uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Mónica Martins é oficial da Marinha mas passa a vida a voar

Mónica Martins é oficial da Marinha mas passa a vida a voar

Natural de Tomar diz que quer pilotar helicópteros enquanto puder

Natural de Tomar, Mónica Martins, 32 anos, é a única mulher da Marinha Portuguesa a pilotar helicópteros. Com o posto de Tenente, as missões e acções de treinos afastam-na por longas temporadas da família e amigos.

Como é que surgiu o mundo dos aviões na sua vida?Não tinha a mínima ideia do que ia fazer a nível profissional. No 12.º ano chegaram à escola uns panfletos para concorrer à Força Aérea e resolvi concorrer com outra amiga. Fizemos os testes em Abril mas chumbei para pilotagem nos testes psicométricos. Regressámos à escola e pouco tempo depois outro colega convidou-nos a concorrer para a Marinha. Não fazia a mínima ideia ao que ia. Acabei por ser a única a conseguir entrar.  Que provas teve que fazer?A média de entrada calcula-se da mesma forma que para a universidade. Mas tive que realizar provas médicas, testes psicomotores, psicológicos e testes físicos. Na Marinha os testes são feitos na Escola Naval e acabei por fazer logo muitas amizades. Gostei do que vi. Os meus pais matricularam-me, entretanto, no curso de Matemática, via ensino, em Coimbra, por precaução. Penso que um dos grandes motivos que me levou a optar pela Marinha foi também porque os testes para a Força Aérea são feitos no Hospital do Lumiar. Escolhi a classe Marinha, que é a mais geral onde passei cinco anos (quatro teóricos na escola e um de estágio). Completei um ano como guarda marinha e três como segundo tenente, já a navegar. Entretanto abriu o concurso e entrei para Piloto Naval. O curso de pilotagem foi dividido entre Ota, Beja e Montijo. Concluí-o em Outubro de 2006. Como é que foi voar pela primeira vez?Já tinha o bichinho de voar até porque tinha concorrido à Força Aérea mas nunca tinha andado de avião. Começamos a parte de voo na Base de Beja, que pertence à Força Aérea. Depois de nos mostrarem o funcionamento do avião, dão-nos logo o comando para as mãos. Foi emocionante. É difícil mas nada que não se aprenda.  Como é que é ser a única mulher piloto naval na Marinha Portuguesa?Ninguém estranha o facto de ser uma mulher a ocupar aquele cargo, pois já me encontro na Marinha há 15 anos. Já conhecia os meus camaradas porque andei muitas vezes nos navios, onde exercia outras funções. Penso que me tratam de igual para igual. Não há diferenças.  Qual foi a experiência mais marcante num helicóptero naval?Foi durante uma missão que visava o combate à emigração ilegal e tráfico de seres humanos nas zonas do Senegal e Guiné e Estreito de Gibraltar e combate à pirataria na zona da Somália. Quando estávamos a passar no Mar Vermelho, junto ao Iémen, houve necessidade de prestar auxílio a militares que estavam numa ilha que entrou em erupção. Foi uma situação completamente inesperada mas que acabou por correr bem, embora dois militares nunca tivessem aparecido. Até que idade é que pode andar nos helicópteros?  Não há uma idade imposta mas a certa altura damos a vez a outras pessoas e somos destacados para outras funções. É natural que isto aconteça no decorrer normal de uma carreira nas Forças Armadas.Passa muito tempo longe da família. Nessas alturas sente o peso da profissão?Confesso que já perdi alguns casamentos e festas de família por me encontrar fora do país. Não é fácil conciliar esta família com a profissão mas se estivesse mal, mudava-me. Estou bem onde estou. Esta foi a minha opção de vida, nada me foi imposto. Antes de tomar esta decisão informei-me e já sabia que o meu futuro ia ser assim.  A Marinha recebe formação específica quando tem que colaborar com outras Forças Armadas em missões internacionais?Existem navios específicos para essas missões internacionais que são as fragatas. Quem vai para essas fragatas tem formação específica mas esta incide mais na operação do navio que tem que estar sempre pronto para integrar uma missão nacional ou internacional. Baseamo-nos sempre na doutrina NATO que inclui procedimentos comuns que existem para todos os países da NATO.  Tem capacidade de abrir fogo no helicóptero do navio?Sim. Temos dois tipos de armas. Torpedos, que são armas que usamos contra submarinos e metralhadoras para combate à droga e pirataria mas que são utilizadas sempre com o primeiro objectivo de fazer parar estas embarcações.  As missões de salvamento que fazem são só no ar ou também em terra?Há o salvamento marítimo que, em águas nacionais, é feito só com os nossos navios e os meios aéreos da Força Aérea. Depois existem as catástrofes naturais, como as cheias ou fogos onde os três ramos das forças armadas são chamados. Por exemplo, quando numa situação de cheias se vêem os botes é a Marinha a actuar. Mas, normalmente, as operações em terra são com os Fuzileiros, a não ser que a população em risco se localize junto ao mar. Treinamos exaustivamente as operações de “não combatentes” com o objectivo de prestar ajuda humanitária a civis. Nestes casos, o navio tem sempre capacidade de disponibilizar parte da guarnição e material que tem a bordo e prestar auxílio à povoação costeira.  Tem contactos esporádicos com outros pilotos da Força Aérea?Todos os dias.  Nota-se alguma rivalidade por pertencerem a diferentes ramos das forças armadas?Não, pelo contrário. Nós somos formados na Força Aérea. A esquadrilha de helicópteros da Marinha está dentro na Base Aérea do Montijo. Somos camaradas. A relação entre Marinha e Força Aérea é muito boa.  Já encontrou alguma explicação para que mais senhoras não estejam interessadas em ser piloto de helicóptero?Simplesmente porque não há camaradas ainda que possam concorrer. Fui a primeira a ter hipótese de entrar para o curso de pilotagem em 2004. Daí para cá ainda não houve nenhuma mulher que estivesse nas condições de concorrer. São muito poucas as alturas em que se pode concorrer para ser piloto. Das únicas mulheres que conheço que podiam concorrer, uma escolheu Hidrografia e duas Artilharia. Também não há necessidade de abrir concurso para pilotos todos os anos. Quando concorri havia 20 candidatos e eu era a única mulher. Tive a sorte de, entre os 8 que foram apurados, de ser a mais graduada.  Já  foi a alguma escola aconselhar os jovens a seguir esta carreira?Sim, já fui uma vez. O que faço nessa altura é contar um pouco da experiência que é a minha vida.  Concorda que “a antiguidade é um posto” na Marinha?O mais antigo é o mais graduado. Não é o que está há mais tempo. A antiguidade é o grau que a pessoa alcança. Um praça que está na Marinha há 30 anos há-de ter mais experiência na sua área específica, do que um jovem oficial tem na sua, estando na Marinha há apenas dois ou três anos, embora este seja mais graduado, logo, mais antigo. Tem que haver regras, senão não era militar.  Os militares tiram a farda logo que entram de licença. Há  uma fobia à farda ou qual a verdadeira explicação?O orgulho na farda existe muito. Nós tiramos a farda quando saímos do trabalho tal como um médico despe a bata quando acaba de dar a consulta. Penso que, tal como as outras pessoas, também ansiamos para ir para casa ter com a família.
Mónica Martins é oficial da Marinha mas passa a vida a voar

Mais Notícias

    A carregar...