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Ganhar a vida a transportar os outros

António Lopes da Silva é taxista há 20 anos

Conduzir um táxi pode ser uma porta aberta para a aventura. António Lopes da Silva trabalha na praça de Alhandra e tem uma mão cheia de histórias para contar.

António Lopes da Silva tem 50 anos e é taxista há duas décadas na praça de Alhandra. Num período em que esteve de baixa, após um acidente de mota, resolveu “parar de trabalhar para outros” e adquiriu um lugar na praça de táxis de Alhandra, que na época se encontrava à venda. Hoje olha para a profissão em que trabalha cerca de 16 horas por dia, com gratidão, mas também uma perspectiva cautelosa sobre o futuro. “Ninguém quer ser taxista e trabalhar à percentagem”, nota. Os horários e as várias fases da formação para obter o Certificado de Aptidão Profissional (CAP) em horário de expediente dificultam a vida a quem quer entrar na profissão. O profissional não teve de passar por essa selecção, mas renova, a cada cinco anos, as suas aptidões com exames e formação, como manda a lei. “Quem conseguir entrar na profissão pode escolher onde quer trabalhar, e por vezes até o horário”, assegura. Com um trabalho com horários complicados, o taxista reconhece que “a família tem razão por vezes não compreender. É uma profissão que precisa de muito sacrifício da parte da família. Pode ser compensado com a parte monetária e às vezes já não é suficiente”. António Lopes da Silva revela-se, no entanto, “satisfeito” com a profissão que escolheu. “A intimidade que existe dentro do carro, entre condutor e passageiro, aproxima as pessoas. Algumas, quando entram, têm necessidade de contar parte da sua vida. Uma preocupação, a ansiedade antes de receber o resultado de um exame médico mais complicado... Outras pedem-nos opinião sobre aspectos da sua vida”, relata. A maior parte dos clientes, nota, “prefere contactar com quem conhece que falar com um estranho”. E os passageiros habituais vão surgindo. “Com os novos clientes isso vai-se perdendo. Fiz muitas amizades. Em alguns casos, conheci os pais, depois os filhos, e quando estes filhos casaram, convidaram-me para festa. Até já me convidaram para férias”, conta. Dentro do automóvel, o caminho a seguir depende da relação entre taxista e passageiro. “Quando vamos para sítios que não conhecemos, alguns clientes até nos indicam o melhor caminho. Outras vezes, insistem num mais longo e lamentam o dinheiro que gastam, por ficar na fila, em vez de seguir a sugestão”, explica António Lopes da Silva. Na vida de um taxista, os serviços são imprevisíveis. No caso do profissional, até missões de “espionagem” já lhe calharam em sorte. Um dia, uma senhora pediu-lhe para seguir até à porta da empresa onde trabalhava o marido, para verificar se este se encontrava a trabalhar. “Eram para aí, 23h00, e ela desconfiava que ele a pudesse estar a enganar. Mas mal chegou lá e viu o carro, pediu logo: “Vamos voltar para atrás, depressa...que vergonha!”, conta. O tipo de serviço não foi caso único. Mas nenhuma das suspeitas tinha fundamento. “Até agora, só homens honestos”, garante. Nos serviços à noite, nem todos os clientes são fáceis. Alguns, de madrugada, vêm de uma noite de divertimento nocturno e saem sem pagar, dando como justificação “irem a casa buscar a carteira”. E de nada vale “ir tocar às campainhas num prédio de dez andares”, confessa. Algumas situações de transporte parecem suspeitas, mas acabam por terminar bem. Num caso em que um jovem lhe pedira para o levar até Salvaterra de Magos, viu-se embrenhado na charneca, na contingência de ter de entrar num caminho de terra batida, de onde não sabia se sairia. A certa altura, não hesitou em dizer: “É melhor ficar aqui, se não o carro fica preso na areia”. Mas o cliente insistiu, lembrando que seria a sua mãe a pagar. No final, o serviço foi pago e saiu são e salvo para novo serviço. Mas antes de tomar a estrada de Salvaterra para Almeirim ainda foi interrogado pelo proprietário de um dos terrenos pelos quais atravessara ao lado. “Perguntaram-me o que estava ali a fazer”, relata. No que respeita à área geográfica em que trabalha, António Lopes da Silva vê com desagrado a decadência industrial do município em que trabalha. “Os serviços de empresas, o transporte de trabalhadores, da estação de comboios até ao local de trabalho, são bons serviços”.“Na vida de um taxista, os serviços são imprevisíveis. No caso do profissional, até missões de “espionagem” já lhe calharam em sorte”

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