Se a Câmara de Almeirim criasse um lugar de zelador da cidade, o munícipe Manuel Lucas seria a pessoa mais indicada para o cargo atendendo ao prazer que tem em ver os espaços públicos bem cuidados e ao facto de não se coibir de chamar a atenção para o que está mal. Em quase todas as reuniões públicas do executivo camarário, uma vez por mês, o bancário reformado senta-se no seu lugar cativo do auditório municipal e espera horas até que os vereadores tomem as suas decisões para depois falar das sarjetas que não estão limpas, das árvores que precisam de ser podadas, dos buracos nos passeios…Na última sessão quando lhe deram a palavra puxou de um bloco de papel com vários apontamentos e lá foi apontando as situações que encontrou durante os seus passeios diários de bicicleta. E até já se disponibilizou por duas vezes para trabalhar de borla a podar os enleios à volta da biblioteca municipal. “Dêem-me uma tesoura, um serrote e um funcionário para me ajudar que eu trato deles”, disse perante o executivo. Manuel Lucas trabalhou 31 anos no Banco Totta em Almeirim, reformou-se há um ano depois de ter estado oito anos na pré-reforma. Como não gosta de ir fazer política de café, prefere ajudar a melhorar a imagem da cidade. “Não gosto de criticar por criticar, de falar sem fazer nada”, realça, acrescentando que tem “um prazer enorme em contribuir para uma terra melhor”. Algumas pessoas já conhecem o seu papel de zelador e abordam-no para que seja ele a colocar os assuntos na reunião de câmara. O reformado, de 66 anos, tem orgulho em já ter conseguido mudar algumas coisas, como acabar com o mau aspecto dos canteiros junto aos prédios da avenida 25 de Abril, onde reside, que estavam completamente degradados. Outras coisas ainda não conseguiu resolver, mas não vai desistir porque como diz o provérbio: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.