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Uma profissão que resiste à crise

Uma profissão que resiste à crise

José Faria é um dos poucos sapateiros de Vila Franca de Xira

O sapateiro conserta, mas também realiza outros trabalhos na área do calçado. É uma profissão antiga que ainda assim vai resistindo à crise e ao tempo.

A pequena loja da rua Direita, em Vila Franca de Xira, está repleta de sapatos, a maioria por consertar, fazendo lembrar um híbrido entre uma sala de costura e uma oficina. Os sapatos têm correias partidas, solas gastas e falta de capas. O cheiro a graxa emana até à rua. O sapato já não é apenas uma necessidade, é cada vez mais um objecto de estilo e moda. Talvez por isso ainda haja quem prefira reparar aquele par mais exclusivo em vez de deitar fora e comprar um novo.Essa poderá ser uma das explicações para o facto da profissão de sapateiro continuar a vingar num mercado que tem cada vez menos profissionais qualificados. José Faria, 37 anos, é sapateiro na cidade de Alves Redol e diz adorar a profissão. O seu dia começa às 7h00, abrindo a pequena “oficina” uma hora depois. “Ponho as coisinhas em ordem para quando os clientes chegarem isto estar arrumado. Depois começo a fazer o trabalho que as pessoas marcaram para aquela data ou dia. Ponho capas, solas, fechos em malas, fechos nas carteiras, elásticos, palmilhas e também faço outros trabalhos”, conta a O MIRANTE.Natural da freguesia madeirense de Câmara de Lobos, José demora perto de duas horas para mudar umas solas e apenas cinco minutos para colocar umas capas. “Nas solas demora-se um pouco mais porque é o tempo que a cola demora a secar”, explica.O sapateiro usa várias ferramentas para exercer a sua profissão. Uma máquina cortante para realizar furos em cintos e cortar materiais rijos, uma máquina de braço para dar pontos e coser fechos e uma lixadeira, “que é a máquina mais importante de todas, para aparar as solas e outros tipos de materiais”.Até hoje José Faria só desempenhou duas profissões. A primeira, ainda na Madeira, como artesão de vimes. Mais tarde, com o apoio do Estado, frequentou um curso profissional de sapateiro e decidiu aventurar-se por conta própria no continente. “Trabalhar por conta própria foi uma opção que eu tomei porque acho que sou capaz de dar conta do recado e sinto-me mais à vontade. Tenho mais liberdade para poder pensar e trabalhar”, afirma.Há medida que o mês passa, José vai registando as saídas de stocks. “O material vem todos os meses. O viajante expõe tudo numa carrinha e nós vamos fazendo uma selecção das coisas que faltam”, explica. O Verão não é uma boa estação para quem repara sapatos. “Ao contrário da formiga, eu trabalho no Inverno para guardar para o Verão. No Inverno o sapateiro agradece à chuva e no Verão a formiga agradece ao sol”, conta o nosso interlocutor. Segundo José Faria a profissão é estimulante porque obriga “a pensar muito e a ser criativo”. Este profissional garante que até ao momento não tem faltado volume de trabalho e que ainda vai dando para suportar a despesa, provando que a profissão vai conseguindo superar a passagem do tempo. “Hoje em dia os jovens têm medo do trabalho e medo de sujar as mãos. Acho que ser sapateiro é uma arte como as outras, é maravilhosa e é pena os rapazes novos não aprenderem esta arte”, lamenta o profissional que diz que “é preciso ter gosto, depois o jeito vai-se encontrando a cada dia que passa”. “As pessoas quando compram um par de sapatos deviam dar mais 10 ou 20 euros e trazerem um calçado mais confortável e de maior qualidade. O mais caro dura mais e tem a possibilidade de o sapateiro poder trabalhar com menos medo do que num sapato barato. O tipo de material não tem nada a ver, é lixo que se compra”, explica José Faria, acrescentando que já reparou “pares de sapatos” com tamanhos diferentes.Com vários anos de profissão este sapateiro madeirense, que já tem um pouco de Vila Franca de Xira na alma diz, com um sorriso, que os piores sapatos que lhe passam pelas mãos são os que emanam um cheiro menos agradável. “Nesses casos custa bem mais mexer neles”, remata com um sorriso.“Hoje em dia os jovens têm medo do trabalho e medo de sujar as mãos. Acho que ser sapateiro é uma arte como as outras, é maravilhosa e é pena os rapazes novos não aprenderem esta arte”
Uma profissão que resiste à crise

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