Os comerciantes e idosos do concelho de Vila Franca de Xira guardam reservas em relação ao cartão municipal do idoso, lançado na última semana pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. O cartão de descontos, já conhecido da população idosa que se divide sobre as suas vantagens, só conseguiu a adesão de nove estabelecimentos em todo o município. Entre os potenciais utilizadores, o entusiasmo é reduzido. “É uma medida positiva, mas não sei até que ponto irá beneficiar os idosos. A procura de bens é tão fraca”, nota José Matias, 65 anos, de Vila Franca de Xira. O idoso, que seria dos mais jovens utilizadores do novo cartão de descontos, já tinha ouvido falar da novidade mas garante que “ninguém dá nada a ninguém e vai ser só mais um cartão”. António Cascais, 68 anos, “até ouviu dizer que deveria levantar o cartão na câmara”, mas ainda não tem planos para quando o vai fazer, apesar de conversar com os amigos a cerca de vinte metros da sede da autarquia. “É bom fazer compras descontos”, assegura. Quem parece pouco atreito a oferecer descontos são os comerciantes. Da lista de aderentes fazem parte nove estabelecimentos comerciais, entre os quais três clínicas de medicina e de medicina dentária, três ópticas, uma lavandaria, uma ourivesaria e uma roullote bar, com descontos que vão dos cinco aos 20 por cento. Na área da cultura o cartão confere aos aderentes desconto de 50 por cento nas actividades culturais e recreativas levadas a efeito pela câmara municipal e uma redução em 10 por cento nas taxas dos serviços municipais relativas à emissão de certidões e fotocópias de documentos. Segundo Fernando Paulo Ferreira, vereador responsável pela acção social, o lançamento do cartão municipal do idoso vai “contribuir para a valorização desta faixa etária da população e contribuir para o aumento da sua auto-estima”. De acordo com o autarca, os comerciantes que aderirem ao cartão estarão a contribuir para a promoção de um envelhecimento activo e participado”. As direcções da Associação de Comércio Indústria e Serviços dos Concelhos de Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos e da Associação para a Dinamização Empresarial, que assinaram o protocolo que funda o cartão parecem concordar. Para os utilizadores e promotores dos descontos, as certezas são menos.A tradição dos cartõesOs cartões municipais de descontos para idosos viram a luz do dia em 1995 por iniciativa da Câmara Municipal de Guimarães. Os benefícios concedidos passavam pela obtenção de 50 por cento de desconto no custo do passe social dos transportes rodoviários urbanos, participação em passeios e convívios, utilização gratuita do teleférico e descontos nas piscinas municipais. Em 1998, o governo liderado por António Guterres cria um cartão de descontos nacional. A Fundação Cartão do Idoso, responsável por gerir o cartão teve de contratar três empresas para emitir o cartão na sua fase inicial tal era a procura. “O cartão do idoso já regista mais de 2.500 aderentes, entre comerciantes e prestadores de serviços”. Após ter procedido ao lançamento do cartão, a Fundação foi, desde logo, “inundada com larguíssimos milhares de pedidos de cartão”, realçava em Outubro de 1998 Nuno Martins, presidente do conselho de administração da fundação, dando a conhecer que o número de pedidos do Cartão 65, oscilava entre os 10 e os 15 mil por semana, num total de cerca de 350 mil pedidos desde a sua criação. O modelo municipal surge em massa vários anos mais tarde, no início dos anos 2000, com adesão variável em diversos concelhos.