Mercado mensal da Azambuja pode ter os dias contados
População não concorda com a ideia de perder uma tradição da vila
O mercado mensal da Azambuja pode ter os dias contados. Para cumprir a legislação serão necessárias obras de largos milhares de euros que ainda não se concretizaram.
A vila da Azambuja poderá perder o mercado mensal ainda este ano, tal como tem acontecido noutras localidades da região, como Aveiras de Cima, devido às exigências da nova legislação que regula as feiras e mercados e que obriga as autarquias e juntas de freguesia a realizar diversas intervenções dispendiosas.O MIRANTE soube que o mercado mensal da Azambuja, actualmente realizado junto à linha de comboio e frequentado por mais de 150 feirantes, não está a cumprir a nova legislação desde que esta entrou em vigor, no início de 2009. Esta nova lei obriga a que todos os recintos das feiras sejam dotados de água, esgotos, electricidade, piso alcatroado e vedações. No caso de Azambuja, os custos para realizar tais obras rondariam os milhares de euros. Um valor que, no actual momento, é difícil de suportar pela autarquia. Além disso, o investimento não iria trazer quaisquer contrapartidas para os cofres da autarquia. Fonte próxima do processo confidenciou a O MIRANTE que o fim do mercado mensal é “quase certo”. O presidente da Câmara Municipal da Azambuja, Joaquim Ramos, não esclarece se o mercado é ou não para continuar, limitando-se a dizer que está em curso uma avaliação da situação. “Estamos a estudar a nova lei e a tentar perceber que exigências é que ela faz. Temos de estudar os custos e até equacionar o local, porque poderemos também vir a mudar a feira para outro sítio, mais cómodo”, informa o edil. Apesar da lei já estar em prática, Joaquim Ramos afirma que só nos próximos meses haverá uma solução para o problema.O facto do actual local não poder ser alcatroado por estar sobre várias condutas da EPAL está a condicionar todo o processo.As palavras do presidente são, para muitos residentes da Azambuja, um sinal de que a crise chegou ao mercado mensal e de que este vai mesmo embora para outras paragens. “Provavelmente está a ser adiado o inevitável. Acho que as pessoas compreendem que, neste caso, a culpa não é das câmaras municipais mas sim do Governo, que as obriga a realizar gastos supérfluos em tempo de crise”, refere Pedro Manata, morador. Muitos dos residentes dizem esperar uma solução pacífica que permita manter o mercado na vila. Caso isso não aconteça, estão dispostos a lutar por ele. Mesmo que isso signifique um funcionamento em moldes diferentes. “Actualmente o espaço também não é o ideal, obriga as pessoas a atravessar a estrada num local onde nem existem passadeiras. Quem sabe se a câmara consegue levar o mercado para outro local. Mas sem dúvida que, a perder-se, isso seria uma grande perda para todo o concelho e sobretudo para nós, moradores da Azambuja”, refere Fernandina Ribeiro, residente.Quem parece rejubilar com a decisão são alguns comerciantes. “A feira tira muito negócio a nós, porque eles vendem mais barato. Vendem mais barato porque não pagam rendas nem ordenados a empregados. Se o mercado mensal for embora é bom para nós, sem dúvida, porque as pessoas terão menos alternativas”, defendeu um comerciante de pronto a vestir que preferiu manter o anonimato.O mercado onde está não fica bemManuel Moreira veio morar para a Azambuja aos 8 anos. Hoje tem 80 e está reformado. Diz que ainda é do tempo em que os mercados mensais eram a única oportunidade de comprar as novas tendências. Frequentou o mercado quando era no largo da igreja e no largo dos combatentes. Depois viu com desagrado a mudança para junto da linha de comboio. “Aquilo como está também não está nada bem. Atravessar a estrada é um perigo e quando chove o sítio fica um lamaçal”, refere. Ainda assim, diz que é uma grande perda para a Azambuja se o mercado deixar de existir.Venda deve prosseguir, mas noutro localAos 63 anos Maria Luzia, comerciante, diz que é uma grande perda se o mercado mensal de Azambuja deixar de existir. Nasceu e sempre viveu na Azambuja com o mercado ali tão perto. “Desde que se mudou para junto da linha de comboio é que não acho bem. É sempre um perigo atravessar a rua, não há passadeiras e está num sítio apertado”, lamenta. A sexagenária diz que vai ao mercado regularmente e que este não lhe afecta o negócio. “Penso que o mercado devia ser para continuar, é importante para a Azambuja, mas de preferência noutro sitio e noutras condições”, defende.Um apelo para que a tradição se mantenhaMaria Gertrudes, 61 anos, doméstica, mora na Azambuja. “Acho que o mercado faz falta à nossa vila, é uma tradição da Azambuja que se perde e isso é mau”, refere. A sexagenária diz a O MIRANTE que costuma ir todos os primeiros sábados de cada mês ao mercado e que a autarquia se devia “esforçar por mantê-lo”. Produtos que o comércio tradicional já não temSempre que há mercado mensal Joaquim Preto, 66 anos, reformado, é um cliente certo. Lamenta saber que o mercado está à beira do fim e diz que este é útil para muita gente que vem do alto do concelho. “Até para nós aqui da Azambuja, que estamos habituados a ir ao mercado”, refere. Além disso, para Joaquim Preto, “o mercado tem coisas que às vezes o comércio tradicional já não tem”. Para este morador, perder o mercado mensal é “perder uma das grandes conquistas da Azambuja”.
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