“Não vou convidar a presidente da Câmara de Alpiarça para a minha lista”
Sónia Sanfona não teme que a fraca relação com Vanda Nunes lhe seja prejudicial nas eleições
Candidata à presidência do município diz em entrevista a O MIRANTE que não aceita ser vereadora se perder as eleições autárquicas e confessa que ainda não falou com a presidente do município, a quem pretende suceder, sobre alguns dossiês.
Sónia Sanfona aceitou ser candidata à presidência da Câmara de Alpiarça quando era expectável que o PS avançasse com a candidatura da actual presidente, Vanda Nunes, que passou a dirigir o concelho no final do ano passado quando Joaquim Rosa do Céu suspendeu o mandato. A actual deputada eleita pelo distrito de Santarém assume que mantém com Vanda Nunes apenas uma relação institucional e que pretende acabar com as tensões políticas que se têm vivido nos últimos anos no concelho. Sónia Sanfona, advogada, 37 anos, casada e com dois filhos, diz que se for eleita não vai fazer uma política de continuidade.Se for eleita presidente da Câmara de Alpiarça vai estar sujeita a um escrutínio público diferente do que enquanto deputada à Assembleia da República. Aquilo que vou exigir de mim própria também é diferente. Gosto de um desafio, de abraçar um projecto se me identificar com ele. Eu sou de Alpiarça e sou aquilo que os alpiarcenses são. Ser autarca é muito diferente de ser deputado.Isto não é uma profissão, é uma passagem, é um momento em que se presta um serviço ao país e às pessoas. Sempre entendi estas funções de uma forma: não sou deputada, estou deputada. Não era muito expectável a sua candidatura à Câmara de Alpiarça…Admito que surpreendesse algumas pessoas. Gosto muito do trabalho parlamentar, aprendi muita coisa. A assembleia é uma escola política fantástica. Comecei por substituir o governador civil de Santarém e hoje sou vice-presidente do grupo parlamentar. Não seria mais natural continuar no Parlamento? Gosto muito daquele trabalho. Mas acho que uma pessoa que abraça uma vida na política deve estar disponível para servir os seus concidadãos no local e no momento em que for mais necessário. No momento em que o partido entenda ser mais necessário?O partido conjuntamente com a pessoa.De quem partiu a ideia de ser candidata à câmara?Partiu da concelhia do PS de Alpiarça. Perguntaram-me se estava disponível.Foi apanhada de surpresa?O meu nome, em virtude de várias circunstâncias, estaria sempre em cima da mesa. Mas de algum modo isto fez-me parar e pensar. Não foi uma decisão que tomasse de um dia para o outro, precisei de algum tempo para ponderar, para equacionar como redireccionar a minha vida. Fiz uma avaliação do que acho que sou capaz de fazer, do que quero fazer e daquilo que os alpiarcenses podem esperar que consiga fazer se me derem a confiança para ser presidente da câmara.Falou com a actual presidente da câmara, Vanda Nunes, antes de aceitar o convite do PS?Não falei porque não tenho um relacionamento pessoal com ela. O meu relacionamento com a actual presidente de câmara é institucional, meramente institucional. Faria mais sentido para mim falar com a minha família ou com alguns amigos. Esse relacionamento deve-se a divergências dentro do PS e do movimento “Alpiarça é a Razão”, que suporta as candidaturas às autárquicas?O PS é um partido muito diversificado em termos de militantes e é um partido livre. Dentro do meu partido as pessoas têm total liberdade para se posicionarem da forma que entenderem. Mas esteve envolvida num processo complicado há uns anos com as eleições para a concelhia, em que havia duas listas com nomes iguais, o que gerou algumas críticas e a suspensão do processo…Essa questão está completamente ultrapassada. Não sou pessoa de alimentar quezílias nem rancores pessoais.Também saiu da assembleia municipal por divergências com o presidente Rosa do Céu.Saí no final do mandato, quando já era deputada. Cumpri o meu compromisso até ao fim. Não se trata de qualquer tipo de desavença. As pessoas têm ideias e perspectivas diferentes sobre as coisas, posicionam-se quanto a elas de forma diferente, mas isso não significa que andemos de costas voltadas.Tem portanto uma perspectiva diferente da política que foi seguida até agora na câmara?Tenho uma perspectiva nova. Naturalmente será diferente porque também sou uma pessoa diferente. Não porque discorde ou esteja insatisfeita com a generalidade das coisas que têm sido feitas em Alpiarça. É muito visível a transformação que o concelho sofreu desde que Joaquim Rosa do Céu assumiu a presidência da câmara, nos últimos três mandatos. Independentemente de todo o trabalho que foi feito e que deve ser potenciado, no meu projecto e na minha forma de encarar a política autárquica estou disponível para fazer como sei fazer. Isso na prática quer dizer…Não é fazer rupturas com alguém nem fazer um trabalho de mera continuidade. Quero fazer algo positivo e diferente.Qual vai ser a sua postura em relação ao movimento “Alpiarça é a Razão” que reúne pessoas de vários quadrantes e que apoiou Rosa do Céu?Esta abertura que o PS fez à sociedade civil através do movimento foi muito positiva. O cidadão tem que perceber que não é preciso ser militante de um partido para ajudar a construir alguma coisa.O PS acaba por se contradizer porque tem neste momento uma presidente de câmara que não é filiada no partido e chega ao processo eleitoral e opta por uma militante. Estarei disponível contando com o movimento e com o conjunto de outras pessoas que não o integrando estejam disponíveis para colaborar. Em relação à posição do PS nesta matéria, julgo que o partido terá ponderado e feito uma análise dos aspectos mais positivos ou mais negativos em relação a várias pessoas que podiam ser candidatas. O PS em Alpiarça não tem grande número de militantes nem a afirmação para assumir uma candidatura sem o apoio de um movimento?O número de militantes é hoje o dobro do que existia há cerca de dois anos. Voltarmos a ter uma candidatura exclusivamente do PS não traz mais valias. O que conquistámos com a abertura do partido é um património que devemos preservar. Não vai convidar a actual presidente Vanda Nunes para a sua lista?Não. Não tenho ainda a lista feita, estou a ponderar um conjunto de circunstâncias que acho que são importantes. Quero ter comigo as pessoas que julgo que têm mais condições para me ajudarem a fazer um bom trabalho. E a Vanda Nunes não tem essas condições?Não equacionei isso. Por outro lado não me parece que a Drª. Vanda Nunes depois de ter sido presidente da câmara estivesse disponível para integrar qualquer tipo de lugar numa lista do Partido Socialista que não fosse o de candidata à presidência. Não falei com ela sobre isto. É uma mera opinião. A CDU acredita que este ano pode reconquistar a câmara e vai fazer uma campanha nesse sentido. Isso preocupa-a?Estou preparada para um combate vivo e intenso. Levarei aos meus eleitores uma lista de pessoas que considero serem as mais qualificadas para gerirem a autarquia e apresentarei um programa das pessoas para as pessoas.Essa política para as pessoas não tem sido prática nos últimos anos?O que se tem passado em Alpiarça é o espelho do que se passa no país. Os últimos quadros comunitários de apoio foram muito direccionados para diversas infra-estruturas básicas. Hoje o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) direcciona-se mais para as pessoas. Não são os fundos comunitários que são responsáveis por se governar para as pessoas… Nos últimos tempos houve momentos de tensão política e com a população em Alpiarça.Os casos que acompanhei foram os que foram tornados públicos, como as situações de vandalismo contra imóveis do município e bens de eleitos socialistas. O descontentamento sobre alguma coisa manifesta-se de uma forma ordeira e democrática e não com este tipo de atitudes. Não sinto que se tenha governado contra as pessoas.Vai acabar com essa tensão?Se for eleita quero que a população perceba no final do mandato que houve uma Alpiarça antes de mim e uma Alpiarça depois de mim. Quero imprimir a este novo desafio o meu cunho pessoal. O debate democrático é necessário. Às vezes é mais aceso, mas deve ser sempre leal. Tem condições para essa mudança?Não sei se tenho, mas tenho a vontade. Comigo continuará a haver debate, oposição, ideias diferentes e perspectivas diferentes sobre as coisas. Da minha parte não existirão ataques pessoais. Isso não faz parte da minha maneira de ser. Quero que a campanha e um possível mandato sejam marcados pela discussão de argumentos, de políticas e das soluções dos problemas. Entre o conforto do Parlamento e a possibilidade de uma derrota nas autárquicas, deve ter havido um certo conflito na decisão…Qualquer decisão envolve riscos. O meu conflito não tem a ver com o facto do Parlamento poder ser mais apetecível. O que pesou na minha decisão foi perceber se tinha ou não condições pessoais e políticas para assumir o desafio. A minha preocupação não é saber se estou na Assembleia da Republica, numa câmara ou junta de freguesia. Não tenho um plano para a minha carreira política. O meu plano é estar disponível para os projectos.Se não for eleita aceita o lugar de vereadora?Terei muita dificuldade em aceitar. Eventualmente regressarei à minha vida profissional.O cargo de vereadora já não é estimulante?Proponho-me a desenvolver um projecto e a fazer um trabalho, que não terá cabimento numa governação autárquica que não seja a minha. O que me comprometo com os alpiarcenses é a implementar um projecto político. A actual presidente já lhe manifestou apoio? Já se disponibilizou para a pôr a par de alguns assuntos do município? Não tive qualquer conversa sobre estes assuntos. Esta falta de ligação entre as duas pode dividir o eleitorado?Estou convencida que não. Quer o partido quer o movimento estão empenhados no meu projecto de governação para o concelho, de desenvolvimento sustentado, de criação de postos de trabalho, de estabelecer dinâmica junto das empresas. É isto que nos motiva e não é em cada momento saber quem é a pessoa que protagoniza essa política. “Alpiarça tem várias carências”Qual é a principal carência do concelho de Alpiarça?O concelho não tem uma carência principal, tem várias, à semelhança do que ocorre no país inteiro. Temos que aprofundar algumas linhas ao nível das políticas sociais. Há também uma preocupação que tenho que é a das questões da protecção da natureza e do património ambiental.O que não se tem verificado com as descargas poluentes da zona industrial para a vala de Alpiarça…Do que conheço da zona, considero que fazia sentido que esta pudesse usufruir ou de uma estação de tratamento de águas residuais (ETAR) municipal ou de uma construída em parceria com as empresas, sobretudo as de maiores dimensões, instaladas no local. Em que é que Alpiarça se pode valorizar?Um dos vectores económicos que é fundamental é o turismo. Não temos dimensão agrícola, apesar da aposta na agro-indústria ser importante. Cada concelho tem necessidade de encontrar aquela área em que é mais competitivo, em que tem mais para dar. Alpiarça tem um património cultural, arqueológico, ambiental que tem todas as condições para gerar um pólo turístico de qualidade se tivermos um ambiente despoluído. Como vê o abandono da aldeia piscatória do Patacão?Tem sido sempre uma zona estimada por todos nós, pelos alpiarcenses, porque é uma parte da nossa memória…Não parece.O problema é que não é possível estabelecer em todas as coisas que gostamos e queremos valorizar uma prioridade. Não é possível. O concelho é pequeno e do ponto de vista financeiro com muitas dificuldades. Mas a recuperação do Patacão vai ser uma das suas apostas?Há uma coisa que quero assumir: aquilo que estiver no meu programa eleitoral será uma política de verdade. Comprometo-me a colocar no programa aquilo que entender que tenho condições para fazer. Não vou prometer coisas que sinto que não vou poder fazer. Falar verdade aos meus munícipes é ponto de honra. Isso não é o slogan do PSD?Para o PSD é só um slogan, para mim é sentido. Vai usar os seus conhecimentos em Lisboa para tentar que o IC 3 seja finalmente desbloqueado?Tenho feito o que está ao meu alcance para ajudar a decidir e resolver algumas situações do país, da região e da minha terra. O primeiro-ministro já disse que essa via seria concessionada e que era fundamental para esta zona.Vamos ter portanto uma auto-estrada com portagem?A termos vamos ter um itinerário complementar, e é para isso que estamos a trabalhar. E penso que vamos ter essa via mais cedo que tarde.A proximidade com o concelho de Almeirim tem sido devidamente potencializada?É possível existir uma estreita ligação em termos turísticos, potenciando uma rota que una alguns dos concelhos do sul. Almeirim apostou na gastronomia com a Sopa da Pedra e Alpiarça tem que fazer o mesmo em relação ao seu património em inter-relação.
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