A câmara de Arruda dos Vinhos adquiriu a Quinta da Murzinheira, para vir a criar a casa-museu Irene Lisboa na própria habitação onde a escritora nasceu há mais de cem anos e que estava ao abandono.“A câmara comprou a quinta por 580 mil euros”, disse à Lusa o presidente da câmara, Carlos Lourenço, adiantando que a autarquia pretende “criar a Casa-museu Irene Lisboa na casa onde nasceu a escritora”.Tendo em conta a extensão de 36 hectares da quinta, o projecto prevê também um campo de experimentação para escolas e universidades e um espaço para a fixação de empresas de base tecnológica e de residências, dirigidas a jovens que queiram criar aí o seu próprio negócio.Apesar de várias limpezas e acções de desmatação efectuadas pela autarquia após a sua aquisição, a casa onde a escritora nasceu na Quinta da Murzinheira pertenceu nos últimos 100 anos à família Vieira Lisboa.A casa está em ruínas e permanece sem portas e janelas e com as telhas a cair. Localizada em A-dos-Arcos, freguesia de Arranhó, a quinta estende-se por terrenos agrícolas onde continua a predominar a vinha, e mantém ainda uma adega “completamente degradada”, que noutros tempos era usada como apoio aos trabalhos do campo, também retratados por Irene Lisboa nas suas obras.A autora de “13 Cantarelos”, a sua primeira obra publicada, nasceu a 25 de Dezembro de 1892 na Quinta da Murzinheira, fruto de uma relação entre Luís Emídio Vieira Lisboa e uma criada, “a rapariga do campo enganada”, como escreve em “Começa uma vida”.O pai renegou a sua paternidade, separando para sempre a criança da mãe aos três anos de idade.Nessa altura, Irene Lisboa, que só aos seis anos veio a ser registada com o nome do pai, passou a residir com a madrinha, Ilda Gouveia, entre a casa da Baixa de Lisboa e a Quinta do Monfalim, no Sobral de Monte Agraço, afastando-a da Quinta da Murzinheira.Em Arruda dos Vinhos, existe desde há dois anos o Museu Irene Lisboa na freguesia de Arranhó, reunindo pela primeira vez todo o acervo documental da vida e obra da poetisa.O espaço foi criado após várias tentativas iniciadas em anos anteriores para adquirir a quinta, sempre sucessivamente inviabilizadas pela família paterna de Irene Lisboa e mais tarde dificultadas por um processo de partilhas, após a morte do irmão da poetisa há quatro anos.