Ganhar a vida a matar ratos e baratas
O dia-a-dia de quem combate pragas de roedores e insectos na região
Ratos, baratas e formigas integram a lista das chamadas “pragas” que atingem as casas da região. Há homens e mulheres que ganham a vida a expulsar invasores que fazem os mais impressionáveis entrar em pânico. São os operadores de desinfestação
Sérgio e Carlos Rodrigues chegam a uma empresa de produção de massas congeladas, no Carregado. A dupla de profissionais de uma empresa de controlo de pragas, sediada em Alverca, entra em acção sem inimigos para enfrentar. Nas zonas exteriores e de armazém do edificio, colocaram previamente estações rateiras com isco químico para baratas impregnado de hormonas, e para ratos, sob a forma de grãos de veia vermelhos. Nas caixas não surge um único espécime. Nos locais de manuseamento de produtos alimentares, onde as caixas contêm tela colante, que prenderá roedores, matando-os por exaustão também nada se move. “Na quinta feira é que tivemos uma tarefa mais dura. Uma senhora, que tinha comprado casa em Vialonga há uma semana deu com uma infestação de baratas. Ainda por cima tinha uma filha, que sofria de asma – doença que piora por presença dos animais. Tivemos de ir de emergência pulverizar o local”, relata Sérgio Rodrigues. O procedimento levou a casa a ter que ficar fechada durante doze horas, seguindose depois quatro horas de arejamento. “Ainda há pessoas que não chamam uma empresa de desbaratização por vergonha. Acham que há relação com a higiene, mas a verdade é que basta trazer ovos de baratas num caixa de cartão para poder vir a sofrer uma infestação”, sublinha. Segundo os especialistas é nas casas particulares que ainda se encontram infestações. O controlo apertado da ASAE e a legislação que impõe inspecções obrigatórias e medidas anti-praga nos estabelecimentos comerciais tem dado resultados. “Mas as pragas existirão sempre”, assegura Sérgio Rodrigues. Mais a norte, em Santarém, David Cocharro entra num café no centro da cidade. A missão da tarde, para o profissional do controlo de pragas, é prevenir que baratas e ratos apareçam nas instalações. Na mão, traz uma das “armas” de todos os dias, para aplicar um produto que erradicará qualquer barata que surja no futuro. “É um produto que contém uma hormona para as atrair. Quando uma barata ingere o produto, morre no local. Se outra encontrar o cadáver, irá comê-lo para limpar a área e morrerá também, servindo de alimentos a outras num efeito de cadeia que pode atingir inúmeras” relata o profissional a O MIRANTE. Todos os produtos aplicados são autorizados pela Direcção Geral de Saúde (DGS). Especialista em controlo de pragas há mais de uma década, David Cocharro chegou à sua área de trabalho depois laborar na área dos armazéns de distribuição. Quando viu a sua oportunidade de mudar para uma empresa sediada em Santarém, “nem olhou para trás”. O profissional “lida bem” com as pragas que fazem muitas pessoas entrar em pânico. Nos últimos anos “há muito menos casos de infestação porque as pessoas apostam mais na prevenção, estão mais sensibilizadas e o controlo tornou-se obrigatório por lei”. Desde a sala principal do café, passando pela cozinha e pela cave, todo o espaço é inspeccionado. Os locais de potencial passagem das baratas e desenvolvimento da praga são tratados (locais quentes e húmidos). Os roedores também não escapam. Para os capturar são usadas estações rateiras, sem utilizar químicos, cumprindo as normas de higiene e segurança. No final não há vestígios de infestação. Mas nem todos os locais gozam de tanta paz. “Uma vez, em Fátima, há uns anos, estava com um colega a realizar um tratamento numa rede de esgotos. À medida que levantávamos as tampas, os ratos eram em tal número que comiam o produto pensando ser alimento. Foi uma das situações mais complicadas. Noutra infestação, conseguimos contar 15 ratos numa única sala. De resto, encontrámos uma ou outra cobra, em locais onde há ratos. E no princípio, também encontrávamos mais baratas, especialmente em casas comerciais. Agora, não”, conta David Cocharro.Em Tomar, Manuel Domingos, proprietário de uma empresa de combate às pragas, também é demolidor para com os preconceitos. “Há mais preocupação das pessoas com as pragas. Nas casas particulares, as pessoas têm cuidado. Nos estabelecimentos comerciais, também. Junto aos rios, ribeiras, e armazéns, a preocupação não é tão rigorosa, mas as câmara as municipais fazem operações de controlo de pragas”, conta. Para o futuro os especialistas contactados por O MIRANTE olham com um misto de optimismo e apreensão. O aumento do número de pragas e profissionais (ver caixas), que foi crescendo à medida que mais pessoas passaram a olhar com bons olhos aquela área de trabalho, são preocupações dos homens e mulheres que não sabem o que é “fugir a sete pés”. O controlo apertado da ASAE e a legislação que impõe inspecções obrigatórias e medidas anti-praga nos estabelecimentos comerciais tem dado resultadosO que atrai ratos e baratasApesar do controlo de pragas, fora de quatro paredes, vai florescendo uma população cada vez maior de animais considerados como pragas, alimentados pelo Homem. David Cocharro explica a O MIRANTE como cada cidadão pode dificultar a vida aos insectos e roedores. “Ao alimentar animais vadios, como gatos e cães, estamos a alimentar também as ratazanas, ratos e varejeiras, que se alimentam dois restos de comida, Ao deixar alimentos na rua, estamos a aumentar a probabilidade de infestações e a contribuir para a propagação das doenças que cada animal tem, colocando em perigo a saúde pública e o meio ambiente”, conta. Sérgio Rodrigues tem a mesma opinião. “Numa zona habitacional, não devemos deixar comida espalhada, deve ficar tudo limpinho. Na rua, dar de comer aos gatos é potenciar uma excelente fonte de contaminação”, nota.A lista negra dos animais O número de animais considerados como pragas tem vindo a aumentar. Às sedes das empresas de desinfestações chegam telefonemas com pedidos de controlo de espécies variadas. Manuel Domingos, proprietário de uma empresa e desinfestações em Tomar, relata como existem aves na lista negra de muitos clientes. “Colocam-se arames objectos nos telhados para impedir os pombos de pousar nos telhados”, aponta como exemplo. Em alguns locais, os gatos, apesar de protegidos, também são incluídos na lista dos indesejáveis, fazendo companhia a espécies como as formigas, moscas e melgas. “Mas se não há gatis em muitos municípios, que faríamos com os gatos se os apanhássemos? Temos de recusar os trabalhos”, diz Sérgio Rodrigues. Segundo António Conceição, presidente da Associação Nacional de Controlo de Pragas Urbanas, as osgas, lagartixas e outros animais também fazem parte dos pedidos dos clientes. “Temos de explicar às pessoas que o equilíbrio natural de pende da existência de alguns exemplares destes animais e que outros até são protegidos”, sublinha.
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