Jorge Nunes
44 anos, empresário, Santarém
Jorge Nunes, 44 anos, é o rosto da Casa de Escapes de Santarém. Uma empresa familiar fundada pelo pai e que gere hoje com a ajuda da esposa. Tem uma filha de 15 anos e uma paixão por conhecer Portugal. Ir para fora cá dentro é um lema do empresário que preserva a família e valores como o da seriedade.
Comecei a ajudar o meu pai em pequeno. Andava na escola primária. Segui esta área um pouco por influência. Na altura não existiam estas casas. Os escapes eram feitos manualmente. As pessoas sabiam que o meu pai trabalhava na área e pediam-lhe para trazer uma panela para o carro. Ao fim de semana o trabalho dele era montar os escapes. Eu ia ajudar. Vivíamos então em Aveiras de Cima. A Casa de Escapes de Santarém só abriu em 1989. Na altura era empregado do meu pai. Há três anos que a empresa é minha e da minha esposa. Vou almoçar a casa. Moro a cinco minutos da oficina. É uma das vantagens de trabalhar perto de casa, mas às vezes nem há tempo para isso. De vez em quando encurtamos a hora de almoço para que o cliente possa ter o carro arranjado. Abrimos às 09h00 e fechamos às 18h15, o que não quer dizer que não recebamos um cliente às 18h00 para um serviço relativamente rápido. Isso acontece com alguma frequência. O que mais me custa é mexer com papéis. Mas é um trabalho que tem que ser feito. Podemos ser os maiores profissionais a trabalhar de manhã à noite, mas se não tivermos os papéis organizados não temos hipótese. A parte administrativa ocupa-me muito tempo, sobretudo a gestão de stocks. Temos uma variedade muito grande de produtos. Muitas vezes este trabalho tem que ficar para um ou outro serão à noite. Gosto de vir para a oficina porque estou mais focado. Em casa tenho a filha e às vezes é difícil conseguir a concentração que se requer quando estamos empenhados no trabalho. Fechamos sempre as duas semanas do meio de Agosto. Não há dias certos. A primeira não fechamos porque há pessoas que vão de férias e arranjam o carro à última hora. Há pessoas que estão a vir de férias do mês de Julho e precisam arranjar o carro. É uma altura em que há mais disponibilidade financeira. Não sou muito adepto de desporto. Gosto de passear pelo nosso país. Nos fins de semana maiores vou passear com a mulher, filha e com os meus pais. Temos coisas muito bonitas no nosso país que às vezes não são conhecidas. Adoro ir para a Serra da Estrela. Adoro o Gerês. Prefiro Portugal ao estrangeiro. Há países que adorava conhecer, mas gosto muito do nosso. Já conheço a Madeira e quero ir aos Açores. Devemos ter orgulho naquilo que é nosso. O Brasil, que está muito na moda, não me fascina. O ano passado tive uma viagem paga para lá ir e não fui. Tinha que deixar cá a minha esposa e não era justo. Para irmos os dois tínhamos que fechar a firma. E os nossos clientes não mereciam isso. Gostei mais de ir a Espanha, um mês depois, através do mesmo fornecedor que me ofereceu a viagem. Fiz uma visita de estudo a uma das fábricas em Valência. Este ano quis pintar a oficina, mas acabei por pintar a minha casa. Comecei com uma divisão e acabei por pintá-la toda. Depois tínhamos já um passeio programado com reserva de hotel. Hotéis, não hotel. Quando saio não gosto de ficar num único hotel. Gosto de visitar outros sítios. Fui fazer uma viagem que tinha programada. Visitar uma zona que o meu pai não conhecia: Mirandela. Tenho a tinta comprada, mas estou à espera que venha um fim-de-semana com bom tempo.Trabalhar com a esposa tem vantagens. A firma é dos dois e há confiança. Estamos 24 horas um com um outro, mas felizmente conseguimos separar a vida privada do trabalho. Há pessoas que ficam admiradas. Saímos à porta da empresa e os assuntos da oficina ficam lá dentro. Uma coisa que faz falta em Portugal é a seriedade. Acho que devemos ser sérios, honestos e simples. Havendo isso o resto pode ser construído. Procurar o jeito e a vigarice não leva a lado nenhum. Nas tarefas domésticas ajudo, mas pouco. Chego a casa por volta das oito. E muitas vezes ao serão venho adiantar trabalho para a oficina. A esposa sai mais cedo para fazer o jantar e ir às compras. Quando chego a casa o trabalho está feito. Tenho uma filha de 15 anos. Não está interessada em seguir a área. Quer gestão informática. Este negócio de escapes de automóveis está limitado no tempo. Daqui a 20 anos o mercado automóvel está diferente. Os carros eléctricos não têm escapes. Tenho uma visão particular da vida. Acho que devemos ajudar os filhos, mas não facilitar-lhes a vida. Quanto mais os protegemos mais eles ficam desprotegidos. Ana Santiago
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