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“O Ribatejo não seria a mesma coisa sem os avieiros”

Livro apresentado em Santarém fala da religiosidade desse povo de pescadores imortalizado por Alves Redol

Candidatura da cultura avieira a património nacional recebe mais um contributo.

O livro “A Reconstrução do Sagrado – Religião popular nos avieiros da borda d’água” é a primeira de uma série de publicações que pretendem dar suporte material à candidatura da cultura avieira a património nacional. Um projecto coordenado pelo Instituto Politécnico de Santarém e que envolve dezenas de entidades e instituições da região e não só. O Ministério da Cultura terá a última palavra na avaliação da candidatura.A obra, em jeito de estudo antropológico, é da autoria de Aurélio Lopes e João Monteiro Serrano e foi apresentada na tarde de sábado na Sala de Leitura Bernardo Santareno, em Santarém. Na apresentação, Matias Coelho, recorda que o projecto que pretende elevar a cultura avieira a património nacional, nascido há cerca de três anos e meio, e os estudos que daí têm resultado já permitem perceber que o fenómeno migratório iniciado no século XIX não se limita à relação entre a Praia da Vieira e o rio Tejo entre Abrantes e Póvoa de Santa Iria.“A cultura avieira é verdadeiramente nacional. Até há pouco tempo pensava-se que apenas se limitava à migração de pescadores da Praia da Vieira para o rio Tejo e seus afluentes. Mas tem origens também na zona da gândara (Mira) e até mais a norte da Península Ibérica”, referiu o historiador Matias Coelho, também ele um interessado pelo fenómeno que estudou junto de comunidades avieiras do concelho da Chamusca entretanto extintas. Salientou ainda que os avieiros também se estabeleceram no rio Sado, até Grândola e Alcácer do Sal.A riqueza da cultura avieira resulta sobretudo da interligação dos pescadores da costa atlântica, a maioria da Praia da Vieira, com as gentes da borda d’água. Criaram várias aldeias palafíticas (casas assentes sobre estacas), de que são exemplos Escaroupim (Salvaterra de Magos), Palhota (Cartaxo) ou Caneiras (Santarém).Os avieiros transmitiram e receberam influências e daí resultou “uma coisa diferente”, como salienta Matias Coelho. “O Ribatejo não seria a mesma coisa se não tivesse havido as migrações avieiras”, afirmou, acrescentando que “os avieiros construíram na borda d’água uma espécie de religião sem padre”. Ou, ressalvou, com padre apenas nas três alturas cruciais da vida: o nascimento, o casamento e a morte.39 entidades unidas em torno de um objectivoA candidatura da cultura avieira a património nacional começou de uma ideia simples nascida na aldeia avieira do Patacão, em Alpiarça, e começou a ganhar dimensão com a entrada no projecto do Politécnico de Santarém e de outras entidades, lembrou João Serrano. Actualmente são 39 instituições envolvidas que têm um programa de investimentos de 30 milhões de euros para 56 projectos na zona ribeirinha do Tejo. A valorização turística, económica e social sob o chapéu do legado único dos avieiros é o mote para esta conjugação de esforços.Para Maio próximo está marcado o primeiro Congresso Nacional da Cultura Avieira, que conta já com o alto patrocínio do Presidente da República.

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