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Uma arte marcial que exercita o corpo, a mente e o espírito

Uma arte marcial que exercita o corpo, a mente e o espírito

Sensei Pedro Porém trouxe Kosho Ryu Kenpo para Portugal

“Em acção flui como um rio. Na quietude permanece como uma montanha”. O objectivo do Kenpo, uma arte marcial com 800 anos, não é alcançar a vitória sobre o adversário, mas sobre nós próprios, diz o mestre de Alhandra, Pedro Porém, que trouxe a escola de Kocho Ryu para Portugal. Ana Santiago

Olhos de tigre, respiração de dragão. O instrutor de Alhandra, o sensei Pedro Porém - que trouxe a arte do Kosho Ryu Kenpo para Portugal em 1994 - inicia mais uma aula. Os alunos da classe infantil olham com admiração o mestre que ensina os segredos de uma arte marcial com oito séculos de história. O Kenpo, que significa a “lei do punho”, é uma arte marcial que procura o desenvolvimento do ser humano em termos físico, mental e espiritual.Os praticantes aprendem a arte do combate, mas o objectivo da prática é o conhecimento interior, o equilíbrio, a harmonia e uma convivência pacifica e respeitosa com a humanidade. A verdadeira defesa pessoal é a arte da antecipação de modo a prever as situações de perigo e evitá-las, mas o kenpoca está treinado para repelir a agressão e aplicar técnicas letais à integridade física do agressor, explica Pedro Porém. Magoar, ferir ou matar não é o caminho da Humanidade para os praticantes.O objectivo das artes marciais não é a vitória ou a derrota sobre o adversário, mas a vitória sobre nós mesmos. “Podemos vencer tudo o que está à nossa volta, mas aquilo que nós temos que vencer é o guerreiro dentro de nós. Controlar as emoções e determinadas reacções e atitudes mais impulsivas”A prática torna o atleta mais confiante o que leva a que as potenciais situações de violência não aconteçam. “Costumo dizer que é um escudo invisível”, diz Pedro Porém.O mestre divide-se entre os dojos de Arruda dos Vinhos e Alhandra (http://www.fpkk.eu/dojos.htm), mas existem já 15 dojos com orientação técnica do sensei de Alhandra. A arte chega também à Póvoa de Santa Iria, Samora Correia, Sobralinho, Forte da Casa, Alverca, Santa Apolónia, Buraca, Brandoa, Cadafais, Alenquer, Porto, Gaia e Sobral de Monte Agraço. No total a escola conta com 400 atletas que vão chegando por recomendação. Sem qualquer tipo de publicidade. “Gosto que as pessoas venham ter comigo já com uma ideia do que querem. A melhor publicidade é feita através dos meus alunos”, explica.Em Arruda dos Vinhos, município em que é responsável pela juventude e desporto, trabalha com crianças problemáticas e garante que os resultados são bons. “Noto que as artes marciais têm sido uma terapia”, diz o representante do município na comissão de protecção de crianças e jovens. As técnicas de meditação e relaxamento permitem que a criança desenvolva a auto-estima e acredite nas suas potencialidades. As crianças chegam ao dojo encaminhadas por pais e educadores. Os adultos procuram o espaço sedentos de actividade física e mental que ofereça mais do que a simples actividade de ginástica. “Já vêm à procura de qualquer coisa com que se identifiquem. Chegam com grandes carências a nível emocional. Precisam de qualquer coisa que as possa equilibrar. Quando vêm fazer uma aula comigo não perdem uma hora ganham uma hora. Estão a carregar baterias para enfrentar os problemas.”Há quem veja o filme Karaté Kid e venha à procura de uma coisa que não corresponde à realidade, diz Pedro Porém. “Tenho mais trabalho a desmontar essa ideia. Mas quando vejo que os miúdos saem calmos sinto uma grande recompensa”.Os instrutores têm a sua profissão e fazem da prática do kenpo uma filosofia de vida para ajudar o próximo. “É um trabalho de uma vida inteira”, explica Pedro Porém, apesar de sobretudo os mais jovens exigirem resultados imediatos. “Sempre que ensino estou a aprender. Seja a um cinto negro ou a uma criança”.Captar a essência de cada coisa e dar atenção ao pormenor faz parte da arte que ensina a aprender mesmo com o que é menos bom. “Costumo dizer que estou nisto há muitos anos, mas ainda não sei nada. Continuo a ser um humilde estudante”. Tal como ensina a escola do kenpo: “Quando chegares ao cume da montanha continua a subir”.Talhado para as artes marciaisAos seis anos começou a praticar Judo em Alhandra. Aos nove “exigiu” à mãe ser matriculado no Colégio Militar e tomou contacto com as artes bélicas. Só depois de deixar o colégio militar, em 1987, ligou-se ao Kenpo. Fez uma pesquisa e descobriu assim a arte marcial que mais se identificava com a sua forma de estar. “Já nasci com esta vontade de treinar artes marciais”, descreve o sensei de Pedro Porém.Tem 37 anos, mora em Alhandra e tem dois filhos, de seis e dois anos. É responsável pelo sector do desporto e juventude na Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos e é também o representante do município na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. Dá aulas em Alhandra à terça, quinta e sábado e em Arruda à segunda, quarta e sexta. O tempo está contabilizado ao minuto por isso à falta de tempo para a esposa e filhos responde com atenção de qualidade.“Tento ter paciência. Não sou como o pai que chega duas horas antes, mas manda o filho jogar playstation”.O dinheiro que recebe por via da arte marcial é aplicado na formação. Se estivesse a tempo inteiro a minha filosofia de ver as coisas ia mudar completamente, garante. Alguns dos seus antigos alunos tornaram-se professores. “Felizmente encaram a arte como filosofia de vida”.Pedro Porém trouxe o Kosho Ryu Kenpo para Portugal. Frequentava o curso superior de relações internacionais quando decidiu apanhar o comboio para Espanha. Foi lá que encontrou um mestre chileno, o seu primeiro professor. “Passei a ir passar temporadas com ele para aprender ”, diz o mestre que passou a fazer formação regular na Espanha, Suécia, Escócia e nos Estados Unidos, onde estão os maiores mestres de kenpo.A escola é recordista no contacto com mestres estrangeiros. Actualmente a organização já tem mais de 400 atletas de todas as idades. Sessenta por cento homens e quarenta por cento mulheres.O que é o Kosho Ryu Kenpo?Kosho Ryu Kenpo ou o “caminho do velho pinheiro”. É esta a linhagem do sensei Pedro Porém, um mestre de kenpo de Alhandra que se apaixonou por esta escola e trouxe a arte para Portugal. A Federação Portuguesa de Kosho Ryu Kenpo foi criada em 1994.Os segredos da arte, que surgiu na China e se desenvolveu no Japão, foram passando de geração em geração em geração no seio familiar. Depois do início do século XX foram mostrados ao Ocidente no Hawai. O grupo funciona como uma família e há sentido de camaradagem e solidariedade. “Em acção flui como um rio. Na quietude permanece como uma montanha” e “Vem como o vento, vai como o relâmpago”, ensinam os mestres.Conquistar tranquilidade e auto-controloTem 40 anos e é coordenadora de um posto de atendimento no Serviço de estrangeiros e Fronteiras, em Lisboa. A prática de Kosho Ryu Kenpo com o sensei Pedro Porém dá a Elizabete Mália, residente em Arruda dos Vinhos, a tranquilidade para enfrentar pessoas que por vezes enfrentam graves problemas. A mãe de dois filhos que também praticam, cinto amarelo, licenciada em sociologia, retira da arte disciplina e paz de espírito. Desde 2006 que o kenpo faz parte da sua filosofia de vida. Rui Sirgado, um técnico de aeronáutica, funcionário das Ogma, a residir na Póvoa de Santa Iria, cinto castanho, há 11 anos que pratica kenpo em busca de um bem estar mental e físico e do auto-controlo. “Mesmo não o pensando isso reflecte-se no nosso dia a dia”, diz o técnico, 56 anos, calmo por natureza, mas que pela profissão que exerce necessita de elevada dose de concentração. “O sensei promove a entreajuda e isso é uma maneira de estar na vida. Também não é qualquer pessoa que transmite isso”, concordam.
Uma arte marcial que exercita o corpo, a mente e o espírito

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