uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“Hoje a vida partidária é muito mais que encher camionetas para ir aos comícios”

“Hoje a vida partidária é muito mais que encher camionetas para ir aos comícios”

Idália Moniz, secretária de Estado da Reabilitação e membro do núcleo mais próximo de Sócrates

Foi presidente da Junta de Almoster, vereadora na câmara de Santarém e Deputada por um dia. É secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação e membro do Secretariado Nacional e da Comissão Nacional do Partido Socialista. Idália Moniz lamenta que em Santarém não haja no PS a capacidade de mobilização que existe noutros pontos do país e numa escala de zero a dez, dá menos de cinco ao presidente da Câmara de Santarém e pouco mais de cinco à oposição no seu conjunto.

A que distância política está, neste momento, de Santarém?Temos que ter capacidade para avaliar aquele que pode ser o nosso contributo político e aquele que pode ser o nosso papel. Estou a desempenhar funções no Governo, no Ministério do Trabalho e da Segurança Social. Tenho uma missão muito clara que vai no sentido de construir todo um sistema para a deficiência e para a reabilitação e por outro lado reorganizar todo o sistema de protecção de menores. Foi um desafio que o primeiro-ministro e o ministro do Trabalho me lançaram. Esse é o trabalho que estou a fazer. Não tem tempo para se interessar pela política local?Não é uma questão de ter tempo. Quem toca muitos instrumentos geralmente deixa alguns pelo caminho.Não pode tocar o instrumento de Santarém.Esta é apenas uma das questões. Outra prende-se com o facto de eu poder ter alguma notoriedade mas não ter provavelmente a notoriedade suficiente para disputar umas eleições e vencer um presidente de câmara que está no seu primeiro mandato. Há muito mais gente em Santarém com mais notoriedade que a Idália Moniz. E isto é algo sobre o qual já reflecti, quer na Direcção Nacional do meu partido, quer com o presidente da Federação de Santarém do PS.Foi presidente de Junta em Almoster, vereadora na câmara de Santarém durante quase um mandato. Quase todo o seu currículo político foi feito no concelho. O seu nome era um dos que constava de uma sondagem que o Partido Socialista fez para avaliar possíveis candidatos.Eu não tenho conhecimento de sondagem nenhuma. Se houve alguma sondagem e se o meu nome constava deveriam ter-me pedido autorização para colocar o meu nome e ninguém o fez. É uma questão ética fundamental.Daqui a quatro anos já terá notoriedade suficiente para ser candidata a presidente da câmara de Santarém?Posso nunca vir a ter condições para ser candidata.E qual é a sua vontade? Ser autarca é uma missão muito nobre. Às vezes, quando estou em presença de parcerias que não funcionam porque há um pequeno poder qualquer que paralisa aqui e ali, costumo dizer que, de todas as missões que desempenhei até hoje a que gostei mais de desempenhar foi a de presidente de Junta de Almoster. E acredite que foi. O presidente de Junta decide e quando não há ninguém que execute, ele próprio executa. Como eu executei tantas vezes. E agora não executa?Quando se está no nível mais elevado da pirâmide há sempre muita gente. Nós decidimos, afectamos os recursos, mas pode haver alguém no meio da engrenagem que, porque não concorda ou por qualquer outro motivo, não vai executar. É eleita da Assembleia Municipal mas não tem tido um papel muito activo.Não é possível. A agenda de um membro do Governo é avassaladora. Independentemente do trabalho que temos que produzir nos gabinetes. O país tem que andar para a frente. Quando se lança uma medida nova ela tem que ser maturada durante muito tempo. Tem que ser objecto de um trabalho muito exaustivo.O presidente da Comissão concelhia de Santarém, José Miguel Noras, nunca a convidou para ser candidata à presidência da Câmara?Teve uma conversa comigo antes do Verão do ano passado. Depois disso não voltou a falar comigo.Foi um convite formal?Foi um encontro em que ele me disse, depois de ter sido eleito: “ Se estiver disponível diga-me alguma coisa.”Há algum tempo foi posto a circular um rumor segundo o qual teria havido um contacto da Direcção Nacional do PS com Moita Flores para ele ser candidato pelo PS.Desconheço. E eu faço parte da Direcção Nacional do PS. Desconheço.O PS está com dificuldade em arranjar candidato?Até ao final do mês de Abril terá que definir quem é o seu candidato. É contraproducente andar a mandar nomes para o ar e a comprometer o processo.Já sabe quem é o candidato?Isso agora… Nestas coisas o segredo é a alma do negócio. Tudo tem que ser muito bem conversado, muito bem guardado. Depois, quando chega a hora, anuncia-se.Neste momento só falta anunciar?Não lhe vou responder a isso. O PS de Santarém tem feito uma boa oposição ao actual presidente de Câmara? A experiência que posso testemunhar é a da Assembleia Municipal onde há uma grande combatividade e uma grande capacidade de argumentação. É aquilo a que tenho assistido.Quando o PS estava no poder, no anterior mandato, e era vereadora, não sentia que a oposição era mais agressiva do que é agora a oposição feita pelo PS? Não considero que, quando estive na câmara, a oposição fosse mais aguerrida. Nem considero que não tenha havido oposição durante este mandato em Santarém. Às vezes um bom argumento vale mais que a voz elevada. Às vezes a capacidade de argumentação vale mais que um ou dois sound-bytes que marquem e que afastem a conversa para outro lado. Cada pessoa é uma pessoa e as pessoas têm formas de estar diferentes. Formas de intervir diferentes. Algumas pessoas de Santarém podem pensar ao ler a sua resposta que não tem acompanhado o que se tem passado a nível político. Acho que está a tentar que eu diga que quem faz oposição em Santarém não a faz convenientemente, mas não direi isso, de forma nenhuma. Nós temos na câmara de Santarém um presidente que tem uma forma peculiar de estar. Um presidente para quem é mais importante o "Soundbite" (frases chave usadas para fins de marketing e de manipulação dos comportamentos, nomeadamente, na política) ; a elevação da voz; o desvio das discussões para determinadas matérias acessórias. Devo reconhecer que ele tem mestria na utilização da retórica.No PS há a ideia que a Direcção Nacional não liga muito a Santarém.Por vezes passamos para os outros as culpas das nossas incapacidades. Eu ando por todo o país. Sou secretária de Estado e Dirigente Nacional do PS. Costumo dizer que trabalho para o Governo de dia e algumas vezes à noite e trabalho para o Partido Socialista à noite. Faço muitas sessões de esclarecimento. Participo em muitos debates de norte a sul. Há muita actividade das estruturas.Está em condições de fazer uma comparação entre o PS dos outros distritos e o PS de Santarém?O que eu ia a dizer é que eu a Santarém fui uma vez ao PS, quando saiu o programa Pares para ir explicar os regulamentos do programa… e há colegas meus que às vezes vão a Santarém e deparam-se com meia dúzia de pessoas. Nós andamos pelo país e são casas cheias. Às vezes a abarrotar. Pessoas na rua. Há capacidade de mobilização. Não valerá a pena voltar a falar no trabalho do PS nos últimos três anos e meio em Santarém.Não quer dizer com isto que a Federação de Santarém ou as concelhias de Santarém não funcionem mas há uma dinâmica que temos que implementar. Hoje a vida partidária é muito mais que encher camionetas para ir aos comícios. Faz-se de massa crítica. Constrói-se. O que eu presencio muitas vezes quando faço estas sessões pelo país é que há uma capacidade de ir buscar a sociedade civil para a ouvir. E Santarém tem a casa vazia.Quando falo nesta incapacidade de participar é a nível de militantes e da sociedade civil. A responsabilidade é de todos. Não é só dos dirigentes partidários.Gostaria de encabeçar a lista de candidatos a deputados pelo círculo de Santarém este ano? É uma decisão que cabe ao Secretário-Geral e à Federação Distrital. Temos que estar disponíveis. O Vitalino Canas, que tem sido o primeiro da lista, tem mais visibilidade que a Idália Moniz no distrito de Santarém?O Dr. Vitalino Canas é extremamente competente e sempre o vi defender os interesses de Santarém.“O meu grande orgulho”Há um estilo feminino na forma de governar?Não sei. O que sei é que há um estilo pragmático que é próprio das mulheres. Eu e as minhas colegas somos incapazes de fazer reuniões que se prolonguem para além do que é o essencial. Santarém Santarém são as minhas raízes. O meu grande orgulho. Em Santarém somos frontais. Gostamos de pegar as coisas de caras. CNEMAHá que fortalecê-lo. Todas as grandes organizações vão parar ao CNEMA, não devemos enfraquecer o CNEMA. É uma pena que lhe retiremos importância. O Município deve ter interesse em que o CNEMA seja mais forte. Uma nota para Moita Flores, de zero a dezAbaixo dos 5. Neste momento estão a ser feitos projectos que vinham do anterior executivo. Que foram negociados pelo anterior executivo. Que foram candidatados a fundos pelo anterior executivo. É da vida. As pessoas mudam e os projectos continuam. Mas falta-lhe capacidade de congregar. Uma nota para a oposição em conjuntoUm bocadinho mais de cinco.“Não podemos criar pânico social” Qual a situação de Santarém a nível do apoio social em comparação com o resto do país? Santarém, no âmbito da intervenção social, sempre foi um distrito muito inovador. Muitas vezes foi em Santarém que se lançaram novas respostas. Lembro-me do Rendimento Social de Inserção, antes Rendimento Mínimo Garantido que foi desenvolvido em Santarém numa fase experimental e que foi fundamental para mudar a vida de muita gente. Pessoas que estavam no limiar de entrar numa situação de exclusão.Qual o apoio canalizado pelo Estado para as IPSS de Santarém?O Distrito tem 534 Instituições Particulares de Solidariedade Social com as quais a Segurança Social mantém cooperação. A Segurança Social transfere para estas instituições, para as respostas para os idosos; pessoas com deficiências e infância, cerca de 60 milhões de euros por ano. São ajudas indirectas às famílias através dos serviços que as IPSS prestam.O que falta fazer? Rentabilizar os recursos. Evitar duplicações. Muitas vezes temos vários técnicos de vários serviços a bater à porta da mesma família no mesmo dia. É esse que é o grande desafio agora. Temos que ser mais eficazes a este nível. Não podemos ter o técnico do Centro de Emprego a bater à porta de uma família às dez; o da escola às onze, o da segurança social ao meio-dia. A crise veio agravar significativamente os problemas sociais. Qual a dimensão do problema? Não podemos gerar situações de alarmismo social. Temos que ter bom senso. Não podemos ignorar as situações mas não podemos dramatizá-las. Se não estamos a criar pânico social que não é útil para ninguém. A Segurança Social tem recursos. Tem um serviço de emergência social que funciona em todo o país que deve ser accionado sempre que acharmos que há uma situação de alguém que não está a passar bem ou que está numa situação de perigo social.Não há algum exagero na rapidez com que se retiram crianças às famílias?Não vou falar em nenhum caso particular. Mas tenham em conta a confidencialidade dos relatórios dos técnicos. Por vezes por detrás de processos aparentemente simples, estão questões muito mais complicadas que não podem ser do domínio público e que fundamentam a retiradas das crianças dos seus agregados familiares. Sempre que há uma dúvida a criança tem que ser protegida. Tem que ser retirada. De forma temporária mas tem que ser retirada e aquele agregado familiar tem que ser trabalhado, ajudado. Para que aquelas crianças tenham oportunidade de regressar às suas famílias.Um violino no armárioIdália Moniz tem um violino no seu gabinete, em Lisboa. Não é o seu violino, faz questão de dizer. É um violino que pertenceu a um avô do marido, o músico Carlos Alberto Moniz. Em cima da secretária, no meio dos dossiers tem um ou outro livro de música. Durante algum tempo exerceu actividade como músico profissional. É portanto natural que quando fala de política tente traçar paralelos com a música. “O facto de ter estudado música e de ter feito muita música de câmara ensinou-me a ver a importância de todos os intervenientes, dentro de uma grande partitura; dentro de um grande ensemble musical. A importância de todos se respeitarem, de todos falarem nos sítios certos. E a democracia, se pudermos utilizar esta metáfora, pode ser uma grande partitura onde todos temos direito a participar mas onde todos temos regras definidas. E a regra do respeito pela intervenção dos outros, pelo tempo dos outros, pela importância dos outros é determinante. Gosto de um debate aceso mas incomoda-me um debate onde se fazem ataques pessoais e se usam questões acessórias para desviar atenções.”
“Hoje a vida partidária é muito mais que encher camionetas para ir aos comícios”

Mais Notícias

    A carregar...