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O agente funerário que pratica taekwondo para descomprimir

O agente funerário que pratica taekwondo para descomprimir

Alfredo Rodrigues da Silva trabalha no ramo há quatro anos

Nasceu em Lisboa mas foi em Vialonga que abraçou um desafio profissional diferente: ser agente funerário. Diz que a profissão evoluiu e está hoje mais profissional do que nunca, com várias ofertas distintas para o momento da última despedida.

Sentado à secretária no escritório da empresa, em Vialonga, Vila Franca de Xira, Alfredo Silva começa por destacar uma das principais diferenças entre a sua profissão e todas as outras: “Quando todos tiram o casaco para trabalhar, nós vestimo-lo”, diz com um sorriso. A boa disposição é usada para aliviar a mente, a par da prática de Taekwondo. “É uma profissão digna mas só aberta a quem tenha uma maneira de estar diferente”, assegura.Com 58 anos de idade, ex-oficial das forças armadas com duas comissões, em Angola e Moçambique durante a guerra colonial, diz que a morte não lhe é estranha. “Nesta profissão temos que ser fortes”, afirma.Diz que a profissão de agente funerário mudou muito nos últimos anos. A tecnologia trouxe inovações. Algumas empresas apostaram no mediatismo das últimas despedidas e os produtos estão sempre a ser reformulados. Filtros de ar para as urnas, desodorizantes e potes biodegradáveis com sementes de onde nascem árvores são algumas das novidades. “O familiar contacta-nos, dá-nos os pormenores, nome, idade, profissão e a partir daí vamos aos hospitais ou a casa buscar a pessoa. Esse corpo é trazido para a capela mortuária. Esperamos pelo dia seguinte. As roupas pedimos à família e normalmente quem veste são os hospitais mas em casa somos nós que vestimos, tirando uma ou outra pessoa que faz questão de o fazer”, afirma Alfredo Silva. A despedida de um ente querido custa entre os 400 euros e os 3000 euros, em urnas de todos os tipos, para todos os gostos. Os principais distribuidores e fabricantes de urnas são portugueses, que já começam a sentir a ameaça da concorrência espanhola. Antes de ser agente funerário Alfredo já havia sido metalúrgico, condutor de táxi, trabalhador na fábrica da cerveja de Vialonga e nas OGMA de Alverca.“Não fazemos apenas funerais. Também damos conselhos às pessoas. Temos de ser simpáticos, acolhedores, dinâmicos e viver a vida das outras pessoas como se o funeral fosse pessoal”, garante. E às vezes até é. “Já me custou enterrar amigos de quem gostava e até familiares. Fui eu que fiz o funeral da minha sogra”, exemplifica.O material ligado a um funeral é, segundo o nosso interlocutor, “demasiado caro”. Modificar uma vulgar carrinha de transporte de passageiros para carro funerário ronda os 40 mil euros. “Isto sem contar com a taxa do cemitério que ronda os 50 euros e o resto dos adereços que normalmente são necessários por cada funeral”, garante. Diz não se chatear quando os amigos numa ou outra brincadeira informal de café o chamam de “cangalheiro”, assegura que nunca fez um funeral de um cidadão chinês.“Nunca fizemos um funeral de um chinês, mas grande parte dos nossos colegas de profissão também não. Não sei porquê. Creio que eles vão para o seu país de origem quando morrem. Quando enviamos um corpo para o estrangeiro, vamos ao hospital, sabemos o peso da pessoa, depois ligamos para uma companhia aérea, vemos quanto custa e metemos o corpo numa urna de zinco, soldada. Os corpos são injectados com um produto especial para preservar os tecidos” explica, dizendo que ainda existe muita burocracia para levantar um defunto.Alfredo Rodrigues assegura que, ao contrário da crença popular, as cremações têm o mesmo preço de um funeral normal. E as possibilidades são quase ilimitadas. “Há quem deixe “as cinzas” nos cemitérios (num recipiente em alumínio), quem as leve para casa (em jarras), quem as deite ao mar (numa caixa biodegradável) ou coloque num terreno, dentro de uma jarra que, ao partir-se tem sementes de onde nasce uma árvore”, refere. “A invenção é alemã”, acrescenta.As actuais cremações são rápidas (menos de duas horas) e apenas os ossos saem da fornalha. Depois de triturados, dão lugar ao pó que a maioria pensa, erradamente, tratar-se de cinzas. “Cada corpo dá cerca de um quilo, quilo e meio”, conclui.
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