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Maria João Catrola

Maria João Catrola

36 anos, advogada, Santarém

A advogada Maria João Catrola tem 36 anos e escritório em Santarém, onde reside. Recusa levar trabalho para casa e é à filha, de quatro anos, que dedica o fim-de-semana. É uma romântica inveterada, apaixonada por todo-o-terreno que não troca a praia por outros ambientes. Seja Inverno ou Verão.

Sou totalmente ribatejana. O meu pai é de Almeirim e a minha mãe de Santarém. Nasci a 25 de Junho de 1973 em Lisboa porque na altura o meu pai estava colocado no Tribunal de Cascais. Nesse dia as parteiras da zona decidiram fazer greve. A minha mãe percorreu quase Lisboa toda e foi só numa clínica em S. Jorge de Arroios que a aceitaram. Sentou-se na escada e disse que não saía mais dali.Tenho duas irmãs gémeas. Uma seguiu o caminho do meu pai. É juíza. Outra o da minha mãe. É professora de português e francês. A minha irmã começou a estudar para o Centro de Estudos Judiciários estava eu na faculdade. Não me lembro de a ver vestida para ir tomar um café durante esses seis meses. E isso assustou-me terrivelmente. Todos os anos, desde que acabei o curso, me inscrevo no Centro de Estudos. O meu pai diz que qualquer dia entro por usucapião. Uma vez cheguei lá e fiquei a olhar para o edifício antigo, cinzento. Em vez disso fui às compras. A vida de um advogado é muito diferente da vida de um juiz. O juiz tem que saber muito mais. Os advogados têm aquela tendência de advogado de tentar distorcer um bocadinho para salvaguardar os interesses dos clientes. Há advogados que se especializam numa determinada área, coisa que acontece muito em Lisboa e não aqui. Temos que fazer um pouco de tudo. A minha mãe mudou 17 vezes de terra com o meu pai. O advogado escolhe a cidade onde quer advogar e senta-se e compra uma casa.Resido em Santarém com a minha filha. Sou divorciada. Descobri recentemente que afinal tenho jeito para a cozinha e, sobretudo, que gosto de cozinhar. Sempre gostei de dar jantares lá em casa, mas até há pouco tempo comprava a comida. Gosto de cozinhar, gosto de pôr uma mesa bonita à luz de velas e com música de fundo. Um dos meus defeitos é ser demasiado romântica. Não consigo chegar ao escritório antes das 10h30. Ultimamente a minha filha tem sido picada pelo bicho do sono. Acorda tardíssimo. Nós temos o protocolo de tomar o pequeno-almoço sentadas no tapete encostadas à cama dela. Ela bebe o leite com chocolate e eu leite com café. Cada uma come as suas bolachas a ver o Canal Panda. Os meus pais moram a quatro casas do infantário e vão buscá-la. Eu tento lá estar às 19h000, mas tenho que adaptar-me aos horários das pessoas que trabalham. Dedico o fim-de-semana à minha filha. Não levo trabalho para casa, mas houve um dia que levei. Estava a fazer os estatutos de uma Instituição Particular de Solidariedade Social. Já ia na página 53 quando desapareceu tudo do computador. E o processo tinha que dar entrada no outro dia. Tive que levar o computador para casa. Brinquei com a minha filha e fui deitá-la, mas depois levantei-me para trabalhar. Deitei-me às 06h45. Devo ter dormido uma hora e pouco. O meu tempo é para ela agora. Comprei um carro e uma casa. E por isso tive que fazer cortes: vendi o jipe. Nos dias em que as coisas correm pior sinto a falta do meu jipe. Quando estava mais enervada subia e descia um morro que tem umas antenas na Rua O. É melhor que qualquer comprimido. Sou adepta de todo-o-terreno. Fui tentar acompanhar de longe o percurso do Lisboa-Dakar, mas parti o bloqueio do diferencial. Fiquei pouco depois de Marrocos. O ano passado fui obrigada a tirar três semanas de férias. A minha filha passou o Inverno doente. O otorrino e a pediatra disseram-me, sem falar um com o outro, que ela precisava de praia. Antes de me dizerem isto deviam dar-me um cheque para pagar as férias. Um mês para mim era impossível quer por causa do trabalho quer financeiramente. Fui para o Algarve e ainda consegui tirar quatro dias e fui com ela para a costa alentejana. Faço sempre férias na praia. Adoro praia no Verão e no Inverno. Só fui duas vezes para a Serra Nevada. O melhor que há para o negócio da neve é não me terem lá. Não tenho o mínimo jeito. Mudei duas vezes de professor, mas já cheguei à conclusão que o mal é mesmo meu. O meu lema de vida é uma frase de Fernando Pessoa. Apanho cada uma das pedras que encontro no meu caminho. Um dia vou construir um castelo. Nada me deita abaixo. Devemos ter esta atitude. Também gosto das palavras de Dalai Lama. Há pessoas que vivem como se nunca fossem viver e que morrem sem nunca ter vivido. Ana Santiago
Maria João Catrola

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