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O neurocirurgião que gostava de voltar a operar em Santarém

O neurocirurgião que gostava de voltar a operar em Santarém

Carlos Calado trabalha em Lisboa, dá consultas na região e ainda é aluno de guitarra no Conservatório

Divide a semana entre as consultas de neurocirurgia, a actividade no bloco operatório e o banco de urgências nos Hospitais dos Capuchos e de S. José, em Lisboa, e as consultas em clínicas da capital, Santarém, Almeirim, Cartaxo e Abrantes.

Natural de Santarém, Carlos Calado, 39 anos, afirma-se como o único médico neurocirurgião a residir no distrito. E esse é um motivo que o enche de orgulho, figurando entre os 100 a 150 médicos neurocirurgiões que existem no país e que estão concentrados nas áreas urbanas de Lisboa, Porto, Coimbra e Braga. Carlos Calado divide a semana entre as consultas de neurocirurgia, a actividade no bloco operatório e o banco de urgências nos Hospitais dos Capuchos e de S. José, que formam o Centro Hospitalar de Lisboa – zona central. Dá ainda consultas em clínicas de Lisboa, Santarém, Almeirim, Cartaxo e Abrantes. Como se não bastasse, o médico dá aulas de Neuropsicologia (disciplina que estuda a relação entre o cérebro e os comportamentos humanos) do curso de Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa, há cinco anos. Carlos Calado tem 39 anos. É casado com uma professora, Dulce, e é pai do Francisco, de 11 anos. Em 1993 licenciou-se em medicina com uma média de 16 valores. Começou a trabalhar como médico no internato geral do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Basta somar os seis anos de curso de medicina aos seis de internato de especialidade e dois anos de estágio para perceber que são precisos 14 anos até se ter tornado num médico especialista desde que saiu do ensino secundário.Durante esse período de internato experimentou diversas especialidades que lhe permitiram, no final, optar pela neurocirurgia, mas desde o liceu que tinha interesse pelo funcionamento do sistema nervoso. Até por via de um problema que afectava um familiar nesse campo. É nas urgências que Carlos Calado trata dos casos mais dramáticos. Desde as lesões cerebrais causadas por traumatismos cranianos resultantes de acidentes de viação e de trabalho, ou de agressões, a situações relacionadas com tumores cerebrais e lesões ao nível da coluna. “Há dias um homem forte disse-me numa consulta que não tinha medo de operações, mas que ser operado à coluna seria diferente. O cérebro é outro dos mistérios. Mas nos últimos 50 anos tem havido progressos brutais no conhecimento do sistema nervoso com os meios de diagnóstico como o TAC e as ressonâncias magnéticas. Cada vez mais é possível saber que parte do cérebro é accionada quando fazemos acções tão diversas como ouvir música, prestamos atenção ou nos orientamos, entre muitas outras coisas”, conta. É também nesse ambiente que lida com pacientes que recuperam de lesões cerebrais e cervicais e com outros que ficam, naturalmente, pelo caminho. Fica especialmente sensibilizado com os casos de jovens de 20 e 30 anos com problemas graves, que ficam incapacitados ou falecem, e com o sentimento contrário quando salva uma pessoa com 70 ou 80 anos, o que até há anos era impensável. Essa relação humana resulta em pequenos episódios. “Numa ocasião entrou um senhor nas urgências e queria oferecer-me um bisturi de prata, que levava na mão. Fui alertado para a situação e só recebi o presente mais tarde quando tudo foi explicado e se percebeu que não era uma ameaça. Também entre colegas médicos há momentos de descontracção. Uma vez um colega fingiu que estava em coma nas urgências e deixou-nos preocupados”, recorda. Não há dias iguaisActualmente o médico não tem dias iguais. Costuma estar de manhã e parte da tarde em consultas, no bloco operatório ou nas urgências no centro hospitalar. Dá também consultas no exterior e aulas de tarde e de noite. “Num dia em pleno posso chegar a casa à meia-noite e estar no outro dia de manhã a trabalhar. Por isso é que durante as viagens costumo ouvir todo o tipo de música na Antena 3 e na Rádio Radar para descontrair. Uma vez por semana também tenho aulas de guitarra clássica no Conservatório de Música de Santarém. É aí que me descontraio totalmente”, garante Carlos Calado. A vertente de professor veio por acréscimo e considera que tem sido uma actividade muito gratificante. “Ser professor obriga-me a estudar certos temas que não abordaria na neurocirurgia, o que também me faz crescer profissionalmente. Levo os alunos ao hospital para verem como as coisas funcionam, falamos de casos concretos, de patologias, mas não trocaria de profissão”, conta Carlos Calado. Nos tempos livres, Carlos Calado aproveita para viajar com a família para conhecer Portugal. Por esta altura encontra-se na Dinamarca e tem viajado nos últimos tempos para conhecer a Europa, especialmente Espanha, França e Itália. Leituras também são do seu agrado mas acabam por se cingir aos temas profissionais. Actualmente está a ler “Música e o cérebro”, que aborda a função da música como terapêutica para o cérebro.Durante um ano (entre 2008 e 2009) Carlos Calado formou uma equipa que fez intervenções no piso 10 do Hospital de Santarém, com apoio de enfermeiros daquela unidade, para combater as listas de espera do Estado na especialidade de neurocirurgia. “Foi uma experiência muito boa porque também foi a primeira vez que se realizou uma operação de neurocirurgia na cidade. Operámos 40 doentes em cirurgias da coluna lombar, em duas com enfermeiros de Lisboa que deram formação às enfermeiras de cá, que mostraram grande profissionalismo. É uma pena o serviço ter acabado uma vez que também se comprou material que está por usar. Gostaria de um dia voltar a poder operar na cidade onde nasci”, diz o médico. “Durante um ano Carlos Calado formou uma equipa que fez intervenções no piso 10 do Hospital de Santarém, com apoio de enfermeiros daquela unidade, para combater as listas de espera do Estado na especialidade de neurocirurgia”
O neurocirurgião que gostava de voltar a operar em Santarém

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