Uma região sem administração
No Verão passado, por esta altura de Agosto, fui atacado por dois cães de raça na maracha do Tejo no campo da Chamusca. Assim que encostei a bicicleta ao canavial, e me fiz notado, dois cães correram na minha direcção de tal forma que pensei: “estou frito”. Fiz imediatamente aquilo que mandam as regras. Estendi os braços ao longo do corpo e em sentido colei-me ao chão. Com os cães a meio metro de mim, rosnando e saltando com as patas dianteiras quase ao nível da minha cintura, fiz uma estátua durante cerca de 10/15 segundos, ou seja, uma eternidade até que uma voz feminina mandou recuar os cães.Um casal de jovens estrangeiros acampou na maracha e enquanto dormiam uma sesta tinham dois cães raivosos a guardá-los. Escusado será dizer que depois do susto dei meia volta, agarrei na minha bicicleta e fui à procura do rouxinol da caneira para outras bandas (embora a propriedade, por onde eles passaram para entrarem na maracha, seja minha). Mas não saí de lá sem reparar que o cavalheiro que acompanhava a jovem e bonita mulher continuou a dormir a sesta tranquilamente em cima de uma manta e tranquilamente lá ficou a dormir .O caso vem a propósito porque na passada semana ajudei a juntar a uma mesa de um restaurante responsáveis pela Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira e dirigentes empresariais da região de Santarém. A lezíria na zona do Médio Tejo não é nada parecida com a lezíria de Vila Franca. Mas os problemas são os mesmos embora em menor dimensão. Enquanto na lezíria de Vila Franca se instalou a ordem com o controle de todas as pessoas que entram naquele espaço, disciplinando a conduta dos caçadores, pescadores e gente aventureira que anda por ali com a casa às costas, na lezíria, para os lados de Santarém, ainda é tudo como Deus quer. E até as marachas, que deviam estar para o rio como a luz eléctrica está para as ruas das cidades vilas e aldeias, não tem uma entidade que peça contas e que obrigue os proprietários a conservá-las. Ao contrário, há muita gente soberba que de ano para ano vai roubando, centímetro a centímetro, espaço na maracha, procurando assim produzir mais uns milhares de quilos de milho ou de tomate, com os inconvenientes que não é difícil adivinhar. Numa região às portas de Lisboa, com a terra mais produtiva do país, servida por um rio tão generoso como uma placenta, vivemos realidades tão distintas ao nível da organização do território, e dos interesses da generalidade das pessoas, que parece que estamos no terceiro mundo. Há uma divisão administrativa do país que, é facto comprovado, não coincide com os interesses das populações e faz de nós o país agrícola mais pobre da Europa desenvolvida. JAE
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