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Ao volante por cidades e serras

Ao volante por cidades e serras

Rui Correia é motorista profissional e transporta gases liquefeitos

Agarrou pela primeira vez no volante de um camião em 1985 e nunca mais parou. Rui Correia transporta matérias gasosas sob pressão e orgulha-se da “liberdade de olhar a natureza, percorrer montes e vales e falar com as pessoas” todos os dias. O camionista sublinha a importância do civismo e da segurança nas estradas.

Acorda todos os dias pelas 07h30 e parte de A-dos-Melros, em Alverca, em direcção a Castanheira de Ribatejo, onde o espera uma jornada pelas estradas da região. Rui Correia, camionista, transporta gases liquefeitos para indústrias e hospitais, considera-se privilegiado por “ir dormir todos os dias a casa” mas sublinha a “responsabilidade maior” que a carga que transporta implica na sua condução. “Posso levar hidrogénio, acetileno, dióxido de carbono, oxigénio, ou até gases muito venenosos. Tenho de ter consciência e fazer sempre uma condução defensiva”, relata Rui Correia. O profissional, de 45 anos, que abraçou uma carreira ao volante de pesados há quase 24, defende que, “na estrada, não custa nada respeitar os outros” e apela ao civismo entre automobilistas. Na estrada, garante Rui Correia, a “regra de ouro” para quem transporta matérias perigosas é a distância mínima de 50 metros para o veículo da frente. “É a minha segurança e a dos outros, para travar se necessário. Só que sempre que há essa distância sou ultrapassado por dois ou três automóveis ligeiros e tenho de voltar a aumentar o espaço entre nós”, nota. O trabalho de quem conduz veículos de transportes pesados, explica, não se limita a seguir pelo caminho mais curto até determinado local. “Tenho sempre o rádio ligado para saber o que se passa na estrada. Há muita falta de civismo. Senão como é que uma via como a Recta do Cabo, tão larga, regista sempre tantos acidentes graves?”, sublinha o motorista de pesados. O prazer de conduzir sobrepõe-se, no entanto, às dificuldades. “O que dá mais gozo é a liberdade de não estar fechado num escritório. Vejo a natureza, desço e subo montes e vales e falo com as pessoas”, descreve Rui Correia. Os hospitais Reynaldo dos Santos (Vila Franca de Xira), Garcia de Orta (Almada), Curry Cabral, IPO (Lisboa), CUF (Torres Vedras e Lisboa), da Luz e Britânico (Lisboa) são alguns dos locais de paragem mais frequentes para Rui Correia, que também transporta para indústrias. Chegado aos locais, a descarga das garrafas de gás é feita com a ajuda de um porta-paletes incluído no camião. A distribuição é feita segundo um itinerário fornecido no dia anterior. As emergências, no caso de Rui Correia, também surgem – o seu serviço pode ter de ser feito a qualquer hora do dia – e esteve recentemente às 22h00 no Curry Cabral para suprir de ar medicinal aquela unidade, após uma avaria num compressor. O irmão, que trabalha na mesma empresa, chegou àquele hospital com mais reforços pelas 06h00. Nos dias habituais, Rui Correia chega a casa pelas 19h00. Depois, toma conta do bar do Centro Social de A-dos-Melros. “Dá para conciliar, com algum esforço”, explica. Ao contrário da maior parte dos trabalhadores, o motorista de pesados está proibido de trabalhar em excesso. “O máximo que podemos trabalhar são 10 horas num dia, mas teremos de as compensar com tempo de descanso ao longo dos dias seguintes. Por cada quatro horas e meia de trabalho, temos de descansar 45 minutos”, conta. O número de horas trabalhadas é registado no tacógrafo do camião e cada motorista tem um cartão ou discos de registo que podem ser solicitados pelas autoridades. Adiantar-se em 8 minutos face ao previsto nas descargas de material pode custar multas acima dos 700 euros, nota o profissional. A segurança, no caso do transporte de matérias perigosas, é reforçada com formação semestral em prevenção rodoviária, exames internos e uma licença (ADR) que é renovada de cinco em cinco anos. Aos 65, Rui Correia sabe que terá de deixar o transporte de mercadorias em pesados. Mas tem uma alternativa. “Passo a conduzir veículos de dois eixos”, diz, com um sorriso. A vontade que o arrancou a uma juventude passada entre o trabalho nas obras e em restaurantes lisboetas e alverquenses para o transporte de azeitonas e frutos secos e daí as matérias perigosas persiste na mente do amante da condução. “Eu gosto muito mais de ir lá em cima que num automóvel ligeiro”, confessa.
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