa e estava a pensar sair de Vila Franca para arranjar emprego. Cheguei a concorrer à Junta de Alverca para ser encarregado do cemitério, mas nunca me chamaram. Um dia, um colega toca à campainha da minha casa e diz-me que vista roupa de trabalho para vir trabalhar para a junta”, relata.Tinha encontrado um trabalho que o ocuparia ao longo de duas décadas. Nos ombros, já carregara baldes de argamassa na construção civil, peças de aço para galvanizar numa fundição e material indiferenciado numa empresa de logística. Nas novas funções, para além do trabalho de manutenção das bermas e valetas, também o trabalho de carga cedo se fez sentir. “Trabalhamos na limpeza das valetas e das bermas, mas sempre que é preciso ajudar os colegas a acabar uma obra ou a carregar material, também lá estamos”, conta Paulo Santos. Se o corte de mato e ervas daninhas é próprio da Primavera, a manutenção das valetas tem lugar tanto no Verão como no Inverno. “Os sumidouros têm de estar sempre limpos, e para além dos lixos que lá vão parar encontramos muitas vezes desperdícios de obras próximas”, nota. Paulo Santos nega que as inundações das zonas mais baixas da cidade tenham a ver com a limpeza das sarjetas em localidades ribeirinhas. “Quando a maré enche, o nível da água sobe nas sarjetas também. Dizer que existe uma estação de tratamento de esgotos e águas residuais (ETAR) não resolve tudo porque os canos não estão todos ligados à ETAR”, garante. A manutenção das canalizações, nota, também têm a sua quota parte nas inundações. “Junto à repartição de finanças encontrámos num dia de chuva entulhos que entupiam uma manilha, mas depois de limparmos o sumidouro este continuou a não deixar a água correr porque a manilha estava partida”, relata Paulo Santos. O trabalho ao ar livre, ao sol e à chuva, realiza-se sem paragens. “Ganhámos um ritmo que não nos deixa parar até à hora de almoço e depois, até sair”, explica. Nos dias de Inverno, se as condições atmosféricas permitirem, tudo se mantém. “Quando chove, recolhemo-nos. Mal pára de chover, voltamos ao trabalho”, conclui.
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