Dois apelidos iguais, duas histórias diferentes
Um golpe em falso com a navalha é a morte do artista, garante António Pereira. O cabeleireiro “só de homens” diz que não recusará uma cliente feminina, caso apareça no seu salão em Vila Franca de Xira. Afinal de contas, estamos a falar de cabelos. O cliente que espera no fundo da sala solta uma risada, parecendo concordar, antes de enterrar os olhos no diário desportivo. António, de tesoura em mão, vai desbastando o cabelo de Luís Pereira. Os dois homens têm apelidos iguais, são vizinhos mas não podiam ser mais diferentes. “Vi-o crescer, sempre a cortar o cabelo comigo”, refere o cabeleireiro de 33 anos. Aprendeu a profissão aos 16 e não está arrependido. Luís Pereira nasceu noutra geração. Tem 24 anos e só começou a trabalhar há pouco tempo. Saiu às 9h00 de um centro de distribuição da Azambuja, onde trabalha durante a noite. “A vida é dura, o que vale é o subsídio de turno”, justifica. Quase adormece enquanto está sentado na cadeira de António. Mas ele confia no homem da tesoura e da navalha. “Já o conheço muito bem, sei que tipo de corte ele quer”, afiança o barbeiro. O seu olhar está concentrado. “Os jovens não pedem cortes muito ousados, às vezes os divorciados é que querem cortes jovens e radicais”, diz com ironia. A conversa chegou à rua e um vizinho não hesita em atirar um determinado “as divorciadas é que são boas”! Sente-se a camaradagem e a amizade. É uma casa portuguesa, com certeza. O cabelo do barbeiro está a perder a fogosidade e a careca começa a aparecer. António solta um sorriso, sempre sem desviar o olhar do trabalho que tem entre mãos, e diz com serenidade: “não me afecta, desde que não piore”. Filipe Matias
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