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Começar de novo

Esta crónica vai servir para desabafar o que me vai na alma relativamente ao Verão. Nesta altura as minhas férias são passadas a trabalhar. É a altura em que a equipa fica mais pequena. Alguém tem que varrer a casa, despejar o lixo, arrumar os papéis, receber as dívidas mais antigas para não faltar dinheiro para os vencimentos; enfim, todos os anos, em Agosto, divirto-me fazendo férias a trabalhar na profissão que menos gosto mas que aprendi mais depressa.Claro que tenho saudades de ser jornalista a tempo inteiro. Mas isso já não é meu privilégio. Tenho que trabalhar para que aos outros não falte trabalho. Mesmo sem olhar para trás tenho saudades de procurar e escrever uma boa história. Às vezes tenho a história mas não tenho tempo para a contar. Partilho com quem sabe da poda e sinto a alegria de trabalhar com jornalistas que sabem viver a profissão como eu ou melhor do que eu.O Verão tem uma vantagem em relação ao resto do ano. Nesta altura não há tempo perdido nos tribunais a aturar queixas como as dos Ruis Barreiros da política. É um descanso porque podemos passar mais tempo a almoçar, a escrever, a arquivar fotos, a pôr a conversa em dia. À noite podemos ver um filme no vídeo, ou ler um livro, em vez de ficarmos a escrever as notícias do dia anterior.Não queria escrever sobre o passado mas a conversa pede meças. Em 23 anos de jornalismo nunca fui condenado em tribunal. Mas já respondi muitas dezenas de vezes. Sempre por ter sabido usar a caneta e as palavras e nunca por ter metido os pés pelas mãos. Sempre por ter feito estragos cumprindo o dever profissional e cívico e nunca por razões pessoais ou outras. Sempre pisando as canelas aos doutores da mula russa mas nunca querendo saber da bosta que eles pisam ou da porcaria que eles comem.No Verão divirto-me mais a trabalhar. Ficar à secretária, protegido do calor com o ar condicionado ligado, é mil vezes melhor que apanhar um escaldão numa praia ou ser apanhado nas filas de automóveis que fazem a delícia dos homens das oficinas e das gasolineiras.Claro que durmo com os advogados a quem tenho que pagar para me defender dos Ruis Barreiros da política; das seguradoras como a Victoria Seguros; dos canalhas dos partidos políticos que gostavam de ter um Portugal só para eles e para os da sua família. Mas quem é que não dorme com companhia nos dias de hoje? Prefiro mil vezes dormir com os advogados que me defendem do que sozinho com a cabeça pesada e cheia de pesadelos.Sinto que vamos ter um Verão quente. Tenho saudades de escrever a tempo inteiro e de trabalhar todos os dias para as manchetes do meu jornal. Um dia destes começo tudo de novo. JAE

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