As devoções e superstições dos irmãos Badajoz
António Badajoz mostra uma medalha que traz ao pescoço, com a imagem da Virgem de Guadalupe. Foi-lhe oferecida por um colega durante uma corrida de toiros no Peru, em 1955. Desde esse dia que o antigo bandarilheiro - que completa este ano 60 anos de alternativa – nunca a tirou.Tanto António como o seu irmão Manuel Badajoz confirmam que a maioria dos toureiros é crente e que eles não fogem à regra. “Ser toureiro é uma profissão extremamente perigosa em que se pode morrer a qualquer momento. Temos que acreditar”, explica Manuel Badajoz, o irmão mais novo, que já vai nos 78 anos.Os antigos bandarilheiros rezavam sempre antes de entrarem na arena, mas também nos hotéis ou pensões onde ficavam hospedados. Cada um tinha o seu oratório com os santos da sua devoção e pedia protecção para enfrentar os touros. Naturais de Coruche, os ex-bandarilheiros são devotos de Nossa Senhora do Castelo, padroeira da vila. Todos os anos fazem questão de assistir à Procissão das festas em sua honra, como aconteceu este ano na tarde de sábado. Mas há outras santas a quem rezam. Nossa Senhora de Fátima, Virgem Macarena, Nossa Senhora de Guadalupe.No mundo do toureio a superstição ombreia com a devoção. António não gostava de ver um indivíduo com os olhos tortos antes de uma actuação. “Mala Suerte”, diz em espanhol, soltando uma gargalhada. Manuel recorda que havia toureiros que evitavam passar por um funeral em dia de corrida. A superstição com ele funcionava ao contrário. “De cada vez que me acontecia cruzar-me com um funeral a lide corria-me sempre bem”, justifica.A fechar a conversa, enquanto a procissão passa, António e Manuel Badajoz lembram que de nada valem orações, amuletos ou superstições se não houver valor, qualidade e valentia. E muito trabalho. Ana Isabel Borrego
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