uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Museu do Neo-Realismo tem que apostar na internacionalização

Museu do Neo-Realismo tem que apostar na internacionalização

Presidente do Instituto Camões, Simonetta Luz Afonso, convidada do segundo aniversário do museu
No dia em que o Museu do Neo-realismo em Vila Franca de Xira assinalou dois anos, recebeu a visita da presidente do Instituto Camões. É preciso apostar na internacionalização, defendeu Simonetta Luz Afonso. “O museu não pode ser só um museu de arte ou literatura. Tem que ser também um movimento de ideias”.A internacionalização do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, é fundamental para captar público estrangeiro sendo a internet o principal veículo de divulgação do trabalho desenvolvido. A afirmação é de Simonetta Luz Afonso, presidente do Instituto Camões, convidada do museu, na terça-feira, 20 de Outubro, dia do segundo aniversário da inauguração do espaço.“O movimento Neo-Realista teve muita importância no Brasil, Itália e em quase toda a Europa do Sul e este museu tem que aproveitar as diferentes sinergias colaborando com vários museus de outros países. Aos poucos há que adquirir experiências através de permutas com outros museus nacionais e internacionais”, disse.A presidente do Instituto Camões aproveitou o convite do director do museu do Neo-Realismo, David Santos, para fazer um balanço dos dois anos de actividade do museu. Simonetta Luz Afonso reconheceu publicamente que ainda não conhecia pessoalmente o museu mas tem acompanhado o seu percurso à distância. Com uma experiência de mais de quatro décadas dedicadas à direcção de instituições culturais, Simonetta deixou grandes desafios à direcção do museu do Neo-Realismo e à câmara de Vila Franca de Xira, grande patrocinadora deste espaço cultural, que elogiou pela decisão de ter apostado na cultura ao construir o museu.Depois de referir e dar importância ao acervo histórico do museu, Simonetta Luz Afonso apontou a necessidade de os responsáveis procurarem no domínio das artes plásticas, obras que pela sua importância sejam uma referência do movimento Neo-Realista. “Não há comparação entre o espólio literário do museu e as artes plásticas. Mas é preciso fazer um esforço no sentido de que isso seja uma realidade”. Sugeriu por isso a abertura do museu a parcerias com outros museus do país que detêm importantes obras de artistas plásticos da época que podem ser emprestadas ou cedidas temporariamente já que está fora de hipótese a sua compra uma vez que são obras muito valorizadas e longe do alcance dos orçamentos municipais. A convidada do colóquio que encerrou as comemorações do segundo aniversário do museu sublinhou a importância da internet na divulgação e projecção internacional do museu. Simonetta Luz Afonso referiu que a página oficial na internet não pode conter apenas a programação cultural do museu. “É fundamental disponibilizar online o espólio literário e das peças que compõem as exposições. Se todas as exposições e inaugurações puderem ser vistas na internet isso vai despertar o interesse das pessoas a vir conhecer o espaço. O museu também pode criar cursos à distância através da internet”, salientou, acrescentando que acordou com o director do museu, David Santos, a colocação do link do site do museu na página oficial do Instituto Camões. Para Simonetta Luz Afonso o museu tem um bom espólio literário mas falta abrir o museu à fotografia, cinema de autor e aumentar a importância do facto de ser um museu de proximidade criando redes de interesses junto das comunidades locais e regionais. “O museu do Neo-Realismo tem um papel muito importante a desempenhar que é explicar aos jovens que não sabem nada acerca deste movimento, o que é o Neo-Realismo e de que forma este foi importante para Portugal. Além disso, este museu não pode ser só um museu de arte ou literatura. Tem que ser também um movimento de ideias”, concluiu.“É fundamental disponibilizar online o espólio literário e das peças que compõem as exposições. Se todas as exposições e inaugurações puderem ser vistas na internet isso vai despertar o interesse das pessoas a vir conhecer o espaço. Director confiante no futuro do museuDavid Santos é o director do Museu do Neo-Realismo desde a primeira hora. No dia do segundo aniversário do museu, na terça-feira, 20 de Outubro, O MIRANTE pediu a David Santos um balanço destes dois anos de trabalho. “Faço um balanço muito positivo. Tivemos cerca de 40 mil visitantes, 20 exposições, 80 encontros e 220 visitas guiadas. “A minha chama e motivação é superior à inicial porque nunca estamos absolutamente satisfeitos. Há sempre novas batalhas e desafios para enfrentar e é isso que vamos continuar a fazer”.Em relação ao futuro do Museu do Neo-Realismo o director mostra-se confiante. “Existem novos desafios e projectos de exposições para o próximo ano que vão ser muito importantes para o desenvolvimento e consolidação nacional do museu do Neo-Realismo”, referiu, dando como exemplo a exposição documental dedicada ao Campo de Concentração do Tarrafal, realizada em parceria com a Fundação Mário Soares, cuja inauguração está prevista para Fevereiro de 2010.No dia em que o museu do Neo-Realismo assinalou dois anos, David Santos comandou uma visita-guiada pelo museu. Durante a visita, o director do museu falou do movimento Neo-Realista que surgiu em Portugal aquando da Guerra Civil de Espanha em meados de 1937. “Existe a ideia de que o movimento Neo-Realista, ao querer ser acessível ao cidadão comum, tornou-se simples ou com pouca qualidade. Esta é uma ideia completamente errada. O Neo-Realismo quis ser acessível ao cidadão comum, mas nunca deixou de ser complexo, com obras de elevada qualidade artística. Esse é um preconceito que este museu tem obrigação de desmistificar e também mostrar aos mais novos o que esteve na origem deste movimento tão importante entre as décadas de 40 e 70”, concluiu.Um museu da afectividadeO balanço dos dois anos de Museu do Neo-Realismo feitos por Simonetta Luz Afonso valeram pelo contributo que a actual presidente da assembleia municipal de Lisboa pode vir a dar no futuro. David Santos apresentou a conferencista como uma pessoa de grande conhecimento que ia ali para fazer um balanço independente do que foi o trabalho do museu. A oradora, de forma séria é éticamente correcta, começou por dizer que nunca tinha visitado o museu e que precisou de chegar mais cedo para se inteirar do que foram as actividades do museu ao longo destes últimos dois anos.À parte este equívoco, que se deve acima de tudo ao facto do responsável pelo museu ter lugar cativo como moderador, a conferencista prestou um excelente contributo ao futuro do museu levantando questões muito pertinentes para o futuro do museu e mais importante espaço cultural da nossa região.Internacionalizar o Museu, digitalizar algumas obras literárias importantes de forma a poderem ser lidas sem custos, complementar o espólio literário com arte plástica e fotografias de autores que foram igualmente grandes figuras do neo-realismo; fazer do museu do neo-realismo um museu de proximidade de forma a que ali se debatam e provoquem questões que alimentem a vida cultural da comunidade; criar redes de interesses uma vez que o mundo de hoje é assim que se relaciona. Foram muitas e boas as propostas e sugestões que Simonetta Luz Afonso deixou no Museu. E o facto de ser uma pessoa de fora a falar daquele espaço, do que ele representa e do que pode vir a contribuir para o prestígio de Vila Franca de Xira, acentua ainda mais o valor de quem teve a ideia do museu, de quem o construiu e de todos aqueles que ao longo destes últimos anos, de uma forma ou de outra contribuíram para a sua excelência como espaço cultural.Mais do que fazer do Museu um complemento para o ensino dos meninos da escola, o grande desafio para os seus responsáveis é continuar a gerir o espaço como se ele fosse da comunidade e à comunidade deva ser devolvido sempre que se justifique. Quanto maior for o debate de ideias, a diversidade dos convites, a interacção com os agentes locais, regionais e nacionais, maior será o seu prestígio e menor risco haverá de se tornar um pequeno feudo.Sou testemunha do esforço da presidente da Câmara, Maria da Luz Rosinha, para manter o museu aberto fora de horas e para ter um bar aberto até à hora do fecho do museu. Mas isso não chega para fazer a diferença. “Há um lado afectivo que é preciso continuar a alimentar” (palavras de Simonetta Luz Afonso) junto dos agentes locais que já não pode ser só da responsabilidade dos políticos. JAE
Museu do Neo-Realismo tem que apostar na internacionalização

Mais Notícias

    A carregar...