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Sérgio Amorim

Sérgio Amorim

52 anos, Director de Escola do Ribatejo, Alverca
Vivo em Lisboa. Por detrás da Praça de Londres. Nasci no Porto. Em Rio Tinto. Vim para a capital com sete anos. Sinto-me mais lisboeta do que portuense. Todos os dias enfrento um percurso que não é atribulado porque ando ao contrário do trânsito. Quando está toda a gente a ir para Lisboa estou eu a sair. Ao fim da tarde é a mesma coisa. Demoro 25 minutos a chegar a Alverca. Não gosto muito de Alverca. A sensação que tenho é que a cidade cresceu, como a maior parte das cidades, de uma forma muito desordenada. Não é por isso uma zona que me agrade especialmente. É interessante porque tem acesso fácil a Lisboa e agora umas urbanizações que dão um cariz diferente. Tinha muita dificuldade em vir viver para Alverca. Entre ter uma casa melhor mas viver num sítio menos interessante ou o contrário prefiro viver num local mais interessante. O 25 de Abril apanhou-me no 9º ano. Foi um período conturbado. Entretanto fui trabalhar. Licenciei-me à noite. Sou formado em Economia. Fiz a licenciatura em seis anos. Foram tempos complicados. Trabalhei na Ford Lusitana, mas não conseguia conciliar estudos com emprego. Como o meu pai tinha uma empresa de loiças decorativas comecei a trabalhar com ele. Entretanto, já eu estava a dar umas aulas para complementar o rendimento que tinha do armazém, o meu pai adoeceu. Tive que tomar uma decisão. Decidi que seria só professor. Aos trinta anos. Entretanto já fiz uma outra licenciatura em administração escolar e sou desde 8 de Julho o director da Escola Secundária de Gago Coutinho.Por norma almoço no refeitório da escola. Quando é preciso chego cedo paraajudar no controlo dos alunos à entrada. É um aspecto que consideramos importante. E estou na escola até às 19h30, conforme os dias. Normalmente levo coisas para casa. Na escola há pouco tempo. As solicitações são muitas. Estamos sempre à espera de um dia mais calmo e ficamos sem tempo para ler legislação e trabalhar outros aspectos. Normalmente aproveito o fim-de-semana para fazer isso. No sábado de manhã aproveitamos para organizar a casa. Eu e a minha mu-lher. Temos duas filhas, de 19 e 21 anos. Uma já trabalha e estuda e outra está na faculdade. À noite convivemos com familiares, jantamos fora ou vamos ao cinema. No domingo aproveitamos para ficar em casa ou dar um passeio mais perto. Tenho um apartamento no Algarve e quando podemos vamos até lá. Para quebrar a rotina. Quando chego a casa ajudo a minha mulher. Não tanto como ela gostaria... Dou uma ajuda a fazer o jantar, normalmente levanto a mesa e ajudo a fazer a cama. As mulheres são muito mais sensíveis a um conjunto de coisas que os homens não são. Por vezes estou em casa e quando para mim está tudo bem a minha mulher arranja um conjunto de situações para limpar que eu – como homem – nem me apercebo de que existiriam. Nas férias vamos para o Algarve. Quando podemos fazemos uma viagem. Este ano, por causa da crise, ficámos cá. Passámos dois fins-de-semana fora. Conside-rámos que seria mais importante deixar algum dinheiro nas empresas portuguesas do que ir para o estrangeiro. Para o ano, se tudo correr bem, vamos fazer um daqueles circuitos.Este ano foi preciso fazer algum sacrifício. A família percebeu. Espero que consiga chegar a uma situação de equilíbrio para conciliar trabalho com vida privada e com descanso que também é fundamental. Sei que em Portugal há muito esta prática. Assim acaba por perder a piada. Tem interesse quando conseguimos conciliar tudo. Temos que ter a nossa vida privada. Não nos podemos sacrificar sistematicamente. Relações humanas são fundamentais. Cinquenta por cento do cargo de director de escola é isso. Em relação aos jovens apostamos na disciplina com sensatez. Os alunos gostam de regras. Quando alguém tem um comportamento menos adequado também gostam que haja uma actuação pró-activa por parte da escola. Os próprios alunos percebem e acabam por reagir bem.Ana SantiagoSérgio Amorim, 52 anos, é director da Escola Secundária de Gago Coutinho, em Alverca, desde o dia 8 de Julho. Mora em Lisboa e faz todos os dias um trajecto pacífico no sentido contrário do grande fluxo de trânsito. É um portuense rendido aos encantos da capital que não troca pelo conforto de estar mais próximo do local onde trabalha há mais de 17 anos. Preserva a família e as viagens. É pai de duas filhas e ajuda a mulher nas tarefas domésticas.
Sérgio Amorim

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