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O sal da minha terra era daqui que vinha

Ainda a propósito do sal de Rio Maior só mais uma pequena memória. Não havendo frigoríficos nas casas particulares, as pessoas da minha terra (Santa Catarina) conservavam a carne do porco na salgadeira. Mas o sal não servia apenas para conservar a carne; acabava por lhe vir a dar um sabor muito especial e que hoje será quase impossível repetir. A colocação durante largos meses de uma peça de carne de porco num espaço em que o sal a cobria por cima, por baixo e pelos dois lados, fazia com que essa mesma carne adquirisse um sabor diferente. Por isso era uma festa quando um miúdo ouvia a sua mãe dizer: «Hoje pus carne ao lume!». Porque nesse tempo de não haver nem electricidade nem bilhas de gás nem sequer fogões a petróleo, o calor da cozedura era dado por um lume de lenha. E não interessava muito se à água se juntava hortaliça, cabeças de nabo, batatas ou arroz. O que já se sabia antecipadamente era que tudo o que entrava na panela viria a beneficiar do magnífico tempero desse bocado de carne saído da salgadeira e lavado em água fresca tirada do cântaro. Depois de pronto o prato bastava a boa vontade e o engenho de quem desfiava (com uma faca das nossas ou com uma navalha porque somos uma terra de navalheiros) todos os bocadinhos da carne. Era uma sopa que servia de sopa e de segundo prato. Qual bife, qual carapuça! Melhor do que uma sopa com carne da salgadeira só outra sopa com carne da salgadeira…José do Carmo Francisco

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