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“Um quadro nunca está totalmente acabado”

“Um quadro nunca está totalmente acabado”

Luísa Peixe despertou para a pintura depois dos cinquenta

Nasceu em Arruda dos Vinhos, mora em Samora Correia, concelho de Benavente, mas assume-se como Vilafranquense. Luísa Peixe tem 63 anos mas só depois dos cinquenta é que descobriu uma vocação tardia e começou a pintar.

“Pintar é uma realização pessoal. A nossa passagem pela terra não pode ser só trabalho. Temos de fazer qualquer coisa de diferente. De experimentar coisas novas”, aconselha Luísa Peixe, 63 anos, que decidiu arriscar depois dos cinquenta. “Há pessoas que nascem com aquela queda. Eu nasci com a vontade de pintar. Um quadro para mim nunca está totalmente acabado”, garante a artista que se considera uma eterna insatisfeita e quer sempre ir mais além.Apaixonada pela arte acalentava um sonho secreto. “Nunca comprei um quadro e algo me dizia que era eu que ia encher as paredes da minha casa com quadros pintados por mim. E assim aconteceu”, revela Luísa Peixe.É natural de Arruda dos Vinhos mas diz que Vila Franca de Xira é que é a sua terra. Há dezassete anos mudou-se de malas e bagagens para Samora Correia, concelho de Benavente. Facto que seria determinante no seu caminho como artista plástica.Aos 58 anos soube que decorria um curso de pintura numa escola local. Por curiosidade resolveu experimentar, incentivada pelo marido que sempre a apoiou a “alargar horizontes”. Ao princípio as coisas não correram bem e acabaria por desistir. No ano seguinte regressou e as coisas foram diferentes. Concluiu o curso passado dois anos. O “bichinho” pela pintura tinha ficado. Inconformada, Luísa Peixe queria mais e procurou algo que a completasse. Há três anos, numa visita a Vila Franca de Xira, quando passava pelo Jardim Palha Blanco viu um desenho nas paredes com o nome de Grupo de Artistas e Amigos da Arte (GART) e informou-se. Desde essa altura que frequenta o curso de pintura com a professora Isa Fonseca.“Há coisas que não têm explicação. Estão cá dentro, não conhecemos e por vezes nunca descobrimos. Mas há outras situações em que as coisas acontecem naturalmente”, revela a artista, sentada na garagem transformada em ateliê de pintura.Acrílico e gesso não a cativam e pintar a óleo é o que a realiza mais. No futuro gostava de “tentar” aguarela que muito aprecia “mas por quem sabe realmente pintar, pois só assim é que é bonita”.Confessa que já pintou mais de cinco dezenas de quadros e alguns demoraram um ano a acabar. Prefere oferecer os trabalhos em vez de vender. “Só vendi um e porque foi feito por encomenda. Já tentaram comprar-me mas para já ainda não sou capaz de vender. Parece que me estão a retirar alguma coisa. É como um filho”, diz com um sorriso.“Na pintura ainda ando à busca”, responde Luísa Peixe, quando questionada sobre o que mais gosta de transpor para a tela. Mas sempre vai adiantando que prefere pintar paisagem urbana, casas, natureza morta ou o elemento água. Para breve fica a promessa de pintar animais. O primeiro será um cavalo, já que é uma aficionada da festa brava.A artista revela que só consegue pintar sozinha e no silêncio de um fim de tarde ou de uma noite. “Quando pinto esqueço-me de tudo. Desligo-me do mundo”, adianta. Há dias em que a mão se solta de uma maneira rápida e eficaz mas há momentos em que é preferível pousar o pincel e voltar noutra altura.Luísa Peixe já fez várias exposições colectivas no GART, na Patriarcal de Vila Franca de Xira e no Palácio do Infantado em Samora Correia. No próximo dia 1 de Dezembro prepara-se para apresentar quatro dos seus quadros numa exposição colectiva, promovida pelo GART, que irá decorrer no Centro Cultural de Samora Correia.Fazia os casacos de Manuela Moura GuedesLuísa Peixe casou com apenas quinze anos e aos vinte já era mãe de quatro crianças. Sempre trabalhou por conta própria e na altura comprou uma máquina de costura para fazer malha em casa e assim poder criar os filhos. Por volta dos trinta anos mudou-se para Vila Franca de Xira onde se estabeleceu e foi comerciante durante quinze anos. Há dezassete mudou-se para Samora Correia, Benavente, local onde hoje vive. Foi durante esse período que montou um atelier com sete máquinas de costura e começou a trabalhar em malhas para um estilista que tem uma loja em Lisboa. “Cheguei a fazer os casacos para a Manuela Moura Guedes e para a mãe. Eram feitos por encomenda”, conta com um sorriso a tricotadeira que ainda hoje recebe telefonemas do dono da loja para que volte a tricotar. Na ocasião, o estilista enviava-lhe todas as semanas o material do qual só via o resultado final quando o vinha buscar. “Nunca consegui trabalhar por conta de outrem. Gosto de ser eu a criar”, garante Luísa Peixe.A paixão pela fotografia e os retratos a lápis de carvãoAlém da pintura, Luísa Peixe tem outra grande paixão. A fotografia. Não concretizou o sonho de ser fotógrafa mas desenvolveu uma outra aptidão. Pintar fotografias de retratos a lápis de carvão. Neste momento frequenta os dois locais mas garante que pintar telas e retratos a carvão não têm nada a ver.O interesse despertou depois de ter visto o portfólio com os retratos a carvão de Hermínia Mesquita, sua colega nas aulas de pintura no GART. Conta que isto aconteceu num domingo e na quarta-feira seguinte já estava no Centro de Bem-estar Infantil de Vila Franca de Xira (CBEI) para se matricular. Há ano e meio que frequenta o curso de pintura a carvão e curiosamente a sua professora é a sua colega nas aulas de pintura, Hermínia Mesquita que também é professora de desenho e de inglês.“Dá-me gozo pintar retratos a carvão. Quando acabo de fazer questiono como consegui fazer aquilo “, confessa Luísa Peixe que neste momento está a desenhar o retrato do presidente da câmara de Benavente, António José Ganhão, para oferecer ao autarca.
“Um quadro nunca está totalmente acabado”

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