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Preservar a história para compreender o futuro

Preservar a história para compreender o futuro

José Pereira é técnico superior de museologia no Museu Municipal da Azambuja

Preservar, conservar, documentar, registar, inventariar e descrever a história dos objectos é a profissão de José Machado Pereira, técnico superior de museologia no museu municipal Sebastião Mateus Arenque, em Azambuja. Filipe Matias

Diz-se que o passado é passado mas a verdade é que sem ele não temos forma de compreender o nosso futuro. Este é um dos pilares da museologia, profissão desempenhada por José Machado Pereira, 51 anos. É actualmente técnico superior de museologia no Museu Municipal Sebastião Mateus Arenque, em Azambuja, e diz que não trocaria a sua profissão por nenhuma outra por esta ser tão “aliciante e desafiante”. O seu trabalho consiste em preservar, documentar, registar e inventariar todos os objectos presentes na colecção do museu. Além disso encaminha o público para as áreas de maior interesse e oferece explicações quando um turista ou visitante não sabe, por exemplo, como funciona um primitivo secador de arroz.“Eu moro a poucos metros do meu local de trabalho, por isso levanto-me todos os dias por volta das 08h00 e quando são 09h30 estou em frente ao computador a trabalhar e a pesquisar”, conta José Pereira a O MIRANTE. “Estamos permanentemente a investigar e a documentar a nossa colecção”, refere. O quotidiano de José Pereira, que parece simples e tranquilo a quem não conhece a profissão, está sempre sujeito a abalos, como quando lhe aparece uma peça oferecida por um popular e ninguém faz ideia do que possa ser. “Quando alguém nos traz um objecto que não conhecemos, o que acontece muitas vezes, temos de começar com uma ideia do que será esse objecto e para o que serviria. Depois é só ir investigar, documentar e contextualizar esse objecto no seu tempo”, explica o nosso interlocutor. Para esse trabalho de fundo José vai a bibliotecas, bancos de arquivos e à internet. “Mas temos de ver sempre na literatura que já está publicada, é muito importante”, acrescenta, informando que o fundamental para um museólogo é “saber colocarmo-nos no lugar das pessoas, ou seja, perceber o que elas querem saber”.José Pereira vive na Azambuja há mais de 30 anos mas é natural da Beira Alta, da vila de Figueira de Castelo Rodrigo. Estudou na Guarda e, com o 25 de Abril de 1974, optou por uma via profissionalizante. “Fui para desenhador de construção civil e foi na câmara que entrei como desenhador projectista, onde já estou há mais de 20 anos”, conta. É casado e tem dois filhos. A sua paixão é a história e depois da licenciatura veio a pós-graduação em museologia e gestão da cultura e do património, estando em fase de conclusão a sua tese de mestrado. Exerce a profissão desde 2002. José Pereira é ainda o autor de vários estudos sobre a história de diversas freguesias do concelho da Azambuja, como Alcoentre e Aveiras de Baixo. “A profissão está a mudar. Um técnico museólogo já não é apenas uma pessoa que estuda e acompanha a ciência dos museus, ou seja o dia-a-dia e a gestão de colecções do espaço. Hoje a museologia é também uma ciência moderna que estuda o homem e a sua realidade, já não se concentra apenas nos objectos mas sim na relação entre o homem e o objecto. O museu acaba por ser sempre um nome genérico para definir um conjunto de realidades que são pautadas hoje pelo próprio homem. As pessoas actualmente, ao verem uma peça ou obra de arte, já a associam ao homem que a concebeu e executou”, defende. Para o nosso interlocutor ser museólogo nos dias que correm é mais fácil do que há uma década. “Actualmente o conhecimento abunda, podemos ir à internet ou realizar uma pesquisa nos arquivos que existe de tudo, é fantástico e é uma grande ajuda à nossa profissão”, explica. A falta de visitantes é ainda um dos problemas que a maioria dos profissionais lamenta. Para José Pereira o problema é não estar ainda suficientemente enraizado no público português o hábito de frequentar museus.“Hoje os museus não são para visitar, são para frequentar. Daí que, se as pessoas se habituarem a frequentar e usufruir do património que é de todos, acabam sempre por aprender algo mais que lhes é gratificante para a vida. Hoje o museólogo não pode ver isto como uma profissão mas sim como uma paixão cheia de espírito de missão”, conclui o homem cujo trabalho é, muitas vezes, desconhecido do grande público.
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