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Ousado Manuel Serra d’Aire

Ousado Manuel Serra d’Aire

Quero aqui deixar uma manifestação de solidariedade interge-racional aos alunos de uma escola de Alpiarça que, há uns dias, foram obrigados a comer ao almoço ovos mexidos com salsichas e batata frita de pacote devido a uma avaria no sistema de gás da cantina escolar. Só Deus sabe o que lhes terá custado engolir aquela refeição improvisada, quando possivelmente estariam à espera de uma posta de abrótea cozida com couves ou de umas batatas à Braz com aroma a bacalhau. Eu, que já passei por isso, sei o que custa. Ânimo rapazes, não se deixem traumatizar. E rezem para que o gás nunca mais falte no fogão, pois para a próxima pode calhar-vos pizza ou hambúrgueres…A vida não está fácil também para os miúdos de Vialonga que ensaiam música nas casas de banho, por falta de espaço. Quero dizer-lhes que não desanimem e tenham consciência que já muita obra de arte nasceu com uma sanita e um autoclismo por companhia. E não é necessário sequer recorrer ao exemplo de Jim Morrison, vocalista dos The Doors, que gravou a voz para algumas canções numa casa de banho. Basta ler as pérolas literárias escritas nalgumas portas de WC para perceber que aqueles são, por excelência, locais de arte.Insubmisso Manel temo pelo futuro desses jovens e também pelo futuro do nosso querido país após 20 de Março. O mundo não acabou no ano 2000, mas Portugal pode acabar a 20 de Março. Para esse dia está marcada uma iniciativa sugestivamente chamada “Limpar Portugal” e, depois dela, não sei o que restará. Mas tenho receio que nem nós fiquemos cá para contar a história se o objectivo for cumprido. O que mais me impressiona nesta campanha é que diz claramente com o que podemos contar, coisa que políticos, banqueiros e outros artistas de reconhecidos méritos na arte da limpeza nunca disseram claramente. E se estes, sem grandes alaridos, limpam que se fartam, imagina agora os outros que dizem ao que vêm…Já tenho as galochas calçadas há mais de um mês e as cheias não há meio de aparecerem. Adoro as reportagens televisivas quando o Tejo mija fora do penico. Ao pé dessas peças, as reportagens do inenarrável Artur Albarran “algures na Arábia Saudita” aquando da primeira Guerra do Golfo são exemplos de contenção, de rigor e de lucidez. Infelizmente não me parece que venhamos a ter mais desses delirantes momentos este Inverno. Esta história das cheias que antes de o ser já eram faz-me lembrar a da pandemia da gripe A. Da histeria hipocondríaca ao eclipse quase total mediaram poucas semanas. E agora já se discute por que se comprou tanta vacina e por que se lavou tanto as mãos e por que se tossiu e espirrou tanto para os cotovelos. O mesmo faço eu em relação às galochas e às bóias que comprei na loja do chinês assim que ouvi uma jovem repórter à borda de água a falar em terras inundadas e estradas cortadas. Quem me manda ser um Maria vai com as outras?Beijinhos à prima do Serafim das Neves
Ousado Manuel Serra d’Aire

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