João Inácio Almeida vai receber o “Pampilho de Honra”
Um homem do campo que integra uma dinastia a preceito
João Preceito é a terceira geração de uma família de campinos cuja continuidade está assegurada pelo filho o campino e picador “Janica”.
Filho e pai de campinos, João Inácio Almeida, conhecido por João Preceito é uma das figuras mais castiças da campinagem ribatejana. O homem que cuidou do gado bravo e manso da Casa Oliveiras Irmãos durante quase 30 anos é presença habitual nas festas tradicionais, nomeadamente na centenária Feira de Maio em Azambuja.“Foi em Azambuja que comecei a trabalhar para o senhor Teodoro Prudêncio antes de ir para os Oliveiras Irmãos onde cheguei com 17 anos para trabalhar com o meu pai que era o guarda da casa”, recorda.Domingo, 31 de Maio, João Preceito vai trajar a rigor com o colete encarnado, calção azul, meia branca e barrete verde para receber o “Pampilho de Honra” que este ano tem o nome de José Paulo Silva, campino e picador que perdeu a vida num acidente de viação quando regressava duma corrida com Nuno Casquinha em Espanha. “É sempre uma grande emoção quando se fazem estas homenagens. Se as pessoas acham que merecemos é porque fizemos um bom trabalho”, refere com humildade dizendo que se sente tão à-vontade com o mais pobre camponês, como com as figuras públicas com quem contactou no programa televisivo “Quinta das Celebridades”. Recorde-se que João Preceito privou, na casa onde decorreu o programa da TVI, com o actor de filmes pornográficos Alexandre Frota, a cantora Mónica (primeira portuguesa a despir-se para a revista Playboy) e com o polémico José Castelo Branco, entre outros, e de todos ficou amigo. “Havia um grande respeito entre todos”, recorda. Na altura chamaram-lhe o “Rei do Gado”, em algumas das dezenas de reportagens publicadas, mas João rejeitou o estatuto de vedeta e seguiu os caminhos da humildade.Foi do pai Joaquim Preceito, que João herdou a educação, o gosto pelo campo e o jeito para lidar com gado bravo e com as pessoas, mesmo com as mais complicadas. Os toiros e os cavalos fazem parte da sua vida como a família onde encontra o apoio nas horas más e onde se junta com a mulher, de nome Preciosa, e descendentes para festejar os bons momentos. “Tenho três filhos, quatro netos e outro a caminho”, diz orgulhoso. Dois dos filhos seguiram a caminhada do pai. João, mais conhecido por “Janica”, é um campino da nova geração e José Carlos também vive do campo e acompanha o pai nas festas da região. O mais novo, Luís, explora uma vacaria e prefere lidar com o gado manso.AVC foi a colhida mais graveUm Acidente Vascular Cerebral (AVC) quase roubou a vida a João Preceito há nove anos, mas com a força dos vencedores e a ajuda da família e dos amigos, recuperou e voltou a montar a cavalo. Foi a maior colhida da sua vida. “Graças a Deus e a toda a minha família, tive coragem e força para viver e recuperar”, diz com a voz comovida. Campino e desbastador de cavalos durante 40 anos, João viu com alguma tristeza o dia em que deixou a casa Oliveiras Irmãos. “Foi lá que fiz os 17 e os 60 anos”, recorda, explicando que pelo meio passou por várias casas agrícolas no Ribatejo e Alentejo. Nunca se afastou do campo, dos cavalos e dos toiros. “É a minha vida. Preciso disto para viver”, refere.Trata dos seus cavalos e gosta de passear montado na cela ou instalado na charrete que trata como uma relíquia e que utiliza para transportar os santos nas festas religiosas. Participa nas guardas de honra à Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos e lavradores. João é um homem de fé e acredita que na pior hora da sua vida alguém o ajudou a segurar-se à vida.
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