Aproveitar a “estrada” do Tejo para pôr fim aos engarrafamentos
Fernando Carvalho Rodrigues defende que as populações se virem para o rio
O Tejo continua a ser a grande via de comunicação, defende o investigador Fernando Carvalho Rodrigues. Os engarrafamentos poderiam acabar se os carros fossem substituídos por barcos no rio.
“A ponte de Vila Franca de Xira está engarrafada. A Ponte Vasco da Gama está engarrafada. As pessoas estão engarrafadas sobre o Tejo. A gente esqueceu-se que a ponte entre as margens é o rio”. Quem o diz é o investigador e físico Fernando Carvalho Rodrigues, um adepto da navegação que defende que o Tejo continua a ser a principal via de comunicação. Até 1966 milhares de embarcações circulavam no rio, lembra.O especialista compara as pontes sobre o Tejo a ruas que ligam pessoas entre uma e outra margem. “Os municípios encaram o rio como um estorvo e não o vêem como uma oportunidade” diz o investigador que admite que para dar resposta ao índice de população seria necessário ter Catamarans a todos os minutos, tal como acontece em Istambul. As câmaras municipais garantem “vistas para o rio”, mas são poucas as que criam condições de acesso. Vila Franca de Xira e Alhandra, onde se pode ancorar, são dois bons exemplos do que se deve fazer, segundo o investigador.Fernando Carvalho Rodrigues aponta o dedo à falta de alternativas e diz que no dia da Marinha do Tejo, 27 de Junho, as embarcações tiveram que sair da Doca da Marinha, junto à Praça do Comércio, em Lisboa. “Se quiser chegar do Brasil num barco e atracar frente aos Jerónimos, como os navegadores portugueses, não o pode fazer entre as 12h00 e as 14h00 porque fecham para almoço e ao fim de semana também não estão lá”, ironiza.O investigador, que é também o presidente da Associação dos Proprietários e Arrais de Embarcações Típicas do Tejo, considera que não faz sentido que se construam mais pontes para ligar as duas margens do Tejo. Ligações sim, mas em túnel, por baixo do rio que não coloquem em causa a segurança das populações. A associação incentiva a construção de embarcações típicas e desde 2004 já apoiou a construção de sete. A oitava está na forja. A Marinha do Tejo funciona como um museu vivo. No total são 56 embarcações típicas que não incluem os barcos que as câmaras têm ao dispor para os passeios do Tejo. A associação reivindica também a revitalização da carreira de arrais, especialistas que compreendem o rio.No sábado Fernando Carvalho Rodrigues deixou a doca da marinha no interior da canoa “Ana Paula”, nome que homenageia a neta do primeiro proprietário do seu barco. Na cabeça levou um barrete preto onde os fragateiros, à falta de bolsos, transportavam antigamente o tabaco. Para 4 e 5 de Julho está já marcado o VII Cruzeiro / Regata Moita – Vila Franca de Xira – Moita.“A ponte de Vila Franca foi construída no tempo em que as pessoas pensavam”“A ponte de Vila Franca de Xira foi construída no tempo em que as pessoas pensavam. Quando se estudava e se ouvia quem sabe, como o Instituto Hidrográfico”. Construir mais pontes sobre o Tejo é comprar mais “morte e sofrimento”, assegura o investigador Fernando Carvalho Rodrigues. O professor considera que a terceira travessia em Tejo sobre o Mar da Palha põe definitivamente em risco as populações ribeirinhas das cidades de Lisboa até Vila Franca de Xira e do arco ribeirinho da margem sul (Alcochete, Montijo, Moita, Barreiro, Seixal e Almada).A velocidade da corrente em Vila Franca de Xira é elevada e não origina o mesmo efeito de “dique”, como acontece por exemplo na zona da ponte Vasco da Gama. O índice de assoreamento no Mar da Palha é extremamente elevado. O aumento de amplitude do estuário naquela zona provoca uma diminuição significativa da velocidade da água, que facilita a precipitação dos sedimentos que vêm em suspensão. Os cerca de 50 pilares da nova ponte, defende o investigador, vão originar igual número de ilhas cujo aumento de volume ao longo dos anos provocará um efeito de dique, potenciando a ocorrência de catástrofes como inundações das zonas ribeirinhas. Dado que os caudais no rio têm vindo a aumentar fruto da diminuição das zonas de infiltração em terra ocupadas pela malha urbana, a introdução de infra-estruturas no rio, que funcionam como obstáculos à corrente, fará crescer significativamente o nível de assoreamento, potenciando a ocorrência de inundações devido à subida da altura da água. A composição e o Marechal CarmonaNo dia em que a Ponte de Vila Franca de Xira foi inaugurada, em 1951, o então menino Fernando Carvalho Rodrigues fazia uma redacção na escola sobre o Marechal Carmona - que deu nome à ligação sobre o Tejo. “Vivia em Chelas que era uma aldeia e soube-se na altura que ia ser inaugurada a ponte. Foi uma grande festa. E eu terminei a composição como terminava outras sobre gatos: “Gosto muito do Marechal Carmona”. Mesmo sem saber quem era”, recorda.Vila Franca de Xira conseguiu a ligação rodoviária antes de Lisboa. A Ponte 25 de Abril, que chegou a ser conhecida como Ponte Salazar, abriu ao público em 1966.
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