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A noite dos poetas com mágicas secretas no grémio da Póvoa

A noite dos poetas com mágicas secretas no grémio da Póvoa

XIII Encontro organizado pela Associação Cultural D. Martinho
“Esta noite é dos poetas/Não me perguntem porquê/Mas há mágicas secretas/Na boca desses profetas/Quando a gente os ouve ou lê”. Quinta-feira, 21 de Novembro. No Grémio da Póvoa de Santa Iria a poesia vai escorrendo em cascata pela noite dentro. Maria de Lurdes Duarte respondeu ao convite da Associação cultural D. Martinho para comparecer no encontro de poetas e vai declamando as quadras do seu poema. “Há gente que não entende/O que eles querem dizer/Não sabe, não compreende/Que a poesia não se aprende/Faz parte do nosso ser”.A sala é pequena, intimista, com sete ou oito mesas onde se vão concentrando grupos de 3 ou 4 dos cerca de 25 poetas, de todas as idades, que responderam à chamada. Há os mais conhecidos, com obra publicada e reconhecida, como Arquimedes Silva Santos, que inspirou e continua a inspirar os mais novos, mas há também outros que se aventuram nos caminhos da poesia. Para ser poeta não contam as habilitações académicas. E em qualquer idade pode surgir a inspiração. Maria José, de 91 anos e analfabeta, é a prova disso mesmo. Aos quatro anos de idade já fazia poemas sobre episódios do seu dia-a-dia e a poesia acompanhou-a ao longo da vida. Umas vezes era poesia bem-humorada. Mas também fez versos de crítica social. E de dor, como quando o filho foi para a Guerra do Ultramar. Como não sabe ler, pede à filha Maria de Deus que vá escrevendo os poemas que inventa. “Que lhe fluem como braços de rio correndo em todas direcções até ao mar”. Depois dá-os aos filhos, netos e amigos como quem oferece flores. E é a filha que se levanta para recitar os versos da mãe.“Ninguém me ensinou a ler/ Deixaram-me analfabeta/Mas sou conhecida onde vivo/ Por Maria José Poeta/Em Março de 2008/Sai o meu segundo livro/Por Maria José Poeta/Sou conhecida onde vivo”.O engenho e a arte de versejar de Maria José arrancam palmas da audiência, que se orgulha de ter presente no grupo uma poeta popular anciã. A Associação D. Martinho tem como objectivo a promoção da identidade sócio-cultural da Póvoa de Santa Iria, que no passado se chamava Póvoa de São Martinho. Todos querem participar activamente no encontro. Dando a sua poesia ou recitando poemas de outros. Conceição Claro pertence aos músicos da Banda Filarmónica do Grémio, que animaram o encontro com música. Diz que a ligação da poesia à música foi uma excelente ideia. “Estes encontros fazem bem ao ego e à alma porque nos aliviam do stress e nos fazem sonhar e reflectir”. Manuela Roriz escolheu dois poetas já consagrados da Póvoa: Arquimedes da Silva Santos e Manuel Tomé. Diz-nos que encontra a verdade nas palavras deste último. A viúva de Manuel Tomé, Edite, também está presente. Também ela é poetisa. “A poesia é cultura, mas é também uma forma de intervenção social. A Póvoa está cheia de poetas de Abril e, tal como nesse tempo, também agora é preciso chamar a atenção para estes temas”, alerta. E acrescenta: “A nossa situação social e económica é muito grave e é preciso lutar. Os poetas lutam com os versos em busca de mudança, porque se ficarmos quietos nada acontece”.E a poesia foi enchendo a sala do Grémio noite dentro. “Ponham a sala a vibrar/Escolham as rimas correctas/Espalhem versos pelo ar/Duma beleza sem par/Que esta noite é dos poetas”.
A noite dos poetas com mágicas secretas no grémio da Póvoa

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