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“Não sou presidente de câmara para cuidar da minha imagem mas para desenvolver o Cartaxo”

“Não sou presidente de câmara para cuidar da minha imagem mas para desenvolver o Cartaxo”

Paulo Caldas diz que os objectivos apresentados aos eleitores são para cumprir integralmente

O presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, Paulo Caldas, não tem receio de polémicas nem tem papas na língua. Diz que os objectivos que traça para o desenvolvimento do seu concelho são cumpridos independentemente dos “quereres e dizeres de alguns membros do seu partido, o PS e assegura que não hipotecou o futuro com os empréstimos contraídos para investimentos. Pelo meio acusa o ex-presidente Conde Rodrigues, actual secretário de Estado adjunto e da Administração Interna, de ter usado a câmara como trampolim para as suas ambições políticas.

O senhor parece ter mais opositores políticos no seu partido que na oposição.Essa circunstância verifica-se em relação ao Paulo Caldas e em relação a muitos outros políticos, independentemente dos partidos a que pertencem. Aquilo que infelizmente existe na nossa democracia é um certo grau de deslealdade e de falta de camaradagem que faz com que alguns responsáveis públicos tenham sempre alguém que lhes morde mais os calcanhares dentro da sua estrutura partidária do que fora.Aqui no Cartaxo, a avaliar pelo que se tem passado nos últimos três ou quatro anos, o senhor já não deve ter calcanhares.Eu sempre trabalhei com as minhas equipas com objectivos muito bem definidos relativamente ao que se pretende para o concelho, independente daquilo que são os quereres e os dizeres do partido e de quem está dentro do partido. Para mim o importante é a concretização desses objectivos. Em termos de equipas o senhor é um campeão de remodelações. Só não substitui os vereadores da oposição porque não pode. Neste último mandato, o que aconteceu no Cartaxo, aconteceu em todo o distrito. Abrantes, Santarém, Almeirim… Quem está no poder deve exercê-lo e deve fazê-lo com uma equipa da sua confiança e que integre os melhores e mais capazes. Só assim pode atingir os objectivos traçados. Eu não estou na política preocupado com a minha imagem. Estou a exercer as funções de presidente de câmara, tenho a minha equipa, que integra vereadores, presidentes de junta e outros elementos e quero o desenvolvimento do meu concelho. Quanto às alterações nas minhas equipas, não aconteceram apenas no último mandato. Logo no primeiro mandato fiz alterações de equipa. No segundo também.A turbulência política estimula-o?Com mais ou menos turbulência, considero que tenho contribuído para a modernização do concelho. Havia um conjunto de equipamentos de que se falava há muito tempo que hoje está feito. O nó directo de acesso à A1 é uma realidade quando antes era uma ilusão. Temos acessibilidade à A1 através do nó de Aveiras. A ligação ferroviária só agora é que se começou a desenvolver-se até ao Setil. Tínhamos a ferrovia a passar aqui mas os nossos cidadãos não a podiam utilizar e as nossas mercadorias não tinham escoamento eficaz. Temos terrenos para áreas empresariais já comprados e com planos de pormenor devidamente aprovados, quando antes a única que existia era a de Vila Chã de Ourique/Cartaxo. E outras ambições antigas como o centro cultural, o estádio municipal, as circulares urbanas, foram feitas. Obras antiquíssimas que estavam para desenvolver, como a recuperação do mercado ou da praça de touros, hoje não são ilusões, são compromissos concretizados.Não é isso que tentam fazer os presidentes de câmara? Tenho sido um grande lutador pelas causas do concelho e pelos objectivos nestes dez anos como presidente de câmara. Terei oportunidade de colocar estas realidades em papel sob a forma de um apanhado que estou a desenvolver para mostrar o que era o concelho há dez anos atrás e o que é hoje. E aquilo que se verifica é que o concelho do Cartaxo cresceu. Desenvolveu-se. Abriu-se ao exterior.Conde Rodrigues utilizouo município do Cartaxo como trampolim para uma carreira políticaO Cartaxo não existia antes do Paulo Caldas? Há diferentes posturas. Em relação aos presidentes de câmara tivemos dois autarcas puros e duros. Homens cuja ambição política terminava nos limites do Cartaxo e que trabalharam de uma forma devotada. Renato Campos infraestruturou o concelho e cumpriu a difícil tarefa de, em tempos financeiros complicados, criar as condições básicas. Abriu caminhos, instalou a electricidade fez as infra-estruturas de água e saneamento no seu patamar mais básico. O outro autarca que muito respeito e de quem fui vice-presidente, com muito orgulho, foi Francisco Pereira, que apenas superintendeu a gestão da câmara durante dois anos. Era um homem do terreno. Excelente autarca e com grande pulso, quer como presidente, quer antes como vice-presidente. E o Conde Rodrigues?O Conde Rodrigues não foi um autarca propriamente dito. O Conde Rodrigues passou pelo município do Cartaxo. Toda a gente, desde o primeiro momento, sentiu que Conde Rodrigues utilizou o município do Cartaxo como trampolim para uma carreira política ambiciosa. Uma carreira política onde está a dar provas. Ele é inteligente e um animal político. Passou pelo município do Cartaxo sem fazer grande obra. O seu objectivo era alcançar um patamar político diferente.Para si o que restou?A difícil tarefa de aproveitar, na íntegra os fundos comunitários e fazer algumas das obras que estavam adiadas há anos. No início o seu trabalho não era tão contestado como agora.Conquistei três maiorias absolutas. A população nunca se engana.Está a fazer o seu último mandato. Há um líder que sai e depois há-de aparecer uma nova liderança, quem sabe se ela não estará já a ser trabalhada, para que a população continue a confiar no PS para executar os projectos ambiciosos que tem. Quem sabe se a liderança não estará já a ser preparada? Quem sabe? O senhor está afastado dessa preparação de uma nova liderança?Não significa que eu esteja de fora. Eu serei um bom presidente de câmara até ao fim do meu mandato e a partir do momento em que deixe na presidência da câmara um presidente que seja tão bom ou melhor que eu. Tem essa obrigação? Estamos a falar de poder autárquico e não de poder monárquico. O senhor não tem obrigação de preparar o futuro rei.O Cartaxo, fruto do desenvolvimento que tem tido, merece ter na presidência da câmara, depois do Paulo Caldas, alguém que seja tão bom ou melhor…Isso é uma frase feita. Todos os municípios merecem bons autarcas.Tem pena de não se poder voltar a recandidatar ao cargo? Não. Mesmo sem a actual lei eu já considerava que não faria qualquer sentido recandidatar-me no final deste mandato.Provavelmente acabaria por se recandidatar. Houve tantos presidentes de tantos concelhos que disseram isso e que depois, por circunstâncias várias e pressões acabaram por o fazer…Mas não faria sentido recandidatar-me. Sou um defensor da renovação dos autarcas e dos políticos em geral. Considero que seria útil para o país que fosse impossível ser deputado mais do que três mandatos seguidos. E quem diz deputado ou autarca diz director-geral. No caso de cargos de nomeação política deveria existir uma limitação temporal. Temos que dar lugar a uma nova geração. E também acho que há políticos a mais e que isso é prejudicial para o país. Menos deputados?Cem deputados conseguiriam fazer aquilo que é feito actualmente pelos actuais duzentos e trinta, desde que estivessem em regime de exclusividade. O país tinha muito a ganhar com isso. E podia pagar-lhes melhor. Podia pagar melhor a competência. Obviamente que haveria mais rivalidade para chegar a esses lugares mas essa rivalidade daria lugar à escolha dos melhores.Deixe-me fazer de advogado do diabo. E a experiência que se ganha ao longo de 10 anos à frente de uma câmara? Deita-se para o lixo? Nada impede um bom presidente de câmara que se candidate como deputado, por exemplo. É isso que vai tentar fazer?Não me estou a referir ao meu caso em particular.Mas já deve ter pensado no que vai fazer. Estou a consolidar a minha vida académica. Espero terminar o doutoramento em gestão antes de terminar o meu mandato. Aquilo que vejo é o meu regresso à vida privada na área da banca com competências reforçadas sob o ponto de vista da gestão e também da gestão pública. Mas o futuro a Deus pertence.“Ter dívida e ter obra é justificável”Os senhores presidentes de câmara falam de milhões como quem fala de tostões mas esse dinheiro vem dos bolsos dos contribuintes, mesmo quando se trata de fundos comunitários.Ter dívida e ter obra é justificável. Ter dívida e não ter obra é porque algo de errado se passa. Isso é óbvio.Quando assumi a presidência da câmara tínhamos uma dívida de cerca de 10 milhões de euros, juntando os empréstimos de médio e longo prazo, com o curto prazo.Triplicou ou quadriplicou desde então?Triplicou. Mas posso dizer que, desde 2002 até agora, já fizemos 125 milhões de euros de investimentos. Quando eu cheguei tínhamos, em média, menos de um milhão de investimentos por ano. O Cartaxo cresce e desenvolve-se. A dívida triplica mas hoje os investimentos do município que estão à vista.Não hipotecou o futuro do município como dizem alguns políticos da oposição?Eu e as minhas equipas fomos os executivos que mais património adquirimos para o município. Cerca de 3 hectares na zona industrial de Vila Chã de Ourique/Cartaxo. Dois hectares em frente à adega cooperativa. Mais 3 hectares que provêm do novo parque de máquinas. Adquirimos 6 hectares por 150 mil euros para o novo campo da feira. Fala-se muito que vendemos isto ou que queremos vender aquilo mas a grande verdade é que eu até agora não vendi nada. Só comprei. De onde vem o dinheiro para as obras?Não vendemos ilusões. Só conseguimos investimentos através de dívida que cresce mas também da conquista de fundos e negociações com administração central. Mas digo-lhe uma coisa. A obra que existe, muito mais que compensa as dívidas que cresceram desde 2002 para cá. Isso é uma verdade inabalável. Também tem uma justificação. Conseguimos fazer tanta obra porque também conseguimos conquistar muitos fundos comunitários e apoio financeiro, nomeadamente através de contratos-programa com ministérios. No QCA de 2000 a 2006 conseguimos cerca de 20 milhões de euros. Corresponde a 60 por cento de tudo o que se conseguiu conquistar a fundo perdido desde 1986 com o FEDER tradicional até aos nossos dias. No QREN já conseguimos conquistar 22 milhões e começou em 2007 e vai até 2013. Alguém vai ter que pagar a dívida.Aproveitando um pouco a minha experiência bancária, o que fizemos sempre ao longo dos anos, foi sempre considerar a dívida com prazos de maturidade curtos. A nossa dívida de médio e longo prazo, que é de 23 milhões de euros, está com uma maturidade de 10 anos. Vai ser paga num prazo de 10 anos mesmo incluindo os 13 milhões de euros correspondentes ao saneamento financeiro. Ou seja, o prazo de pagamento é até 10 anos, quando poderíamos contrair dívida a 15 e a 20 anos. Por outro lado os acordos de pagamento existentes têm maturidades de 3 anos. Agora foi-nos sugerida uma maturidade de 8 anos. A isto chama-se ter dívida sem hipotecar gerações futuras. Temos capacidade para solver esta dívida.Não têm dificuldades?O que eu posso assegurar é que o município do Cartaxo tem uma situação gerível do ponto de vista da sustentabilidade da sua dívida. Prazos de maturidade curtos e uma dívida pagável.Quem não deve achar muita graça a estas conversas técnicas são os pequenos credores a quem o dinheiro faz imensa falta. Os credores têm consciência que nós durante dois anos estávamos à espera do dinheiro da concessão das águas e sanea-mento ao consórcio Aquália/Lena para podermos suprir os pequenos pagamentos. A primeira coisa que vamos fazer quando recebermos o dinheiro das águas, que se Deus quiser há-se ser daqui a um mês e pouco, é pagar todas as dívidas inferiores a 25 mil euros. Já disse o mesmo há 2 anos…Mas desta vez o contrato já foi aprovado pelo executivo, vai à Assembleia Municipal e é assinado. “Quando a obra estiver feita ninguém se vai lembrar dos tapumes”O final do anterior mandato ficou marcado pela colocação de tapumes numa zona – Parque Central - onde não havia obras e onde ainda não há obras. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Foi a primeira obra que o presidente Paulo Caldas fechou em dez anos. Foi, em primeiro lugar, por uma questão de segurança… Se não há obra não há problemas com a segurança.Aquela obra estará no terreno até ao final de Fevereiro. No terreno já ela está desde Agosto de 2009, altura em que foram colocados os tapumes.Até ao fim de Fevereiro estará em franco desenvolvimento.Mesmo sem visto do Tribunal de Contas?Vai ter visto.Por vezes há atrasos nos vistos do Tribunal de Contas.Isso não impede que a obra se desenrole até lá. Como sabe a lei permite que haja o desenvolvimento de alguns passos da obra. Há possibilidade de concretizar parte de obra ainda antes do visto.A comparticipação para a obra, no valor de 2,7 milhões de euros, só foi decidida em Dezembro. Porque colocou os tapumes em Agosto?Eu estava convencido de uma coisa que, hoje, me levaria a fazer exactamente o que fiz na altura. Hoje tornaria a colocar os tapumes da mesma forma. Eles foram colocados com o propósito claro de demonstrar que aquela obra ia para o terreno efectivamente. E com o objectivo de demonstrar a maturidade junto de quem dá o dinheiro. Queríamos mostrar que aquela obra era, efectivamente, para concretizar. Tal como a ribeira, que faz parte integrante da mesma obra e que também tem os tapumes. O senhor nunca precisou de colocar tapumes para demonstrar maturidade em relação a outras obras.Estamos a falar numa obra de cerca de 5 milhões de euros. É a obra mais cara do mandato feita de uma só vez e é a mais específica, ou seja, é uma obra de regeneração urbana. O pacote da regeneração urbana não está no pacote de contratualização do QREN. Tivemos que conquistar este dinheiro, tal como Santarém, Almeirim e Rio Maior, dentro da regeneração urbana, na CCDR do Alentejo. Não teve a ver com os fundos do QREN.Como cidadão também não devia gosta de ver aquilo aliEsta questão dos tapumes foi utilizada politicamente. O mais importante vai ser que daqui a seis meses as pessoas já esqueceram os tapumes. Pela primeira vez houve alguém que teve a coragem de levar para a frente um projecto que há mais de 25 anos anda a ser falado no município, que é o projecto da união dos jardins. Pela primeira vez alguém teve a coragem de o fazer. Pela primeira vez se vai fazer um parque de estacionamento subterrâneo que tanta falta faz, no centro da cidade. E uma zona de lazer. O projecto do professor Manuel Salgado vai devolver ao coração da cidade a sua verdadeira dignidade e dar-lhe outra funcionalidade. E à ribeira do Cartaxo também vai dar condições que nunca teve. Nunca foi investido de uma só vez um milhão de euros na ribeira do Cartaxo. Isso é importante. O município já tem dinheiro para pagar a sua parte da obra, cerca de dois milhões de euros?Esse dinheiro já existe.Choveu dinheiro no Cartaxo ou contraiu mais algum empréstimo?Uma parte através de financiamento bancário e outra de recursos próprios da autarquia.Uma parte tinha que vir sempre da autarquia.São dez por cento. Está na lei.
“Não sou presidente de câmara para cuidar da minha imagem mas para desenvolver o Cartaxo”

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