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A internacionalização veio sem esperar

A internacionalização veio sem esperar

Sónia Dias é vice-campeã mundial de futsal universitário

Aos 20 anos, Sónia Dias, de Vialonga, chegou onde muitas jogadoras federadas não conseguiram chegar. Em Setembro do ano passado, jogou com a camisola das Quinas ao peito e sagrou-se vice-campeã mundial de futsal universitário.

O convite surgiu do próprio seleccionador nacional de futsal masculino, Orlando Duarte, quando estava num torneio em Chelas, ao serviço do Benfica. “Foi engraçado porque tinha várias chamadas de um número que eu não conhecia e eu atrevi-me a ligar para esse número. Eis que quem me responde do outro lado era o Orlando Duarte. Caiu-me tudo, não é verdade?!”, diz divertida.Sónia Dias foi seleccionada para um estágio de uma semana em Baião para escolher as eleitas para o mundial que se iria disputar no Brasil, mas ainda sem ter consciência da dimensão do convite. “Como era para jogar eu disse logo que sim. Nem sabia o que me esperava. Não sabia que era um campeonato universitário, não sabia que era um campeonato do mundo, não sabia que era para ir ao Brasil”, sublinha. Quando soube ao que ia, surgiu um problema. É que a atleta de Vialonga não estava ainda inscrita na Universidade. “Fui pelo Instituto Superior de Ciências Educativas, mas na altura nem sequer tinha feito os exames de admissão. Corria o risco de nem sequer conseguir entrar. O Orlando Duarte falou comigo num fim-de-semana e eu ia fazer os exames na terça-feira. Estava descontraída num torneio e nem tinha estudado sequer. Mas depois liguei logo à minha mãe para me vir buscar para começar a estudar de imediato”, recorda.A realidade atingiu-a em cheio quando ficou no grupo das eleitas, que ficou conhecido como “As Doze Magnificas”. Depois do Estágio em Baião, com treinos bi-diários, seguiram-se os estágios em Coimbra e em Vila real, antes do voo para Vitória, no Estado de Espírito Santo, no Brasil.Portugal ficou inserido no grupo do Brasil e do Uruguai, um grupo só de três equipas devido à desistência do Cazaquistão. “Quando chegámos fizemos um treino e tive a infelicidade de me lesionar. Fiz uma rotura na coxa e isso limitou-me. O que um jogador mais quer num campeonato do mundo é jogar todos os jogos. Mas nos dois últimos minutos desse jogo, o Orlando mandou-me aquecer e entrei e ainda marquei o ultimo golo, de cabeça. Era o que eu precisava. Entrar e marcar um golo para voltar a ter confiança”, refere.Portugal venceu o Uruguai, perdeu depois com o Brasil, mas venceu o México e a Costa Rica (novamente com golos de Sónia Dias) e conseguiu apurar-se para a final, frente às anfitriãs.“Na final, o ambiente no pavilhão foi incrível. O barulho era ensurdecedor! Era um pavilhão completamente cheio e a vibrar com o jogo. A realidade lá é completamente diferente. Era uma grande pressão e nós não soubemos lidar com isso. Jogámos com o coração e não com a razão, por isso acho que o resultado final não espelha a nossa qualidade”, diz com alguma tristeza.Portugal perdeu a final com o Brasil por 11-4, mas fez história na modalidade ao levar para casa a medalha de prata. “Foi uma experiência inesquecível. Devido à proximidade entre Portugal e Brasil, fomos das selecções mais acarinhadas. Era uma loucura, ao ponto de se fazerem cordões policiais para nós podermos passar. Queriam fotos, autógrafos, camisolas. Eu senti que aquilo era um sonho. Eu achava que era impossível alguma vez uma equipa de futsal feminino pudesse ter aquele mediatismo todo como nós tivemos”, refere com orgulho.De toda essa experiência ficaram as amizades, as recordações e uma página no Orkut (a maior rede social na Internet, no Brasil) de fãs de Sónia Dias. “Até parece mentira, mas criaram esta página e o lema era o que eu dizia sempre quando jogávamos lá no campeonato do mundo. Dizia-lhes que o céu não é o limite e que devemos ambicionar sempre mais. Foi o que nós fizemos e conseguimos muito mais que o céu! Chegámos à lua!”, diz com um largo sorriso e um brilho especial no olhar.“Já dava pontapés na barriga da minha mãe”Sónia Dias diz que não se lembra quando começou a jogar futebol. Diz que desde cedo se lembra de jogar à bola na rua, com os amigos e com o irmão. “Acho que já dava pontapés na barriga da minha mãe. Desde que me lembro que gosto de jogar futebol”, diz numa gargalhada sentida.Os primeiros passos numa equipa “oficial” foram dados aos 12 anos no torneio Xira 2000. “Joguei pelos Patuscos e adorei a experiência. Acho que o Xira 2000 foi muito importante para lançar algumas das jogadoras aqui da zona de Alverca e Vila Franca de Xira”, lembra.Nessa altura foi convidada a ingressar na equipa do Forte da Casa onde começou a sobressair e se sagrou campeã, na categoria júnior. Nessa altura chamou a atenção dos responsáveis da CHASA, de Alverca, equipa que militava na 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa e para onde se transferiu, com apenas 15 anos, jogando já na equipa sénior. “A CHASA era uma equipa mais adulta, mais madura e eu senti que foi a equipa que me permitiu evoluir como jogadora e foi um trampolim para me lançar naquilo que hoje sou”, sublinha. Depois de 2 anos ao serviço da CHASA, Sónia Dias recebeu, com apenas 17 anos, o convite do Sport Lisboa e Benfica e acabou por se transferir para a equipa encarnada. “Foi um grande privilégio chegar ao Benfica com 17 anos e jogar com aquelas que são consideradas as melhores jogadoras em Portugal e que fazem parte da elite do futsal”, refere com orgulho.Sónia Dias mostra com orgulho os títulos que já conquistou em apenas 21 anos. Na parede está a medalha de vice-campeã do mundo de futsal universitário, 3 de campeã nacional de futsal com a camisola do Benfica, 6 taças da Associação de Futebol de Lisboa, duas de campeã no inter-associações de sub-19 e outra de vice-campeã, campeã da Taça Ibérica, três vezes vice-campeã da Taça das Nações. A nível individual o prémio que mostra com mais orgulho é o de melhor marcadora no Torneio do Jogador Bebé [guarda-redes de futsal do S.L. Benfica], que recebeu directamente das mãos do seleccionador Orlando Duarte. Queremos uma selecção de futsalDepois de ganhar este título, Sónia Dias ficou com um amargo de boca, que é o facto de nunca ter vestido a camisola das Quinas pela selecção de futsal federado. Embora o futsal seja a segunda modalidade com mais praticantes em Portugal, não existe uma selecção feminina, um facto que para a vice-campeã não faz qualquer sentido.”Não se percebe porque é que não há selecção! A nossa classificação mostrou que temos jogadoras com muito valor e qualidade. Cada vez há mais equipas a apostarem na formação e não tem cabimento nenhum não haver uma selecção, com tanta qualidade que há em Portugal”, diz com alguma mágoa.O facto de não haver competitividade em Portugal e a inexistência de selecção nacional, leva muitas jogadoras a transferir-se para Espanha, onde têm maiores condições e onde podem jogar a nível profissional. “Eu também tive um convite para ir jogar para Espanha por 3 anos, quando regressei do campeonato do mundo no Brasil. Davam-me um salário, casa e pagavam-me as viagens. Mas acabei por recusar porque não me garantiam a continuidade dos estudos e eu preferi continuar a estudar, porque em Portugal o futsal não dá futuro. Daqui a 3 anos, tinha 23 anos, 24 anos e depois o que é que eu ia fazer? De certa forma, estou numa equipa que me permite ir a grandes palcos e isso é óptimo, mas seria hipócrita se dissesse que não gostaria de ir jogar no campeonato espanhol, se me dessem outras as condições. Talvez um dia”, diz com uma piscadela de olho e uma careta.
A internacionalização veio sem esperar

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