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Poesia é forma de entender e estar na vida

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IX Encontro de Poetas do Ribatejo homenageia Albertina Pato e João Vieira Sabino

A Câmara Municipal de Benavente prestou homenagem aos poetas Albertina Pato e João Vieira Sabino, atribuindo-lhes a Medalha Municipal de Grau Prata, por ocasião do IX Encontro de Poetas do Ribatejo, em Samora Correia. Cerca de 80 poetas populares reuniram-se no Palácio do Infantado, para divulgar a sua obra e para dar a conhecer novos talentos.

Os poetas populares João Vieira Sabino e Albertina Pato foram homenageados pela Câmara Municipal de Benavente com a medalha municipal, grau prata, no sábado, 30 de Janeiro, durante o IX Encontro de Poetas Ribatejanos, que decorreu no Palácio do Infantado, em Samora Correia.“Para rimar nasci com vida, porque nasci para viver/ A ideia está percebida, o que é que eu hei-de fazer/ Vivo rimando no jeito, e na vida vou andando/ E sinto-me satisfeito, e levo a vida rimando. (...)Como vêem meus amigos, não custa nada rimar/ Já mostrei os meus sentidos, que rimo, rimo sem parar.”Assim se apresenta João Vieira Sabino, 89 anos, o mais velho “trovador” num encontro que juntou cerca de 80 poetas populares, vindos do concelho de Vila Franca de Xira e do distrito de Santarém. Brincalhão por natureza, o natural de Muge (Salvaterra de Magos) só aprendeu a escrever aos 34 anos, mas não foi isso que o impediu de versejar com os temas do quotidiano desde tenra idade. A poesia a sério só começou a brotar aos 80 anos e desde então já tem vários livros publicados. Desde que enviuvou escreve sobretudo à noite. “A maior parte foi escrita entre as 3h00 e as 6h00 na própria cama. A minha escrivaninha é o travesseiro da minha mulher”, explica sorridente.O antigo agricultor diz que se inspira “no próprio trabalho, na vila em que cresceu, na vida, na transformação dos tempos, nas gentes e nas memórias” e que os versos lhe vêm à cabeça de “forma espontânea” e que por isso, muitas vezes, fala a versejar.Albertina Pato é natural de Samora Correia. Tem 84 anos e diz que já cresceu com a poesia nos genes. “A minha veia poética deve vir do meu pai. Lembro-me de ser miúda e adormecer a ouvi-lo recitar quadras”, conta-nos. Confessa que em jovem “guardava a poesia na gaveta” e que só depois de amadurecer começou a mostrar ao mundo a sua obra, tendo já vários livros publicados. Os versos que escreve são baseados na sua própria vida e nos episódios que passou. “Eu escrevo todos os dias, sejam coisas tristes ou alegres”, sublinha. É uma poesia mais intimista, que nos fala das memórias da infância, dos amores, da terra natal, das paixões ou do sofrimento da ida dos filhos para o Ultramar: “O meu menino virá num dia cheio de sol/ Será o amanhecer a crescer, jamais ficarei só. / O meu menino virá e espalhará neve nos meus cabelos/Iremos jogar às pedrinhas, para aliviar penas minhas./ Com o meu menino irei, à descoberta de novos horizontes/ Olharemos a natureza, as estrelas, /O sol com os seus raiozinhos e a água a correr nas fontes. / O meu menino virá iluminar a minha vida/Será um raio de sol, que deixará toda a minha dor, adormecida.Além da homenagem o encontro de poetas populares foi também um espaço de convívio e de oportunidade de divulgação para novos “escultores da palavra”. Vitalina Loureiro tem 69 anos e diz que a inspiração que a fez “sair da gaveta” chama-se Albertina Pato, que a convenceu a participar nesta iniciativa. A moradora em Alverca diz que tinha vergonha e medo de enfrentar as pessoas. “Para ir ao palco toda eu tremia”. Neste dia, apesar de já não ser a primeira vez, confessa que ainda alcançou o palco com nervosismo.Tal como afirma Artur Ferreira a poesia é como os cogumelos - nasce onde menos se espera. “Por vezes é venenosa, mas também pode ser uma boa terapêutica de curas sociais”, explica. O natural de Alverca considera que também é papel dos poetas populares “despertar a consciência para realidades que às vezes nos passam um bocadinho ao lado”.A vereadora da cultura aproveitou o momento para expressar na “simbologia de um gesto” a importância que merece a palavra dos poetas. “É uma homenagem a duas figuras do concelho que ergueram poeticamente as palavras simples dos nossos quotidianos e as transformaram em arte”, explicou Maria Gabriela Santos. O encontro já está no calendário do programa cultural da região, como sublinha o escritor Domingos Lobo. O responsável pelo encontro de poetas considera que a iniciativa é “um estímulo, até para os jovens que de momento estarão a iniciar-se e a escrever as suas coisas”. Quanto ao projecto de reunir uma antologia dos poetas populares do Ribatejo, Domingos Lobo explica que é complicado. “Há muitos poetas. Cerca de 450 só no distrito de Santarém, o que torna difícil fazer uma antologia abrangente e terá de contar igualmente com o apoio das outras câmaras municipais”.
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