Liga propõe que os bombeiros voluntários desempregados possam trabalhar nos quartéis
Com direito ao subsídio de desemprego e um complemento de função pago pelas corporações
Secretário de Estado da Protecção Civil, José Miguel Medeiros respondeu às críticas dizendo que há um conjunto de reformas em marcha e pedindo paciência.
A Liga dos Bombeiros Portugueses (LPB) considera “ultrapassado” o protocolo elaborado há vários anos com o Ministério da Saúde, relativo ao transporte de doentes em ambulância, efectuado pelos soldados da paz. Na sua intervenção, durante as comemorações do Dia Municipal do Bombeiro do concelho de Vila Franca de Xira, que decorreu em Alverca no Domingo, 24 de Maio, o vice-presidente daquela organização disse que a situação está a ter “reflexos muito negativos na sustentabilidade económica das associações de bombeiros”.Rui Silva lembrou que a LPB apresentou uma proposta de revisão do protocolo ao Ministério da Saúde, em Dezembro último e dada a falta de resposta o conselho executivo da liga irá tomar uma posição oficial para 13 de Junho – dia do conselho nacional extraordinário.O vice-presidente da LPB fez ainda o balanço do número de bombeiros sem trabalho. “Encontram-se desempregados 349 voluntários, 211 sem subsídio de desemprego e 138 com subsídio, 257 são homens e 92 são mulheres. Não são números finais e aguardamos mais dados”, referiu o responsável. Para fazer face ao problema é proposto que os voluntários desempregados possam prestar serviço nas respectivas associações, recebendo o subsídio de desemprego e um complemento de função, pago pelas corporações onde é prestado o serviço.A Presidente da Câmara de Vila Franca de Xira pediu a intervenção do Secretário de Estado da Protecção Civil, no sentido de mediar o diferindo entre os bombeiros e o Ministério da Saúde. “A nós cidadãos, não se configura outra situação que não seja a continuidade do processo com o qual já convivemos há muitos anos”, defendeu Maria da Luz Rosinha, esperançada que haja soluções positivas.Na resposta, o Secretário de Estado da Protecção Civil, José Miguel Medeiros referiu que há um conjunto de reformas em marcha, “uma evolução tranquila no sector” mas pede paciência. “Estamos a melhorar as condições de socorro. Só há bom socorro se aqueles que socorrem tiverem boas condições para o fazerem. Merecem todo o nosso apreço, crédito e respeito. Num mundo moderno, já não é possível manter um quartel dos bombeiros, apenas com o quarteleiro, a sua esposa e o tocar da sineta quando há algum problema”, garante José Medeiros.O constante desenvolvimento das comunidades, implica o aparecimento de novos riscos, problemas e desafios para os bombeiros, que têm de estar preparados para fazer frente. “Apostar na formação em conjunto com a liga para qualificar a Escola Nacional de Bombeiros, com o objectivo de garantir que a formação possa chegar mais próxima dos bombeiros”, disse o Secretário de Estado da Protecção Civil em Alverca.A Governadora Civil do Distrito de Lisboa, Dalila Araújo, também marcou presença na iniciativa, promovida pelo serviço municipal de protecção civil em parceria com as seis corporações de bombeiros voluntários do concelho. Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira, Alhandra, Alverca do Ribatejo, Vialonga e Póvoa de Santa Iria.O espaço do mercado semanal (entre Praça de São Pedro e Complexo Desportivo do Futebol Clube de Alverca) foi o palco das comemorações oficiais. Durante a cerimónia e após os discursos, foram agraciados vários bombeiros com medalhas correspondentes a 10, 20 e 30 anos de serviço. No final decorreu um desfile apeado e motorizado, de todas as forças, pelas ruas da cidade.Uma mulher dedicada à causa“Estávamos rodeados de chamas. Iam a passar, viram que Alhandra estava em dificuldades, saltaram da viatura deles e vieram-nos ajudar a enrolar o material para fugirmos depressa daquele inferno. Perderam a viatura deles e acabaram por vir na nossa”, conta Carmelita Caetano, com a voz um pouco embargada. O acto de coragem e o gesto de amor dos colegas de uma outra corporação, é um dos muito episódios que viveu ao longo de trinta anos ao serviço da corporação de bombeiros de Alhandra.A actual segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Alhandra foi uma das agraciadas no dia Municipal do Bombeiro do concelho de Vila Franca de Xira, com a medalha de ouro, pela sua entrega e dedicação ao próximo, durante três décadas.“O único reconhecimento de uma vida de voluntariado são exactamente as medalhas. Nada mais fica. O voluntário não é pago e trinta anos já é alguma coisa. Criei os meus filhos no quartel e alterei a vinha vida pessoal em função de um bem maior. Sendo uma mulher casada, com filhos e estar no corpo de bombeiros não foi fácil. Mas tenho muito orgulho”, confessa Carmelita Caetano.A segundo comandante recebeu, no passado, uma outra medalha das mãos do Presidente da República, como reconhecimento da sua entrega à causa dos bombeiros voluntários.Recorda que há trinta anos foi difícil mudar mentalidades. As mulheres não eram bem vistas no seio de um mundo de homens. “Éramos três mulheres no meio de trezentos homens. Passamos duas. Provei que ser bombeiro é um trabalho de homens e de mulheres”, relata a comandante.Os tempos mudaram. Ser bombeiro já não é um mundo de homens e agora está com um problema. “Se entram mais duas mulheres para o corpo de bombeiros de Alhandra, já não sei onde é que vou pôr os armários. O espaço começa a ser pequeno”, confessa.A mudança de mentalidades e a entrada de cada vez mais mulheres nas fileiras das várias corporações, comprovam que a tradição já não é o que era.
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