Mais de mil pessoas por ano descobrem o Tejo na Rota dos Mouchões
Passeio promovido pela Câmara Municipal de Azambuja é sucesso nacional
Muito antes da chegada dos primeiros turistas ao cais de embarque da Vala Real, na Azambuja, já os mestres José Manuel e António Tomás estão no rio, a dirigir o varino “Vala Real” até ao porto de embarque da Rota dos Mouchões, junto ao palácio das Obras Novas. O tempo está quente e com pouco vento, ideal para manobrar o barco de madeira por entre os canais do rio. Esta vai ser uma das primeiras viagens do ano. Os dois olham o Tejo com a vista cansada de quem dedicou mais de 50 anos ao mar e ao rio. Dizem, com um sorriso rasgado, que não se importam de ser “marinheiros de água doce”. Afinal de contas, o Tejo não é tão manso como parece. “Há redes de pesca, bancos de areia, zonas de pouca fundura e, como já vimos este ano, ondas que às vezes nem nos deixam navegar”, refere António Tomás. Os mestres dão uma última vistoria ao varino de 12 metros, uma réplica fiel dos antigos transportadores de mercadorias do Tejo, construído em Março de 1998. Daí a pouco estarão sentados no “Vala Real” mais um grupo de turistas que irão engrossar uma lista de passageiros que já ascende os 6 500, desde o ano em que o passeio fluvial teve inicio, em 2003. Promovida e organizada pela Câmara municipal da Azambuja, a Rota dos Mouchões tem como objectivo principal a promoção do património natural do concelho e a divulgação cultural das tradições económicas e sociais do município. As pequenas ilhas aluvionares que vão dividindo o rio são apenas uma pequena parte da paisagem, toda ela servida em estado puro. A maioria destes mouchões é áreas de reserva integral e foram formadas pelo assoreamento do leito do rio. “O varino médio tem 16 metros e os maiores chegam aos 22 metros, como o de Vila Franca de Xira. O maior varino desloca 50 toneladas de carga, enquanto que o nosso apenas transporta 9 toneladas. Os varinos, tal como as faluas e as fragatas do Tejo, eram responsáveis por fazer aquilo que hoje é feito pelos camiões, ou seja, o transporte de mercadorias”, explica o mestre José Manuel a O MIRANTE. “Chegavam a ir até Abrantes e Santarém, sempre pelo rio Tejo acima”, diz com entusiasmo. Hoje, porém, só vão até Valada do Ribatejo, porque o rio está fortemente assoreado e não há varino que consiga andar sobre a areia. José Domingos é um dos turistas a bordo. Veio de Lisboa. “Conheço a história dos varinos pela net mas agora posso conhecer ao vivo, é uma boa experiência”, garante. À medida que o varino progride pelo Tejo, os pássaros cumprimentam a comitiva. Garças brancas, águias pesqueiras, cegonhas, corvos marinhos, galinholas e guarda-rios são os primeiros. Maria João, técnica de turismo da câmara da Azambuja, começa a explicar aos presentes o funcionamento do barco e a apresentar a fauna e flora. Segue-se uma curta paragem no mouchão da Casa Branca, onde são criados em estado selvagem os cavalos lusitanos da Coudelaria Nacional. Alguns passageiros descem para o mouchão e fazem festas no pêlo dos cavalos. As crianças deliram. “É óptimo, acho que é muito importante investir-se neste tipo de turismo. Deve ser preservado e incentivado”, refere Vítor Gonçalves, outro lisboeta que integrou o grupo de turistas. “Queremos promover também o convívio entre as pessoas e isso é muito salutar”, afirma Maria João, informando que a Rota dos Mouchões já foi descoberta por turistas estrangeiros. O passeio ainda agora começou e as máquinas fotográficas começam a ter falta de espaço. Não se ouvem os sons da cidade. Apenas a água a bater no casco. Por ano, a autarquia gasta perto de 25 mil euros para organizar a Rota dos Mouchões, um investimento que tem potenciado o logótipo do concelho e tem deixado uma marca nos turistas. Na aldeia do Lezirão é servido um almoço típico e da parte da tarde a viagem continua com paragens noutras ilhotas do Tejo onde os turistas podem entrar nas “olimpíadas dos mouchões”, momentos de diversão que fazem do passeio fluvial um dia ainda mais marcante. “Temos gente que vem duas e três vezes, com amigos e conhecidos. Isto é um espectáculo como há poucos aqui na zona”, garantem José Manuel e António Tomás. De Abril a Outubro o barco sai para o Tejo sempre que existe um mínimo de 10 passageiros e um máximo de 22, com os preços a variar consoante a modalidade escolhida. Os interessados podem informar-se no posto de turismo da Azambuja. Os salgueiros, choupos, eucaliptos, freixos e palmeiras da Vala Real são os últimos elementos da natureza a dizer adeus aos turistas. Muitos dizem que vão voltar. Outros já não querem sair dali.Amor à camisolaNo porto da palha, na aldeia avieira do Lezirão, é onde fica guardado o varino “Vala Real”. São os mestres José Manuel e António Tomás que cuidam da manutenção e reparação da “jóia da coroa” do turismo azambujense. “Este barco requer muitos cuidados e temos de ter muito trabalho com ele. Muitas vezes, quando são operações complicadas que não podemos fazer aqui, enviamos para um estaleiro para ser reparado”, informa José Manuel. Os dois homens pintam e substituem algumas pequenas partes de madeira e vão mantendo o barco com um enorme orgulho e amor à camisola.
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