Câmara e ex-dirigentes de O Coruchense querem anular parte da dívida fiscal do clube
Proposta para “salvar” ex-dirigentes, notificados para assumirem pagamento de 330 mil euros
Documento sustenta alteração da designação do negócio de doação de terreno do clube à autarquia feito em 2002 para uma permuta de bem futuro, originando a anulação de 200 mil euros de dívida. A câmara compromete-se ainda a liquidar a restante dívida fiscal - 130 mil euros.
A Câmara de Coruche e os 16 ex-dirigentes do Grupo Desportivo O Coruchense, citados para liquidarem dívidas ao fisco na ordem dos 330 mil euros, vão apresentar uma proposta à Direcção de Finanças de Santarém que pensam que pode resolver o caso de vez.O executivo municipal deliberou dia 16 rectificar a escritura de doação do terreno do Montinho do Brito, feita pelo Coruchense à Câmara em 20 de Maio de 2002 - na altura em troca da construção de uma sede social para o clube no valor de 40 mil contos - para realizar nova escritura pública na modalidade de permuta de bem futuro. Recorde-se que as Finanças taxaram com IVA o negócio da doação do clube à autarquia, o que somado aos juros de mora, fez ascender a dívida fiscal do Coruchense a cerca de 200 mil euros. Com a nova versão do negócio a câmara espera que as Finanças emitam uma nota na qual reconheçam que essa dívida não existe. A autarquia propõe-se, de seguida, pagar ao clube, em duas tranches, a dívida fiscal remanescente de mais de 130 mil euros. Esse montante é a verba acumulada de dívidas das direcções do clube de 1999 a 2001, devido à ausência de contabilidade organizada em situações como pagamentos a jogadores sem declaração de rendimentos, receitas de bar e de publicidade em que não foi taxado IVA, somada aos respectivos juros de mora. Sem encontrar documentação, o fisco fez uma estimativa do montante em dívida. A proposta que foi aprovada em câmara já tinha sido ratificada por esmagadora maioria em assembleia-geral do clube de dia 11. Recorde-se que dos 16 ex-dirigentes citados para pagarem a dívida de 330 mil euros, há três elementos visados em cerca de 212 mil euros cada um, com risco de penhora de suas casas e carros (ver edição 28 de Maio). Outros receberam notificações para pagarem 30 mil euros, outros mais de 6.600 euros e por aí fora, até alguns elementos com apenas 73 euros. Oito dos 16 ex-dirigentes assistiram à discussão do ponto na última reunião de câmara.José Tadeia, presidente do Coruchense entre 2000 e 2002, foi ilibado de pagar uma verba de cinco mil euros. “Espero que esta proposta se concretize a bem de todos e do clube. Penso que os dirigentes que geraram esta dívida não estavam preparados e estavam no clube para desenrascar, nunca pensando que isto viria a acontecer”, disse a O MIRANTE.Carlos Galamba, que esteve dez meses no clube numa comissão administrativa, foi notificado para pagar mais de 212 mil euros. Recorda como foi impossível contestar qualquer valor quando não havia documentos de suporte de anos anteriores e que o cerco das Finanças se apertou com a cativação do subsídio mensal atribuído pela autarquia, o congelamento das contas e até a tributação a reclamos de publicidade do campo Horta da Nora com mais de 20 anos. “Se houver bom senso das Finanças a situação vai resolver-se”, comenta.PS e CDU trocam acusações sobreresponsabilidades na situaçãoA discussão da situação do Coruchense, que se encontra sem qualquer actividade desportiva, motivou acusações entre PS e CDU. Rodrigo Catarino e Ricardo Raposo acusaram o executivo de maioria socialista de fazer arrastar uma decisão final para período eleitoral, enquanto o clube vivia em agonia. Catarino mostrou também dúvidas em relação à entrega de dinheiro pela autarquia para um clube sem actividade.O presidente da edilidade, Dionísio Mendes (PS) lembrou que já em 2004 a autarquia tinha tentado resolver a questão junto das Finanças mas que, na altura, foi informada que teriam de ser os dirigentes do clube a fazê-lo. Argumentou ainda que se a câmara não tivesse ficado com o terreno do Montinho do Brito, este hoje já não estaria na posse do Coruchense e teria sido penhorado pelas Finanças para liquidar dívidas. Com cinco votos a favor, incluindo o de Ricardo Raposo, e a abstenção de Rodrigo Catarino, foi aprovada a proposta. O presidente demissionário do Coruchense desde 8 de Julho de 2008, Ricardo Santos, e também presidente dos Amigos do Grupo Desportivo O Coruchense (agremiação criada para dar continuidade à actividade das equipas de futebol) mostrou-se incomodado com o facto de a votação não ter sido unânime. “O senhor mostrou grande insensibilidade nesta matéria e falta de solidariedade com os dirigentes e com o clube”, acusou o dirigente, referindo-se a Rodrigo Catarino.
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