A associação que defende os produtos tradicionais portugueses - Qualifica - criticou terça-feira o excesso de burocracia que tem contribuído para o atraso dos processos de identificação dos produtos. A coordenadora da Associação Nacional de Municípios e de Produtores para a Valorização e Qualificação dos Produtos Tradicionais Portugueses (Qualifica), Ana Soeiro, afirmou à agência Lusa que tem havido dificuldades resultantes da luta contra “a máquina pesada da administração pública e da burocracia”.“Nós enviamos cartas e não nos respondem. Nós queremos marcar uma reunião e não há datas, queremos fazer qualquer coisa e o silêncio do outro lado é sepulcral”, declarou a responsável da Qualifica, entidade criada há um ano. Contudo, apesar da lentidão dos processos, o número de associados até tem vindo a aumentar. “O número tem aumentado devagar, mas bem. Iniciámos com 31 associados, mas agora contamos com 44, num progresso que tem sido lento, mas sólido”, disse.Com o objectivo de defender os produtos tradicionais portugueses, a “base da economia das regiões”, a Qualifica, com sede em Portalegre, está instalada no edifício do município local, mentor do projecto. De acordo com Ana Soeiro, engenheira agrónoma, que trabalha há 30 anos nesta área, uma das funções da associação passa por “identificar” os produtos tradicionais portugueses que correm o risco de desaparecer. Em Portugal estão identificados mais de 700 produtos tradicionais.Na lista encontram-se iguarias tradicionais tão distintas como as alheiras de Boticas, o arroz carolino do Baixo Mondego, a banha vermelha de Estremoz e Borba, o bucho da Guarda, o folar de Barroso, a lampreia do Convento de Santa Clara de Portalegre, o mel de Côa, os bolos lêvedos, as cavacas das Caldas, as xerúvias do Fundão, as trouxas da Madeira ou as tortas de Azeitão. No que diz respeito à qualificação, existem 116 produtos portugueses qualificados a nível europeu (patente).Durante o primeiro ano de actividade, a Qualifica tem participado em eventos e exposições com o objectivo de divulgar o seu trabalho e desenvolver a sua expansão. A adesão à estrutura internacional de produtos certificados, “Organisation for an International Geographical Indications Network -Origin”, foi outro dos pontos que marcou este primeiro ano de existência da Qualifica.Segundo Ana Soeiro, a ligação a esta organização concede à Qualifica “informação e conhecimento” do que se passa na Europa e no Mundo sobre produtos certificados de uma forma “privilegiada”. O trabalho da Qualifica desenvolve-se em quatro áreas “fundamentais”. A qualificação de produtos, produtores e estabelecimentos, a apresentação de propostas de regulamentação relevantes para o sector, o apoio técnico, jurídico e económico-financeiro aos aderentes e ainda a promoção dos produtos e produtores de diversos mercados.