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“Sem bomba de gasolina União Desportiva Vilafranquense fecha portas”

Colectividade deve cerca de dois milhões de euros ao fisco e Segurança Social

Se no próximo mês a União Desportiva Vilafranquense (UDV) não tiver a garantia de que a construção da bomba de gasolina seja uma realidade, o clube vai mesmo fechar as portas. A garantia é dada pelo presidente da colectividade.Em entrevista a O MIRANTE, Joaquim Pedrosa, fala ainda das razões que o levaram a mudar de ideias e a recandidatar-se em Outubro. Explica como é que o clube tem conseguido sobreviver aos graves problemas financeiros.

Há quantos anos é presidente da União Desportiva Vilafranquense (UDV)?Vai fazer quatro anos em Outubro. Mas quando entrei, a ideia era a de alterar os estatutos, no sentido de ficar apenas dois. Na altura pensei que era o tempo suficiente para endireitar o barco e que depois viriam outros.Mas as coisas não correram como esperava…Porque foi-se sempre adiando a resolução dos gravíssimos problemas que o clube tem. A situação arrastou-se e ainda não está resolvida. Daí haver alguma indecisão depois de acabar o meu mandato.Está a dizer que se vai recandidatar em Outubro?Há dois meses era minha intenção não o fazer. Estava cansado e a minha actividade profissional também ocupa muito do meu tempo. Fiz vários contactos com algumas pessoas que pertencem à actual direcção, no sentido de se arranjar um presidente, mas ninguém aceitou. Como comecei este projecto há quatro anos e sempre disse que o clube não ficaria num vazio directivo, possivelmente vou recandidatar-me. Serão mais dois anos. Com a garantia de mais pessoas para o elenco directivo, e o objectivo de dinamizar a secção cultural do clube, que foi sempre um dos meus sonhos desde que assumi a presidência da direcção. E o mais importante, o de termos a perspectiva de resolver o problema financeiro através da instalação da bomba de gasolina. Acredita que até Outubro surja mais alguma lista? Era bom que aparecesse alguém e que resolvesse o problema do clube. Nessa altura os sócios decidirão. Não estou agarrado ao poder mas não acredito que apareça mais algum candidato. Qual é o passivo da UDV?Quando assumimos a direcção havia um passivo de 3,5 milhões de euros. Tínhamos uma dívida com os jogadores de futebol e treinadores, de quando estivemos na segunda divisão. Negociamos com 11 atletas, com o treinador Rui Vitória, houve entendimento e estamos a fazer o pagamento em 26 meses. Mais de metade já está liquidado. Estamos também a pagar uma dívida à Lindley Marinas, (empresa que construiu a marina fluvial), depois de termos chegado acordo. O pagamento faseado está a ser feito com as receitas da própria marina. Actualmente o passivo ronda os dois milhões de euros. Quase na totalidade, dívidas à Segurança Social e ao fisco. Como tem sido gerida essa dívida? Neste momento sou arguido, com termo de identidade e residência, em processos que remontam a 2003/2004. São uma série de processos que estão no tribunal, por causa das finanças e do fisco, com os quais não tenho nada a ver, mas como presidente da direcção, respondo por isso. Só ainda não foram julgados, porque temos apresentado sempre, na altura desses processos, a tentativa de resolução do problema através do Processo Extrajudicial de Conciliação. E o tribunal tem adiado o julgamento até resolvermos o problema, ou não.Ainda está sob o termo de identidade e residência?Sim. Se for para Espanha tenho de avisar a polícia que vou para lá. Quando tomou posse tinha conhecimento da situação financeira real do clube?Tinha. Na altura não haviam listas e o clube ia acabar. Fiz uma série de contactos e decidi avançar. Tenho uma ligação muito forte, bebi muito deste clube e não quis que a colectividade fechasse portas. Foi a intenção de estar ligado à UDV e de pensar que éramos capazes e penso que ainda somos capazes de salvar isto. Mas dá muito trabalho e muitas chatices.Já pensou em desistir?Já. Várias vezes. Um momento que me entristeceu muito foi, quando há dois anos, me chamaram às finanças a Lisboa para ser constituído arguido. Mas nunca fui homem de deixar as coisas a meio. Sou um filho da terra e não pretendo medalhas. Apenas servir o clube.Quais são as grandes dificuldades da colectividade?São de toda a ordem. Especialmente financeira. É sempre um sufoco, especialmente para pagar aos empregados. Depois não há dinheiro para mais nada. Todos os meses é muito complicado arranjar verbas para pagar a luz do pavilhão e do campo do cevadeiro. É muito caro. O número de pessoas que fazem parte da direcção também é um problema. Há lugares que deveriam ser preenchidos, como um director de pavilhão ou director de campo de futebol. Recai tudo sobre duas ou três pessoas. Em mim e no tesoureiro, que temos de fazer de porteiros no campo de futebol e ajudar a marcar o campo.Que mensagem quer deixar aos sócios e à população de Vila Franca de Xira?Que este clube deu muito a esta terra e que não pode acabar. Os Vilafranquenes devem confiar nas pessoas que estão à frente da UDV neste momento. Vamos fazer desta colectividade o clube que foi, se não, ainda maior. Que tenha um ecletismo bastante grande e não só o futebol. Que faça com que uma grande parte da população se reveja no clube e que este esteja à altura em termos de condições, para que possa proporcionar a prática do desporto e da cultura a um maior número de pessoas. Que se unam a nós.“Sem bomba de Gasolina UDV acaba”.Como é feita a gestão dos dinheiros da colectividade?Quando entramos, fizemos o diagnóstico da situação económica e financeira do clube e chegamos à conclusão que só com receitas extraordinárias é que poderia sobreviver. As receitas fixas são provenientes do parque de estacionamento, dos sócios e do aluguer de algumas salas. O dinheiro dá para fazer a gestão corrente do dia-a-dia e mesmo assim não chega. Para colmatar o valor em falta temos de fazer ginástica financeira, organizar sorteios e promover outras iniciativas. Houve ainda uma redução de custos, nomeadamente a nível de pessoal e conseguimos equilibrar as contas.E onde vão buscar as receitas extraordinárias?Para pagar a dívida à Segurança Social e ao fisco, é evidente que tinha de haver uma receita suplementar. Isso só poderia vir de uma bomba de gasolina. Apresentamos o plano à câmara de Vila Franca de Xira, que deu todo o apoio, no sentido de resolver esse problema. Não temos força negocial nem dinheiro para comprar terrenos. Mas isto tem-se vindo a arrastar há mais de três anos.Porquê?Por falta de entendimento nas contrapartidas entre a câmara e o proprietário que cedia o terreno ou porque o local não era o melhor. Mas neste momento estamos com algumas hipóteses para desbloquear a situação.Qual é que tem sido a posição da autarquia?Desde que entramos, tem dado apoio ao clube.Mas…A câmara tem as suas limitações. A nossa necessidade é de dinheiro e a autarquia não o pode disponibilizar para nos dar directamente. Estamos enquadrados no Programa de Apoio ao Movimento Associativo (PAMA) e recebemos de acordo com isso. Numa determinada altura recebemos apoio no que diz respeito a viaturas para as deslocações. Estamos a desenvolver alguns cursos nas nossas instalações que nos permitem angariar mais alguma receita. Foi a autarquia que nos abriu essa porta. A junta de freguesia e mesmo outras colectividades também nos têm apoiado. Mas há a garantia da autarquia de que a construção da bomba de gasolina vai ser uma realidade?Não há uma garantia, mas ultimamente houve uma manifestação de boa intenção de encetar esforços para resolver a situação.O futuro da UDV depende da instalação dessa bomba de gasolina?Depende. É a única forma de salvar o clube.Se não for aprovada rapidamente o Vilafranquense acaba?Acaba. Não há hipótese nenhuma.A autarquia tem consciência disso?Perfeita consciência. Tivemos uma reunião há um mês e pouco com todos os corpos gerentes da colectividade nas instalações da câmara a pedido da senhora presidente. Foi uma reunião histórica, não só pela presença de todos os corpos gerentes (faltou apenas um dirigente por motivos profissionais) onde foi analisada a situação do clube e tomadas algumas decisões no sentido de compromissos da câmara. Nomeadamente no apoio para a resolução da situação financeira através da bomba da gasolina. Quando é que pensa que haverá novidades? Tem que ser em Setembro. Os compromissos de pagamento faseado à Segurança Social e ao fisco terão de começar a ser cumpridos em Outubro. Se não houver a garantia de que existe essa receita, o clube deixa de ter viabilidade e acaba mesmo.Em Setembro terá que haver uma decisão que permita avançar para a construção da bomba?Quem vai ficar com a exploração da bomba não é a UDV. Vamos dá-la a uma empresa, como acontece com do FC Alverca. Em finais de Setembro, princípio de Outubro, temos de ter a garantia, de que pelo menos podemos segurar alguma verba para o pagamento ao fisco e à segurança social.Mas ainda há a demora entre a decisão e o início de funcionamento da bomba…No protocolo que será assinado com a empresa que vai explorar a bomba, esperamos ter alguma contrapartida financeira logo no início, que nos garanta cumprir as nossas obrigações. Acha que em poucas semanas será possível fazer tudo isso?Sim. Penso que num prazo de mês e meio já somos capazes de ter as coisas com alguma luz visível ao fundo do túnel. Em Outubro temos de ter definido a construção e a empresa que fará a exploração da bomba. Sou um optimista e como estou ligado a este clube desde pequenino, eu e todos os meus companheiros, não gostaríamos que o clube acabasse.Já há um local definido para a instalação do posto de combustível?Havia um terreno no Bom Retiro mas como não houve acordo entre a autarquia e o proprietário, está fora de questão. Há neste momento duas hipóteses em cima da mesa. Mas de momento não posso ainda revelar os locais.E se chegarmos a Outubro e as coisas estiverem como estão agora?Será altura de eleições. Cumpri a minha missão durante os últimos quatro anos e depois logo se vê. Não havendo dinheiro para pagar ao fisco e à Segurança Social, os processos seguem para tribunal e serão executadas as dívidas. Como Vilafranquense e presidente do clube acha sinceramente que será possível salvar o clube?Tenho uma grande fé que vai ser possível.Vilafranquense movimenta mais de 400 atletasQuantos atletas movimenta a União Desportiva Vilafranquense?Mais de 400 atletas. Ao nível do futebol crescemos com as camadas jovens onde temos muitos miúdos. Mas há duas secções que se destacam. O basquetebol e a patinagem são exemplos a seguir. Penso que o basquetebol é a sétima colectividade do distrito de Lisboa com maior número de praticantes. Dispomos ainda da secção náutica, do futsal e do muay tay. Acabaram os seniores no hóquei em patins, mas já temos duas equipas de crianças. O judo teve um grande crescimento com a vinda de um professor novo. O futebol é o expoente máximo dos clubes, mas procuramos dar a mesma importância a todas as actividades. Queremos ser os mais ecléticos que for possível.Qual é o objectivo para este ano da equipa sénior de futebol?Se possível, subir de divisão.Quantos sócios têm a colectividade?Tem 1500, mas pagantes são cerca de metade. As secções têm de ser auto-suficientes. As receitas advêm das mensalidades pagas por todos, que dá para manter as despesas correntes de cada secção.Com o Rio Tejo aqui ao lado não acha que a secção náutica podia ser melhor aproveitada? A secção náutica tem um potencial e umas instalações que serão melhoradas com o novo projecto da frente ribeirinha. O projecto que existe é o de fazer um novo posto náutico em frente a este pavilhão (UDV). Mas de facto não temos muitos atletas ao nível da náutica. Há meia dúzia de anos tivemos alguns campeões mas fomos perdendo protagonismo. Os seccionistas têm feito um esforço para puxar mais gente, mas reconheço que não é fácil. Considero que os resultados não têm correspondido ao esforço desenvolvido. Além disso também gerem a marina.Falou na Marina. Qual é a situação?A crise atinge também os barcos. Se fosse um país com mais gente rica, talvez houvesse mais barcos. Mesmo assim, a marina está com uma ocupação muito boa. As receitas da sua exploração têm sido canalizadas para saldar a dívida que ainda temos com a Lindley MarinasComo está a questão do Parque Desportivo do Cevadeiro?Era para ter começado em Maio a construção de dois campos sintéticos com apoio social. Em Setembro estava prevista a sua conclusão. Não foi possível, mas temos a garantia da câmara, de que assim que acabar a feira de Outubro, começam as obras do pavilhão do cevadeiro e que o nosso complexo irá ser beneficiado com esses dois campos sintéticos.“A indústria e o comércio regional não nos apoiam”Acha que as forças vivas da cidade, as empresas podiam ajudar mais o clube?O Vilafranquense está assim por culpa dos seus dirigentes. As empresas apoiam quando recebem em troca a venda da sua imagem. Aqui é difícil porque o clube caiu de tal maneira, que ninguém quer investir em publicidade onde há pouca gente. Há de facto pouca aposta. A indústria e o comércio regional não nos apoiam. O apoio que tem havido é insignificante.Noto uma certa tristeza nas suas palavras…Sim. São só meia dúzia que nos apoiam mas que no cômputo geral é insignificante no apoio que necessitávamos para que isto tivesse outro desenvolvimento. A lógica não é a de ajudar quando mais se precisa, como deveria ser nesta altura difícil. Mas a lógica do empresário e do comerciante é retirar dividendos do investimento feito.O associativismo está em crise?O associativismo existe mas perdeu muita força. Fui formado no Vilafranquense, numa altura em que tinha uma força como colectividade, unia bastante as pessoas e desenvolvia um trabalho muito bom. Envolvia muita gente. Isso perdeu-se um pouco na UDV, mas ainda se mantém alguma coisa. Penso que demos um salto nos últimos quatro anos nesse particular. Isso vê-se na actividade que nós temos, a ligação dos familiares e o crescimento que houve em número de atletas, que foi significativo.Câmara de Vila Franca de Xira está a analisar umaúnica propostaA autarquia de Vila Franca de Xira “está a prestar toda a atenção e acompanhamento” ao processo do posto de combustível da União Desportiva Vilafranquense (UDV). Em reposta enviada a O MIRANTE pode ainda ler-se que “algumas hipóteses de localização já ficaram goradas pelas mais variadas razões, estando neste momento a ser equacionada uma proposta da UDV, com a localização na entrada norte da cidade”.A proposta implica “ a aquisição de parcelas de terreno, o que a câmara está a analisar e negociar com as Estradas de Portugal”, refere a nota da autarquia.

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