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Carlos Carvalheiro diz que o fracasso proporciona as melhores experiências de vida

Jantar/ertúlia no Martinho da Arcada, em Lisboa, para fazer propaganda ao Grupo Fatias de Cá juntou cerca de uma centena de amigos
O grupo de teatro Fatias de Cá tem um encenador que já leva 30 anos de actividade teatral. Carlos Carvalheiro é encenador e actor de um grupo de teatro que realiza a sua actividade por todo o país e tem no Convento de Cristo, em Tomar, o seu epicentro. Foi lá que o grupo começou a sua primeira aventura e teve o seu primeiro fracasso ao tentar encenar uma peça relacionada com a Ordem dos Templários e a Festa dos Tabuleiros. “Fizemos três espectáculos que foram três fracassos e investimos tanto naquela peça que até nos emocionamos. Só por isso valeu a pena. O fracasso é a melhor experiência de vida que podemos viver”, afirmou Carlos Carvalheiro num jantar/tertúlia que se realizou em Lisboa, no restaurante Martinho da Arcada, que juntou cerca de uma centena de convidados, entre eles gente conhecida e amiga do Fatias de Cá como foi o caso de Fonseca e Costa e Carlos Antunes. Rodeado de um grande grupo de actores que vestem a camisola e “ainda pagam” para fazer teatro, Carlos Carvalheiro tem uma boa explicação para a capacidade de mobilização de tanta gente. “O amor é uma palavra difícil mas a generosidade que há no amor serve para explicar tudo sem palavras. No nosso grupo e nas nossas peças as pessoas jantam e depois fazem teatro e no fim recebem aplausos. E a sensação que se sente nos bastidores, dependendo da forma de ser de cada um, é sempre uma experiência que marca as nossas vidas. E assim se faz este milagre de mobilização de actores para as nossas peças que não é facilmente explicável mas que está à vista de todos”.Com várias peças em cena Carlos Carvalheiro diz que adora trabalhar em espaços alternativos, depois de os tornar majestosos, como é o caso neste momento do palácio Sotto Maior, na Figueira da Foz, e foi o caso recente da Pedreira do Galinha, do Castelo de Almourol e de uma destilaria em Torres Novas. “Adaptar velhos espaços e aproveitá-los para actividades culturais é muito mais sério e honesto que fazer cine-teatros como foi política de alguns governantes como o Carrilho. Só estragaram dinheiro. Mas isso às vezes paga-se muito caro. Na destilaria da Brogueira fizemos mais de uma centena de espectáculos. Tivemos poucos espectadores, é verdade, aquilo fica longe da civilização embora a poucos quilómetros da auto-estrada, mas o prejuízo foi uma pipa de massa; Ficamos com mais de trinta mil euros de dívidas”.Carlos Carvalheiro aproveitou a embalagem ao falar de dinheiro e de falta de apoios “que nunca chegam porque é mais importante construir cine-teatros”, para dizer que tem muito más experiências na relação com algumas instituições, nomeadamente a Câmara de Torres Novas, que gasta um milhão para sustentar a programação do Teatro Virgínia e só teve 500 euros para patrocinar a montagem naquele concelho de um espectáculo do Fatias de Cá.Carlos Carvalheiro já encenou e representou dezenas de espectáculos ao longo destes últimos anos mas é sempre nos espectáculos fracassados, ou naqueles que em certas alturas foram um fracasso, relativamente ao público, que gosta de por o acento. “Gastámos uma pipa de massa para encenar ‘O Perfume’ e depois não obtivemos autorização. Às vezes vendemos espectáculos para certos grupos mas era melhor que não nos procurassem. São dois exemplos apenas. Mas a encenação de grandes textos como as Ligações Perigosas, Rapariga com Brinco de Pérola, Ricardo III, Nome da Rosa e T de Lempika fazem o orgulho de Carlos Carvalheiro e dos seus mais directos colaboradores. É a pensar neles e numa escola de novos actores, que ajudou a criar, que o grande objectivo a breve prazo é a encenação do D. Quixote.“Aqui neste restaurante somos cerca de oitenta e não poderíamos ser mais porque o restaurante não leva mais gente. Os espaços onde fazemos teatro também são assim: grandes ou pequenos cabem sempre lá oitenta pessoas. Multiplicados por muitos dias do ano temos cerca de doze mil espectadores. Podíamos tentar concentrar essa gente em menos espectáculos e rentabilizar a coisa. Mas o que a gente gosta é de andarmos a moer-nos uns aos outros todas as semanas”, confessou, numa conversa que durou cerca de uma hora e que serviu para fazer a propaganda do Fatias de Cá em Lisboa.

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