Os meus pais emigraram para França quando tinha apenas seis meses. Fui criada em Paris, onde estive até aos 18 anos. Para ser sincera, nunca estudei português e confesso que ainda tenho algumas dificuldades no vocabulário. Após terminar os estudos comecei a trabalhar como secretária de direcção. Mais tarde casei e tive duas meninas. A vontade de mudar de vida, que mais tarde ou mais cedo acontece à maioria das pessoas, ditou o meu regresso a Portugal. De início dediquei-me às vendas e mais tarde abri o meu próprio negócio. Um dos clientes do meu estabelecimento era o Rui, carpinteiro e proprietário de uma fábrica de móveis (Fabrimóvel) há mais de 20 anos. Na altura ele procurava uma secretária para a fábrica e, como já tinha experiência, resolvi arriscar e começamos a trabalhar juntos. A primeira loja que abrimos foi no Entroncamento. Apenas fabricávamos para lojas, a maior parte na zona de Lisboa. A determinada altura houve uma queda nas vendas e a solução encontrada para escoar o material e podermos manter os nossos funcionários foi abrir uma loja. Hoje temos lojas em Entroncamento, Cacém, Idanha (Belas) e Torres Novas. “Cama Comigo” é um nome diferente, que fica no ouvido. Na fase inicial as pessoas mostravam-se um pouco chocadas e era um bocado complicado fazer com que dissessem o nome. Mas passado um tempo começaram a gostar e já se habituaram. Os clientes podem encontrar tudo para a casa, desde o chão até às paredes. Aposto no charme e no glamour. Um móvel é como um ser vivo e tem que ser decorado e cuidado para ganhar mais beleza.Vamos abrir uma loja nos arredores de Paris. Era um desejo antigo que tinha porque também fui incentivada nesse sentido. Tenho ido várias vezes a essa cidade para estudar o modo de apresentação das lojas. É um espaço pequeno, com cerca de 70 metros quadrados, mas bem localizado. Vamos levar algumas das nossas peças mas trabalhar essencialmente com catálogos. Temos em construção o site da empresa na Internet porque queremos apostar cada vez mais na internacionalização. Não podemos parar e temos que apostar na inovação. Costumo dizer que ando sempre a cem à hora. Tenho quatro filhos e dou apoio nas várias lojas. É complicado conciliar trabalho com vida familiar. Tenho uma filha de 24, outra de 16 e dois rapazes com sete e dois anos. Moro em Fátima mas, por acaso, ainda não decorei a minha casa porque os meus filhos gostam de brincar e jogar à bola em casa. Nesta fase da minha vida, trabalho de segunda a domingo. Há 15 dias que estou diariamente na nova loja de Torres Novas porque tive dificuldade em arranjar pessoal para trabalhar. Nunca tive formação na área da decoração mas pretendo tirar um curso. Vou buscar as minhas ideias no que leio em revistas e das visitas que faço a feiras no nosso país e estrangeiro.Quando estava em França tinha saudades de Portugal. Quando vim trabalhar para cá fiquei com saudades de lá. Sinto-o como se fosse o meu país natal. Noto muita diferença ao nível das mentalidades. Sinto que tenho uma estrela que me dá força e sei que Deus me vai recompensar um dia.Elsa Ribeiro Gonçalves