Mestre André conclui o 12º ano aos 85 anos
Nasceu em 1924, Salazar ainda não tinha chegado ao poder e o ensino era só para crianças de famílias abastadas. João André, 85 anos, filho do povo, diz que não se conformou com a injustiça e aproveitou agora as Novas Oportunidades para voltar à escola quase 80 anos depois. O formando mais velho do programa nacional é a coqueluche na Escola Profissional de Salvaterra de Magos. O primeiro–ministro fez questão de lhe entregar pessoalmente o diploma na tarde de 29 de Abril e de o apontar como um exemplo para o país.João André foi transformado num herói nacional num país onde o analfabetismo ainda está fortemente instalado. Confessa o orgulho de ter conseguido e desafia os rapazes da sua idade a seguirem o mesmo caminho. “Temos de aprender até morrer. O saber não faz mal a ninguém. Sinto-me melhor, mais forte e mais capaz”, disse a O MIRANTE.Do seu percurso de vida destaca os 38 anos de trabalho na Raret, retransmissor da Voz da América em Glória do Ribatejo, onde aprendeu a fazer desenho geométrico. Trabalhou em duas fábricas como operário e nunca declinou a colaboração com os bombeiros e a Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos. “Gosto de ajudar os outros”, refere com um sorriso que transmite confiança. Uma das poucas mágoas que tem foi a da Câmara de Salvaterra ter atirado para o lixo duas esculturas que tinha produzido. “Foi uma represália política”, assegura com tristeza.O “mestre André”, como carinhosamente é tratado, é um artista na arte de trabalhar a pedra, a madeira, o ferro e as palavras. Gosta de escrever poesia: “Nunca é tarde para aprender/diz o povo e tem razão/para melhor poder viver/e dar vida ao coração.Surgiu-me uma oportunidade/que veio ao meu encontro/nem sequer liguei à idade/para aprender estou sempre pronto”.
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