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“Tirei o Futebol Clube de Alverca de uma falência anunciada”

“Tirei o Futebol Clube de Alverca de uma falência anunciada”

António Manuel Fernandes abandona o clube “triste, desiludido e maltratado”

Esteve mais de vinte anos ligado ao Futebol Clube de Alverca (FCA). Depois da saída de Luís Filipe Vieira, assumiu a direcção do clube ribatejano em 2002, com uma dívida de dois milhões e quinhentos mil euros. Sete anos depois, António Manuel Fernandes demite-se e deixa nos cofres do Alverca 726 mil euros. Em entrevista a O MIRANTE fala das razões que o levaram a pedir a demissão de presidente da direcção, da situação financeira e do futuro do clube e de Luís Filipe Vieira. Voltar um dia ao FCA “nem pensar”, diz o ex-presidente. Jorge Afonso da Silva

Que balanço faz de sete anos como presidente do Futebol Clube de Alverca?Tirei o clube de uma falência anunciada. Com a falência da Sociedade Anónima Desportiva (SAD), deixou de se poder praticar futebol. Consegui, começando pelo último degrau, que é a segunda distrital, num ano subir à primeira distrital e este ano não subimos à honra por um lugar. Temos onze modalidades amadoras que são as que mais prezo. E com o novo projecto, estávamos em vias, de finalmente, arrancar com as obras do centro de estágio. O balanço é positivo.O que esteve na origem da decisão de pedir a demissão?Duas situações. A não assinatura de uma acta, por parte do presidente da assembleia-geral, Jorge Barroso, num negócio de 500 mil euros, referente a uma parcela de três mil metros que temos para vender. O negócio foi aprovado na última assembleia-geral de 8 de Junho, com 34 votos a favor e um contra. Chegados a Julho, o presidente da assembleia-geral ainda não tinha assinado.Já tinham comprador?Já. À Imocochão. (Luís Filipe Vieira é o sócio maioritário). Por causa do comprador me conhecer como uma pessoa de palavra e precisar desta acta assinada, é que eu já andava a mentir às pessoas há mais de um mês. Disse já chega e pedi a demissão. É um bom negócio para o Alverca?Sem dúvida. Aquilo não serve de nada. É um terreno em forma de bico, por trás da bancada pequena do estádio. Será para construir a estrada que dá acesso à urbanização da Imocochão. E a outra situação?O bar do Alverca é explorado pelo José Tomás que há oito anos não fazia contas com o clube e ainda apresentava três mil euros a seu favor. Pretendíamos liquidar as contas e foi delegado no nosso consultor jurídico, que faz parte da direcção, pô-lo na rua. O presidente da assembleia-geral entendia que eu é que o tinha de pôr na rua. Não cedo a chantagem de ninguém.Oficializou a sua demissão na reunião de direcção de dia 16…O regulamento interno do FCA, permite ao presidente da assembleia-geral, sempre que pudesse e quisesse, estar presente nas reuniões, sem direito a voto. Fui acusado por ele, em frente a toda a gente, que eu não respeitava as decisões da direcção. Só ouve um vice-presidente que desmentiu, os outros não desmentiram, mas calaram-se. Antes de vestir o casaco e vir-me embora disse: digam-me uma dessas situações. Senti-me pouco acompanhado e maltratado.Sai magoado?Só me magoa quem eu quero. Saio triste e desiludido. Pela primeira vez na minha vida não levei um projecto até ao fim. Tenho a minha vida e não preciso daquilo para nada. Agora vou-me dedicar às três empresas que tenho em Alverca e uma no Porto.Espera um dia regressar ao clube?Nem pensar nisso. É a minha última palavra.Acha que terá alguma repercussão a sua demissão?O futuro do Alverca não está posto em causa Os insubstituíveis estão todos no cemitério. É preciso alguém que dedique as horas que eu dediquei. Fui com 39 graus de febre assinar o protocolo com a câmara de Vila Franca.“Saneei financeiramenteo clube”Qual é a situação financeira do clube?Herdei o Alverca endividado em mais de 500 mil contos (dois milhões e meio de euros) fora os juros. Deixo o clube com dinheiro nos cofres. O Alverca tem, como qualquer empresa, dívidas correntes. Talvez 125 mil euros. Mas não tem nenhuma acção de penhora nem nenhuma acção em tribunal. Quanto dinheiro deixa nos cofres?Saneei financeiramente o clube e deixo o clube com 726 mil euros. Dava para o Alverca, com uma gestão equilibrada, manter-se nos próximos três anos. Até que a crise passe, para depois arranjar publicidade, pois neste momento é impossível. Há ainda os direitos FIFA do Maniche. Não pagaram ainda mas eram mais 120 mil euros que ficavam no clube.Em que ponto fica o dossier do Complexo Desportivo do Alverca? O projecto teve de ser reestruturado e já devia ter sido entregue na câmara de Vila Franca de Xira. Estou convencido, que se eu continuasse, em Setembro estávamos a começar com as obras. Até Agosto, talvez Setembro do próximo ano, estivesse totalmente concluído e pago. Fica em causa o projecto com a sua saída? Se tivesse ficado, penso que a direcção teria tomado uma posição, uma vez que o litígio era só com uma pessoa. Como não tomou, leva-me a crer que as linhas orientadoras serão as mesmas nesta situação. Acredito que o complexo é para avançar.Falou em câmara. Como era o seu relacionamento com a presidente?Não tínhamos uma relação de amizade, mas seria o melhor possível. Era um relacionamento institucional. Era falso que tinha mau relacionamento com a câmara. Intervi sempre em defesa dos interesses do FCA.E com o presidente da junta de Alverca?Não era uma pessoa muito aberta mas não tenho nada a dizer.“Alverca foi Trampolim para Luís Filipe Vieira”Aceitou o convite de Luís Filipe Vieira (LFV) para lhe suceder no cargo de presidente. Sabia da situação do Alverca?Como agi de boa fé, na, altura não tive o cuidado de ir ver a situação. Só me apercebi quando, logo a seguir a SAD entra no descalabro que é público. Luís Filipe Vieira é responsável pela situação do Alverca?Se fosse o presidente quando foi deliberado disputar as ligas profissionais, não tinha aceite de maneira nenhuma. O clube não tinha capacidade financeira nem meios para disputar a Primeira Liga. Nem uma Divisão de Honra.Não manifestou a sua discordância?Manifestei. Mas como presidente da assembleia-geral limitei-me a pôr à votação dos sócios as propostas que foram apresentadas. Os sócios querem é futebol. De onde é que vem o dinheiro, isso é problema dos outros. Acha que o LFV hipotecou o futuro do clube?Estar a condenar alguém porque fez aquilo que os sócios queriam. Ou porque não quis na altura tomar a posição correcta, que era estabilizar o clube financeiramente e subir degrau a degrau, ou teve ambições desmedidas que conduziram a esta situação. Só perguntando a ele. Eu teria feito de maneira diferente.A saída do LFV foi premeditada, sabendo o que ia acontecer no Alverca?(Silêncio) Só lhe posso dizer o que ele me disse na altura. Que era incompatível as responsabilidades que ia desempenhar no Benfica com a manutenção da presidência quer do FCA quer do Alverca Futebol SAD. E eu acreditei nisso.E hoje acredita? Não. De maneira nenhuma. Nós devíamos ter uma secção de ginástica com trampolins e não temos. O Alverca serviu de trampolim de lançamento de determinada pessoa.Luís Filipe Vieira? Evidentemente.Noto uma certa mágoa nas suas palavras… Se perdesse 200 mil euros ficava com um sorriso nos lábios?Está a referir-se ao quê? Ao meu dinheiro que deixei no Alverca para que o clube não caísse no fosso em que estava. Se saísse tinha caído. Não tinha hipóteses. Era outro Vilafranquense.Jorge Barroso assinou a acta e agradeceu a António Manuel FernandesConfrontado com as críticas de António Manuel Fernandes, que acusou o presidente da assembleia-geral do Futebol Clube de Alverca de não assinar a acta que permitia, que o negócio do terreno do “bico” avançasse, Jorge Barroso responde. “ Disse que assinava a acta depois de estarem cumpridas todas as decisões dos sócios. Antes da venda do terreno, decidiram que o José Tomás (pessoa que explora o bar principal do Alverca) tinha de se ir embora até 30 de Junho e não foi. O ex. presidente não o queria pôr na rua”, acusa o presidente da assembleia-geral do AlvercaMas Jorge Barroso, antes do final da reunião, em que António Manuel Fernandes oficializou a sua demissão, e após este ter saído, assinou a acta e confirmou a O MIRANTE que o negócio com a Imocochão vai mesmo avançar.Numa nota final, o presidente da assembleia do clube ribatejano deixa uma palavra ao presidente demissionário. “Apesar dos erros, uma pessoa que está, de uma forma honesta, durante vinte anos num clube, e que dá tudo o que tem em prol dessa colectividade, penso que é de registar e de se dizer um muito obrigado”, disse Jorge Barroso.Hélder Vieira é o senhor que se segue à frente dos destinos do AlvercaUm projecto de continuidade é o que promete o novo presidente do Futebol Clube de Alverca (FCA). Hélder Vieira tem 42 anos e era um dos vice-presidentes da direcção do demissionário António Manuel Fernandes. Depois de ter sido cooptado pelo presidente da assembleia-geral do clube Ribatejano, Jorge Barroso, o seu nome foi aceite na reunião dos órgãos sociais que decorreu na quinta-feira 23 de Julho.Empresário ligado à área da arquitectura das engenharias, o novo presidente do FCA morou na cidade ribatejana mas actualmente reside na freguesia do Forte da Casa. Quanto às linhas mestras que vão orientar a sua presidência, Hélder Vieira é claro. “As medidas vão continuar a ser as mesmas. É um projecto de continuidade. O mais importante para o Alverca neste momento é o futuro centro de estágio que tem de ser continuado e concluído”, garante o presidente.Com o objectivo de quebrar “um desfasamento” que havia entre os sócios e a estrutura do clube, Hélder Vieira defende “que os sócios se façam ouvir e que sejam ouvidos”. A Assembleia-Geral vai reunir no dia 17 de Stembro.
“Tirei o Futebol Clube de Alverca de uma falência anunciada”

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